Impacto das alterações climáticas na saúde no encerramento do 30.º CNMI

27 de Maio 2024

Na conferência de encerramento do 30.º Congresso Nacional de Medicina Interna, Luís Campos, presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), apresentou o tema "Alterações climáticas, saúde e a responsabilidade dos médicos".

Luís Campos destacou a importância de identificar as principais ameaças ambientais que afetam a saúde das populações, discutindo a transição epidemiológica causada pelas alterações climáticas e a degradação ambiental. Sublinhou a necessidade de reduzir a pegada ecológica do setor da saúde e encorajou os médicos a envolverem-se na luta contra as alterações climáticas.

“Os maiores desafios ambientais que enfrentamos são a superpopulação, as alterações climáticas, a degradação ambiental e a perda da biodiversidade”, afirmou, destacando que as alterações climáticas estão a seguir cenários preocupantes, com um aumento de temperatura global de 1,2º C já registado e previsões de um aumento de 2,7º C até 2100, se as políticas atuais não mudarem. “A degradação ambiental é alarmante: 75% da superfície terrestre livre de gelo já foi significativamente alterada, e perdemos cerca de 150 espécies por dia”, acrescentou.

O presidente do CPSA mencionou um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), indicando que um quarto da carga global de doenças se deve a fatores ambientais modificáveis, afetando principalmente as populações vulneráveis. Apontou que doenças como as cardiovasculares, respiratórias e infeciosas estão intimamente ligadas às condições ambientais. Além disso, a degradação do meio ambiente está a provocar movimentos migratórios, conflitos e um aumento nas doenças mentais. A frequência crescente de eventos climáticos extremos como ciclones, inundações e incêndios também foi abordada, juntamente com a mudança na ecologia das doenças transmitidas por vetores, aumentando o risco de pandemias zoonóticas.

“Embora o setor da saúde seja vital para responder a estas transições, é também responsável por 4,4% das emissões globais de gases de efeito estufa. Em Portugal, essa percentagem é de cerca de 4,8%”, disse. Reforçou a necessidade de metas de neutralidade carbónica como prioridade política, mas também a responsabilidade individual dos profissionais de saúde. “Nós, profissionais de saúde, não temos o direito de comprometer o futuro das próximas gerações. Temos a obrigação ética de nos envolver na luta contra as alterações climáticas”, afirmou, mencionando a criação do CPSA, que já conta com 82 associados.

A apresentação de Luís Campos destacou a interseção crucial entre saúde e ambiente, enfatizando o papel essencial dos médicos na mitigação das alterações climáticas e na proteção da saúde pública.

Quanto à importância do congresso, disse que “os congressos são a expressão da vitalidade de uma especialidade, da qualidade do seu trabalho e da investigação em curso, além de serem uma oportunidade única para atualização científica e intercâmbio de experiências”.

Luís Campos espera que o evento tenha promovido uma reflexão profunda sobre problemas atuais da especialidade e resulte em propostas concretas e pragmáticas para os decisores políticos.

Miguel Múrias Mauritti

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