“Quando há afluxos muito grandes, como tem acontecido nalguns dias, é mais difícil que o atendimento seja feito de forma pronta”, disse o governante em Coimbra em declarações a jornalistas quando questionado sobre a pressão a que estão sujeitas as unidades hospitalares.
Manuel Pizarro voltou a apelar às pessoas para que se desloquem às urgências apenas quando estiverem “gravemente doentes” e contactem previamente a Linha Saúde 24, que, desde o dia 26 de dezembro, já recebeu mais de 62 mil chamadas.
Segundo o ministro, que falava à margem das cerimónias de receção da formação de Residência Farmacêutica e Internato Médico, o período crítico nas urgências hospitalares por causa da gripe sazonal deve manter-se durante as duas próximas semanas, “ainda assim atenuado por um belíssimo programa de vacinação”.
Manuel Pizarro disse que o Governo está a procurar “criar mecanismos de atendimento alternativo” através dos cuidados de saúde primários, com a abertura e prolongamento de horário de atendimento dos Centros de Saúde.
“Temos de organizar o sistema com mudanças estruturais que são essenciais e criar alternativas para resolver um problema crónico do SNS, que é excesso de afluxo às urgências que existe há décadas e nos deve preocupar”, sublinhou.
O governante salientou que está em curso uma “profunda” reforma do SNS, com a criação de 222 Unidades de Saúde Familiar (USF) e 31 novas Unidades Locais de Saúde (ULS), que vão substituir 100 organismos, cujas mudanças “demoram tempo” a ser implantadas.
“É um processo continuado. Estas mudanças não produzem todos os seus resultados no dia seguinte à sua implementação. Precisamos seguramente de meses para conseguir consolidar o modelo que reserve o serviço de urgência para quem dele verdadeiramente necessita”, disse o ministro da Saúde.
Salientando que só no último fim de semana mais de 13 mil pessoas foram atendidas nos Centros de Saúde, Manuel Pizarro considerou que a situação nas urgências “teria sido bem mais difícil se isso não tivesse acontecido”.
“Os cuidados de saúde primários são a porta certa para se entrar no SNS, no qual podemos e devemos combinar qualidade com proximidade e ter uma articulação virtuosa com os cuidados de nível hospitalar quando isso for necessário”, frisou.
Associado a esta ideia, o ministro da Saúde disse que não se pode adiar por mais tempo a reforma dos serviços de urgência, que apelidou de “doença crónica” do SNS, por ter um afluxo “excessivo”.
“Em 2022, por cada 100 portugueses houve de 63 episódios de urgência, quando a média dos países mais desenvolvidos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) é de 27, menos de metade”, sustentou.
Para Manuel Pizarro, este problema não tem “soluções simples” e nem mesmo a falta de médico de famílias para mais de 1,5 milhão de pessoas, sobretudo no sul e vale do Tejo, é responsável pelo grande afluxo aos serviços de urgências, já que o afluxo “é igual no norte, onde toda a gente tem médico de família”.
“Se não formos capazes de reestruturar o serviço de urgências para que deixe de ser o ponto de entrada no SNS, não conseguiremos tirar partido do conjunto das nossas políticas, porque um dos problemas seríssimos é a hiperconcentração da atenção e da disponibilidade dos profissionais de saúde nas urgências”, disse.
LUSA/HN
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