Esta terça-feira, depois de saber que o Governo pretende responsabilizar as administrações dos hospitais pelas suas listas de espera cirúrgicas, o HealthNews quis ouvir o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, não apenas sobre esta questão, mas também outra menos recente, o anúncio da ministra da saúde, em junho, de que o Governo vai criar uma comissão para auditar os conselhos de administração dos hospitais. Xavier Barreto – que representa os administradores hospitalares de carreira, uma profissão dentro do SNS que está nos conselhos de administração (CA) juntamente com médicos, enfermeiros e outros profissionais – considera que a avaliação dos CA “faz sempre sentido” e, aliás, esta tem sido defendida pelo próprio, inclusivamente em declarações ao nosso jornal. Contudo, “para isso temos que criar condições, temos que dar autonomia aos conselhos de administração para que possam de facto trabalhar e responder melhor aos seus doentes”, ressalvou Xavier Barreto. “Se lhes dermos autonomia e o financiamento de que precisam, fará sentido que os avaliemos; se não dermos, não fará qualquer sentido.”
“De resto, os conselhos de administração sempre foram responsáveis pelos seus doentes, inscritos em lista cirúrgica ou quaisquer outros. Repare, quando estes doentes saem para serem intervencionados no privado (aquilo que geralmente se chama de SIGIC), os hospitais [do SNS] pagam essas cirurgias e, portanto, o hospital tem uma responsabilidade sobre esses doentes, e os administradores, naturalmente, respondem por esses doentes. Não sei exatamente o que é que se pretende fazer em termos de responsabilização; se aumentar essa responsabilização, de que forma. Isso só poderemos discutir e avaliar depois de o Governo nos dizer o que é que pretende fazer. Para já, não sabemos. Mesmo em relação a essa comissão de auditoria, não sei exatamente qual é o objetivo, quais são as atribuições dessa comissão de auditoria, e não sabendo não posso fazer nenhuma avaliação”, afirmou Xavier Barreto.
Xavier Barreto disse-nos que os administradores hospitalares que representa “estão certamente muito motivados para continuar a trabalhar com o Governo na resolução dos problemas dos nossos doentes”, e também vê essa motivação nos conselhos de administração. “A perceção que eu tenho é que estes conselhos de administração também estão motivados para trabalhar no sentido de encontrar as melhores soluções para os doentes”, referiu. “Mesmo sabendo que não têm autonomia, mesmo sabendo que muitas vezes são subfinanciados, mesmo sabendo que correm riscos – estes conselhos de administração têm muitas vezes que correr riscos para conseguir continuar a comprar medicamentos para os seus doentes em situações em que estão subfinanciados e em que existe uma lei dos compromissos que os impede de fazer determinados gastos.”
“Não obstante todas estas dificuldades de falta de autonomia, de falta de ferramentas de gestão, de falta de possibilidade de tomarem decisões importantes, estão subfinanciados, são obrigados a assinar contratos logo à partida prevendo prejuízos, correm riscos para poder manter os cuidados aos seus doentes, e mesmo assim continuam a desempenhar esta função, no conselho de administração. Eu diria que é porque são pessoas de facto muito motivadas para aquilo que estão a fazer. E se estas pessoas estão realmente muito motivadas para isto, então saibamos aproveitar essa motivação e coloquemo-la ao serviço dos nossos doentes”, concluiu Xavier Barreto.
HN/RA
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