“A mulher vai viver cerca de 40% da vida em menopausa. Como não tratar uma mulher sabendo que ela vai ter mais riscos de doença cardiovascular e de Alzheimer, mais depressão” e mais probabilidade de fratura osteoporótica do colo do fémur, questionou a patologista clínica, especialista em medicina antienvelhecimento e modulação hormonal.
Em entrevista à Lusa a propósito do Dia Mundial da Saúde da Mulher, que se assinala esta semana, a especialista lamentou que muitos médicos associem a terapia hormonal ao cancro da mama, confundindo hormonas bioidênticas com hormonas não bioidênticas.
“Hormona bioidêntica é hormona que é quimicamente igual à nossa. (…) Não podemos confundir umas com as outras”, alertou.
Segundo explicou, o estudo que associou a terapia hormonal ao cancro da mama, de 2002, baseou-se nas hormonas que estavam a ser usadas na altura nos Estados Unidos, que “não têm nada a ver” com as hormonas bioidênticas atuais.
Além disso, foi “muito enviesado”, porque englobou mulheres dos 50 aos 79 anos, muitas delas já com degenerescências.
Ivone Mirpuri disse que o risco de cancro da mama em mulheres que fazem reposição hormonal bioidêntica é até ligeiramente inferior ao das que não fazem porque esta terapia reduz o ‘stress’, que pode potenciar o cancro.
À crítica de que há falta de estudos sobre esta terapia, a especialista responde que as hormonas bioidênticas são utilizadas há mais de 60 anos, algumas como a tiróide dissecada de porco, a primeira hormona bioidêntica utilizada, são utilizadas há mais de 100 anos.
“A terapêutica hormonal é protetora e não faz cancro”, afirmou a médica. Protege contra a osteoporose, o risco cardiovascular, diminui em 40% o risco de doença de Alzheimer, reduz o risco de tumor colorretal, além de estimular todo o sistema imunitário inato.
Lembrando que 25% das fraturas do colo do fémur por osteoporose resultam em morte no primeiro ano, a médica questionou: “Diga-me se conhece alguma terapêutica tão barata que previna ao mesmo tempo tanta doença, que tanta mortalidade causa à mulher”.
Segundo Ivone Mirpuri, apenas 30% das mulheres na menopausa têm calores, mas todas vão sofrer de outros sintomas, como secura vaginal, atrofia das mucosas, incontinência urinária, diminuição da libido, maior flacidez da pele da cara e do corpo, sensação de cabeça vazia, com falta de concentração e falta de memória.
Em 70% há um aumento da hipertensão arterial e o colesterol começa a subir na tentativa de suprir as hormonas que deixam de ser produzidas na menopausa.
Sem hormonas, a mulher vai ter mais demência, mais depressão, mais alergias, pior qualidade do sono, dores no corpo.
A consequência é a sobremedicação destas mulheres, com ansiolíticos, antidepressivos, anti-inflamatórios, anti-hipertensores anti-histamínicos e analgésicos, lamentou.
“O que eu vejo na minha prática clínica de 16 anos a fazer esta terapia é que a mulher é mal tratada porque os médicos entendem que as hormonas fazem cancro, o que é errado”.
A médica reconheceu que muitos médicos usam hormonas não bioidênticas, que acarretam riscos quando associadas a estilos de vida não saudáveis, mas reiterou que as hormonas bioidênticas são protetoras da saúde.
E sublinhou que a terapia hormonal tem de ser associada a outros pilares importantes, incluindo fazer suplementação alimentar e evitar estilos de vida não saudáveis como consumir café, tabaco, álcool, ansiolíticos e antidepressivos, alguns com dos quais aumentam o risco de cancro da mama.
“O mesmo médico que tem medo de dar hormonas à mulher vai dar antidepressivos”, criticou.
E concluiu: “Há que mudar o cenário nacional e é um direito da mulher ser tratada na menopausa, para que não tenhamos o que temos cada vez mais no nosso país: uma sociedade sobremedicada com ansiolíticos e antidepressivos, não produtiva, dependente e infeliz”.
LUSA/HN
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