Estudo da FMUP pedem atenção aos profissionais de saúde no período perinatal

5 de Março 2024

Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) concluiu que os profissionais de saúde podem gerar riscos para bebés e pais, ao confundir sintomas de perturbação obsessivo-compulsiva no período pós-parto com pensamentos psicóticos, foi esta terça-feira divulgado.

“A perturbação obsessivo-compulsiva (POC) no período pós-parto está associada a obsessões, pensamentos intrusivos, compulsões, mas sem risco para o bebé. Não há necessidade de retirar os pais da presença do bebé, enquanto que quando há um diagnóstico psicótico, que é um diagnóstico muito raro e muito mais grave, há uma necessidade de afastar os pais e o bebé por risco de dano ao bebé”, descreveu a investigadora Inês Ferra.

Em declarações à agência Lusa, a especialista alertou que, no trabalho que levou a cabo, e que inclui a análise a 36 estudos de diferentes países, detetou que “uma grande parte de profissionais de saúde na área perinatal não identificou corretamente sintomas obsessivo-compulsivos no período pós-parto” e que isto constitui “um risco de que essa situação seja interpretada como pensamentos psicóticos ou sintomas depressivos”.

“É muito preocupante, porque são doenças completamente diferentes (…). Um diagnóstico preciso é muito importante porque podemos estar a agravar a ansiedade dos pais que já têm vergonha dos sintomas que têm e ficam com medo de ser afastados dos filhos”, referiu.

Como pensamentos intrusivos entendam-se por exemplo, o passar numa ponte, tendo o bebé ao colo, e pensar que há maior risco em deixar cair o bebé, ou pais que passam horas a lavar o biberão do bebé porque têm medo que o objeto contenha germes.

Outros sintomas são, por exemplo, um pai ou mãe que fica acordado para ouvir o bebé respirar.

“Além da privação de sono, causa sofrimento e pode tornar o pai ou a mãe não funcionais. Mas isto é comum. A grande maioria dos pais apresenta comportamentos intrusivos no pós-parto, o que não equivale a diagnóstico psicótico”, descreveu Inês Ferra.

A investigadora alertou que a POC no período pós-parto “aufere sofrimento” e “afeta a qualidade de vida dos pais”, mas vincou: “Tem tratamento”.

“E é isso que é importante os pais saberem. Pode ser com terapia cognitiva comportamental ou farmacoterapia, mas não há risco para o bebé e isso é algo que tem de ser dito aos pais para ficarem tranquilizados”, frisou.

Com a divulgação deste trabalho, que foi publicado, em janeiro, na última edição do The European Journal of Psychiatry, os investigadores da FMUP pretendem deixar um alerta a profissionais e saúde, nomeadamente, especificou à Lusa Inês Ferra, aos médicos e enfermeiros de família, pediatras e obstetras e ginecologistas.

Já num resumo do trabalho enviado à Lusa, a FMUP refere que entre 2,4% a 9% das mulheres e 1,7% dos homens desenvolvem POC no pós-parto.

A prevalência estimada ao longo da vida, na população geral, é de 1,3%.

“Habitualmente, o início dos sintomas é rápido, ocorrendo nas primeiras oito semanas após o nascimento do bebé (…). Para que exista diagnóstico, exige-se que haja sofrimento significativo ou uma interferência considerável na relação entre pais e bebés e na vida familiar”, lê-se no resumo.

Um dos motivos para a dificuldade do diagnóstico é a tendência dos pais para esconderem o que estão a pensar ou a sentir, muitas vezes por culpa ou vergonha.

A criação e implementação de programas de prevenção dirigidos sobretudo às mulheres e homens que vão ser pais e que estão em maior risco, ou seja, os que têm historial de depressão, ansiedade e insónia é uma das recomendações deste trabalho, uma revisão sistemática, cujo último estudo internacional incluído dada de setembro de 2022.

Além de Inês Ferra, são autores do trabalho Miguel Bragança e Ricardo Moreira, da FMUP.

LUSA/HN

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