Manuel Carrageta: “A fundação tem salientado problemas que muitas vezes são ignorados”

23 de Janeiro 2024

De acordo com o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), a instituição tem tido um papel altamente ativo na promoção da saúde cardiovascular. Manuel Carrageta alertou hoje que a principal preocupação dos especialistas é a obesidade.

As declarações do cardiologista surgiram no âmbito da sessão de comemoração do 44º aniversário da Fundação Portuguesa de Cardiologia, decorrida esta terça-feira no auditório do Infarmed.

A sessão contou com a participação do presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Manuel Carrageta; o Vice-presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Carlos Morais e da ex-ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira.

Em declarações ao nosso jornal, o dirigente da fundação fez um balanço “muito positivo” do trabalho que tem sido feito pela Fundação Portuguesa de Cardiologia durante quatro décadas. “Desde o início que sensibilizamos e alertamos a população portuguesa para a importância do estilo de vida saudável, para a deteção precoce, o controlo dos fatores de risco e para os principais sintomas [das doenças cardiovasculares]. Este trabalho refletiu-se nos últimos anos. Tem havido uma diminuição da mortalidade por estas doenças e um aumento da esperança média de vida”.

O cardiologista destacou que a fundação tem salientado problemas que “muitas vezes são ignorados”, como é o caso do problema da saúde cardiovascular nas mulheres. “Havia a ideia que as mulheres sofriam do coração, mas que não morriam do coração. Pensava-se que as mulheres morriam sobretudo de cancro, em particular do cancro da mama. Hoje em dia, já sabe-se que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte da mulher.”

O responsável sublinhou que mais recentemente têm sido feito alertas sobre o impacto da obesidade e das alterações climáticas na saúde do coração, sendo “as vagas de calor e as ondas de frio causas importantes de mortalidade cardiovascular.”

Questionado sobre as áreas que atualmente suscitam maior preocupação dos especialistas, Manuel Carrageta apontou a hipertensão e a obesidade.

“A hipertensão arterial ainda é o principal problema da saúde cardiovascular. Apesar do consumo de sal ter diminuido e o controlo da doença ter aumentado, as complicações associadas à doença continuam a ser um problema. Por outro lado, a obesidade é uma outra preocupação, pois arrasta mais hipertensão, aumenta o colesterol, provoca diabetes, doenças articulares e alguns cancros. Portanto a obesidade é o principal desafio hoje em dia”, afirmou.

Sobre a importância dos 44 anos da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Carlos Morais disse tratar-se de um dia de celebração, mas também de reflexão.

“É um aniversário de maturidade, em que se celebra aquilo que foi feito ao longo de quatro décadas, mas também é uma data de reflexão sobre caminhos futuros. Temos de começar a pensar em novas estratégias para as novas dinâmicas, linguagens e problemas”, disse.

O  Vice-presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia revelou ao nosso jornal alguma das prioridades para 2024. “As doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em Portugal. Portanto, naturalmente que para 2024 a nossa prioridade será intervir para inverter essa situação, alinhados com o Plano Nacional de Saúde que é reduzir em 30% a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis até 2030. É um trabalho de fundo, mas que vai ser feito através do combate dos fatores de risco”.

Atendendo à nova realidade e às novas exigências dos doentes, Carlos Morais defendeu um olhar atento à saúde digital e à nova geração de doentes. “As pessoas estão cada vez mais familiarizadas com as novas tecnologias – os chamados “wearables”, que são os novos dispositivos móveis (relógios e telemóveis) que as pessoas utilizam para monitorizar a sua saúde.”

Alinhada na mesma linha de pensamento dos dirigentes da fundação, Maria de Belém Roseira realçou ao HealthNews que “o poder político tem que atuar coerentemente”, pois “o país ganha muito em apoiar estas organizações”.

De acordo com a ex-ministra da Saúde as sociedades “são um ajudante quase que inestimável para divulgar o conhecimento científico e fazer acontecer. É importante frisar que estas entidades estão de fora e são pessoas que não estão condicionadas a cíclos políticos. São consultores, conselheiros e braços que podem ser usados por parte de quem tem responsabilidade por implementar políticas de saúde”, disse.

Maria de Belém Roseira concluiu que “a saúde é o nosso bem mais precioso”, cabendo a cada um lutar pela sua defesa. “O papel da fundação tem sido a difusão do conhecimento, apoiando os doentes para tomarem as suas decisões”.

HN/Vaishaly Camões

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