Entre estas crianças com perturbação do espetro do autismo (PEA) encontram-se dois meninos portugueses, de 4 e 6 anos, cujas famílias viajaram, em junho, até à Roménia para poderem participar no ensaio clínico CORDUS, com o objetivo de avaliar a eficácia do tratamento com células estaminais do sangue do cordão umbilical autólogo (colhido do próprio aquando do nascimento).
A participação das crianças portuguesas foi possível porque as suas famílias optaram pela colheita das células estaminais do cordão umbilical à nascença, utilizando o banco de criopreservação Crioestaminal, que armazenou estas células até ao dia da sua utilização, 14 de junho de 2023, e apoiou na identificação dos ensaios clínicos em curso, bem como no estabelecimento dos contactos com a equipa médica em Bucareste.
Embora os resultados ainda não tenham sido divulgados, o investigador principal do estudo, Felician Stancioiu, assim como os pais das crianças portuguesas, descrevem melhorias: “passados 6 meses após a infusão, o João (nome fictício) tem aumentado a sua capacidade de compreensão e concentração”, destaca a mãe da criança de 6 anos diagnosticada com autismo que participou no ensaio clínico.
Já a mãe do Pedro (nome fictício), de 4 anos, denota “uma evolução positiva no filho”, tecendo também elogios a Felician Stancioui: “é um dos pioneiros a nível mundial a apresentar esta opção terapêutica para o autismo, sendo sinónimo de rigor e de profissionalismo. Ao longo do processo a equipa médica foi-nos dando um feedback constante, havendo sempre lugar para esclarecer dúvidas e preocupações, e estiveram sempre disponíveis para ajudar”.
Desde janeiro 2019, data em que o ensaio clínico teve início, até julho de 2023, foram administradas amostras do sangue do cordão umbilical autólogo a 56 crianças com PEA. Durante este período, foi avaliada a evolução ao nível cognitivo e comportamental, nomeadamente na interação com a família e os colegas, de forma a testar a eficácia deste tratamento.
“Os resultados foram muito bons na faixa etária dos 3 aos 7 anos, onde cerca de 2 em cada 3 crianças com PEA tiveram melhorias claras, especialmente na verbalização, iniciativa, interação social e compreensão”, revela Felician Stancioiu.
Já os jovens com mais de 8 anos não mostraram resultados tão promissores, sendo que apenas 1 em cada 10 mostrou uma melhoria no comportamento.
Estas avaliações foram feitas através de vários questionários específicos, realizados entre os 2 e os 12 meses após os primeiros tratamentos, cujas respostas contribuíram para avaliar o grau de autismo da criança e as suas potenciais melhorias.
Se até aqui a grande maioria destes ensaios clínicos e tratamentos com células estaminais decorriam nos Estados Unidos da América, através de instituições académicas como a Universidade de Duke ou a Universidade de Harvard, a realidade começa agora a mudar. Estes ensaios clínicos inovadores estão a emergir na Europa, podendo traduzir-se em mais oportunidades para as famílias portuguesas.
Exemplo disso são estas duas famílias: “No dia em que fez precisamente 4 anos que o João foi diagnosticado com PEA, chegou a tão ansiada notícia da Crioestaminal – a equipa liderada pelo Dr. Felician Stancioiu, em Bucareste, na Roménia, estava a realizar um estudo sobre os efeitos da aplicação das células do cordão umbilical, e respetivos ensaios clínicos. Podemos afirmar que a esperança renasceu nesse dia”, afirma a mãe da criança de 6 anos.
O processo de envio das células das crianças portuguesas foi assegurado pela Crioestaminal, desde o seu laboratório em Cantanhede até ao hospital de Bucareste, onde decorreu a infusão das células estaminais. O envio foi realizado com recurso a um dry-shipper, um recipiente para transporte, em atmosfera de azoto, de produtos criopreservados, e através de uma empresa especializada em transporte de produtos para utilização terapêutica.
“Estamos muito entusiasmados por contribuir com a libertação destas duas amostras de sangue do cordão umbilical para um ensaio clínico que pode melhorar significativamente o dia-a-dia destas crianças e das suas famílias”, afirma Mónica Brito, diretora executiva da Crioestaminal.
“Foi com o propósito de transformar a vida daqueles que podem beneficiar de um tratamento com células estaminais que a Crioestaminal nasceu há 20 anos”, refere Mónica Brito, concluindo que, “para que isso seja possível, trabalhamos diariamente na criopreservação das células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical, quer para o desenvolvimento de novos medicamentos para tratamentos ainda experimentais, quer para responder a oportunidades como esta”.
PR/HN
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