CHUSJ integra projeto europeu para capacitar médicos na prescrição de antibióticos

23 de Novembro 2023

O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) lidera, em Portugal, o projeto europeu Drive-MAS, que visa capacitar as equipas existentes nos hospitais que dão apoio à prescrição de antibióticos, descreveu hoje o diretor do Serviço de Medicina Intensiva.

Recordando que existe em Portugal, desde 2013, um programa da Direção-Geral da Saúde de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências aos Antimicrobianos que determina a existência de equipas que fazem aconselhamento nos hospitais sobre esta matéria, José Artur Paiva apontou à Lusa que em causa “não está deitar fora a equipa antiga”, mas sim “capacitar a equipa que existe”.

“Temos de educar os médicos em antibióticos e infeções, no que merece tratamento com antibióticos ou não, quais são os antibióticos que se devem selecionar para determinadas coisas (…). Mas não é só explicar a molécula do medicamento, é compreender que muitas vezes não é o desconhecimento que leva a uma prescrição não perfeita, são outros fatores: o medo, a falta de apoio, a pressão”, disse José Artur Paiva.

À Lusa, o médico do CHUSJ contou que o Drive-AMS – sigla para ‘antimicrobial stewardship’, em português ‘gestão antimicrobiana’ – consiste em capacitar as equipas hospitalares de apoio à prescrição de antibióticos, dando-lhes ferramentas da área da psicologia, do comportamento e da ciência de implementação que permitam que as suas intervenções sejam mais efetivas e eficazes nos diversos serviços.

Além de Portugal, participam no Drive-AMS instituições dos Países Baixos, Bélgica (Antuérpia), Grécia, Roménia e Lituânia.

Em Portugal, o alargamento do programa a nível nacional está a acontecer no CHUSJ que já o está a implementar no serviço de Medicina Intensiva e na Medicina Interna, com o objetivo de reduzir o uso de um fármaco que dá muitas resistências e é usado para tratar pneumonias.

“E estamos a pensar alargar isto para a área da infeção associada à cirurgia”, acrescentou José Artur Paiva.

Já à escala nacional, o CHUSJ convidou outros dois hospitais – Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (CHTS) e Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto – para implementarem a filosofia do Drive-AMS.

No CHTS, disse, o programa está a ser aplicado nas mesmas especialidades do São João, enquanto no IPO do Porto é no tratamento da febre no doente que não tem neutrófilos.

Seguir-se-á a seleção de mais cinco hospitais até ao final do ano, e em janeiro será feito um curso no Porto.

“O objetivo é chegar a todos os hospitais”, afirmou José Artur Paiva que é também diretor nacional do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências aos Antimicrobianos (PPCIRA).

Este programa, financiado pelo EU4Health, vai ao encontro de uma preocupação mundial sobre o aumento da resistência das bactérias aos antibióticos.

“Todos os hospitais deviam ter equipas de apoio à prescrição de antibióticos, peritos que deviam ir aos serviços e sensibilizar para a boa prescrição de antibióticos. Na pandemia estas pessoas foram sugadas para o trabalho com a covid-19. Desestruturou-se essa rede de apoio e o nível de aconselhamento desceu. Com o Drive-AMS queremos recapacitar essas equipas”, explicou o diretor.

Em Portugal, referiu, estas equipas existem em cerca de 80% dos hospitais.

José Artur Paiva explicou que “a ideia deste programa é dar a pessoas que sabem muito de antibióticos e de infeção conhecimento na área da psicologia e da análise de comportamento” para que se alcance um “casamento ideal”: “o identificador dos problemas e construção de um plano para resolver esses problemas”.

Isto porque, além de um eventual desconhecimento, percebe-se agora que há outros fatores, nomeadamente da área comportamental, que podem levar a prescrição desadequada.

“O medo de perder o doente porque não se dá o antibiótico, a pressão do doente ou do familiar do doente, o ambiente de discussão dentro o serviço”, enumerou, acrescentando que “é essencial perceber melhor os comportamentos para levar os médicos a prescrever melhor”.

“Portanto, tem de se dar mais apoio”, resumiu.

A equipa é liderada por José Artur Paiva, inclui ainda Nuno Pereira e Francisco Almeida (CHUSJ), e conta com o apoio de elementos do St Radboud UMC (Países Baixos) e da Universidade de Antuérpia (Bélgica).

O programa pretende contribuir para as metas europeias e nacionais de redução do uso inapropriado e combate à resistência aos antimicrobianos.

LUSA/HN

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