Sul-coreanos com doenças graves denunciam consequências da greve dos médicos

19 de Março 2024

Várias associações de pacientes com doenças graves denunciaram hoje as dificuldades pelas quais as pessoas estão a passar com a greve que milhares de médicos sul-coreanos mantêm há cerca de um mês.

“As principais vítimas [da greve] são pessoas com doenças raras e incuráveis”, disse o presidente da Fundação Lou Gehrig da Coreia do Sul, Kim Tae-hyun, numa conferência de imprensa realizada no Clube de Correspondentes Estrangeiros, em Seul.

Kim, que sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA), falou através de um membro da fundação que dirige e lembrou que “é muito triste que um paciente com ELA que tem cerca de três anos de vida tenha de implorar para ser salvo”.

Exortando os médicos a não esquecerem o Juramento de Hipócrates, Kim considerou que estes devem ser “um raio de esperança para os pacientes com doenças raras e incuráveis” e “não se esquecer do seu dever”.

Mais de 90% dos 13 mil médicos estagiários do país aderiram à greve desde 20 de fevereiro em protesto contra o plano do executivo conservador Yoon Suk-yeol de aumentar as vagas nas escolas médicas em 2.000 por ano.

Uma vez que os médicos residentes representam cerca de 40% do pessoal dos grandes hospitais de Seul, os maiores do país, estes centros médicos estão a ser obrigados a suspender cerca de metade das cirurgias programadas, muitas delas para pacientes com cancro, como recordaram hoje várias associações.

A greve também está a afetar pacientes pendentes ou em tratamento de quimioterapia ou radioterapia.

Um representante da Associação Coreana de Pacientes com Cancro do Esófago Kim Jin-sun afirmou hoje que “esta situação é da responsabilidade do governo e deve ser abordada com urgência”.

“É irónico é que haja uma recusa de praticar a medicina em protesto contra o aumento do número de estudantes nas escolas médicas”, disse.

O Governo defende que é necessário aumentar em 2.000 as vagas anuais nas escolas médicas para colmatar a escassez de médicos, especialmente nas zonas rurais e em áreas como a pediatria, a obstetrícia ou a cirurgia cardiotorácica.

Mas os médicos denunciam que a decisão foi unilateral e consideram que o aumento deveria ser de 350 vagas para não afetar a qualidade da formação e do serviço, bem como para reforçar a proteção jurídica dos trabalhadores da saúde.

“Os pacientes não devem, em circunstância alguma, ser usados como instrumento político por nenhum dos lados. Os doentes são a nossa família, os nossos vizinhos. O seu sofrimento e as suas necessidades são da responsabilidade de todos”, disse Baek Min-hwan, da Associação de Pacientes com Mieloma.

Baek pediu ao Governo e aos médicos que “encontrem uma solução através do diálogo e do compromisso”.

LUSA/HN

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