Segundo dados do estudo da ESTeSC, escola superior do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC), a que a agência Lusa teve hoje acesso, “80% dos lanches servidos aos alunos do pré-escolar e 1.º ciclo apresentam um valor energético superior ao recomendado”, com os lanches da manhã a apresentarem um valor de calorias “quase duas vezes superior ao aconselhado, bem como quantidades desajustadas de proteína e gordura”.
Realizado no âmbito da pós-graduação em Nutrição, Alimentação Coletiva e Restauração da ESTeSC-IPC, o estudo decorreu ao longo de quatro meses e notou que, de acordo com as recomendações, o lanche da manhã de uma criança com idade entre os 03 e os 06 anos não deve exceder 140 quilocalorias (kcal).
Já no caso de crianças entre os 07 e os 10 anos, é recomendado um consumo máximo de 164 kcal.
“Ora, os lanches da manhã servidos naquele município apresentavam, em média, 266,5 kcal, havendo dias em que ultrapassavam as 300 kcal”.
Por outro lado, também a quantidade média de gordura e hidratos de carbono servidos apresentava valores superiores aos aconselhado: 9,5 gramas de gordura, em média, em vez das 4,5 gramas (03-06 anos) ou 5,5 gramas (07-10 anos) máximas recomendadas.
Os hidratos de carbono, onde se incluem os açúcares, quase duplicavam face aos valores recomendados para as crianças mais novas (mais 85%) e representavam mais 58% para os mais velhos, um problema, alegaram os autores do estudo, que se verificava de manhã e se repetia no período da tarde.
“O consumo de refeições intermédias híper energéticas, híper lipídicas e híper glucídicas contribui, a longo prazo, para o surgimento de obesidade e doenças crónicas associadas. Simultaneamente, poderá comprometer a ingestão completa da refeição subsequente (nomeadamente o almoço) com impacto no desperdício alimentar e comprometimento do aporte energético e nutricional diário”, alertou João Lima, docente da ESTeSC-IPC e um dos autores do trabalho.
De acordo com o especialista, citado na nota enviada à Lusa, tipicamente, as refeições intermédias da manhã no município em análise eram compostas por leite, acompanhado por pão com manteiga/queijo ou bolachas, enquanto os lanches da tarde tinham uma composição mais variada, podendo conter frutas/vegetais ou um queque tipo “madalena”.
“Ajustar quantidades (por exemplo, reduzindo o tamanho do pão servido) e o perfil nutricional dos alimentos permitiria equilibrar estas refeições”, defendeu João Lima, recomendando que o lanche das crianças inclua um laticínio, um fornecedor de hidratos de carbono (por exemplo pão, preferencialmente de mistura e não processado, ou, em sua substituição, frutos gordos e oleaginosos) e fruta ou hortícolas.
Os autores destacaram ainda que, na sequência da realização do estudo, o município em causa “realizou algumas alterações interessantes” na composição dos lanches das crianças, substituindo o queque – “um alimento que, além de calórico, é processado” – por pão com manteiga de amendoim, indicou o docente da ESTeSC.
Para além de João Lima, participaram na elaboração do estudo Rita Melo, Ana Lúcia Baltazar, Ezequiel Pinto e Sónia Fialho, tendo sido analisadas as refeições intermédias (100 de manhã e 130 à tarde) fornecidas às crianças no município em questão.
Denominado, em inglês, “Are intermediate school meals a real contribution to improve a healthy and sustainable diet?”, o trabalho da ESTeSC-IPC foi publicado no British Food Journal.
LUSA/HN
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