O lado negativo de ser bonito

13 de Julho 2024

Uma nova investigação envolvendo cientistas ingleses e alemães desafia a ideia de que uma boa aparência é a chave para a felicidade. Afinal, revela o estudo, que envolveu uma amostra de mais de 30 mil jovens, uma aparência atraente leva a comportamentos mais arriscados entre os jovens.

Por exemplo, quanto mais atraente é um adolescente, maior a probabilidade de ele sair para festas e beber mais álcool do que os outros. Segundo o Professor Colin Peter Green, do Departamento de Economia da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU), isto significa que o risco de desenvolver problemas com álcool mais tarde na vida aumenta.

Bebidas, sexo e drogas

No estudo ‘Beauty, underage drinking, and adolescent risky behaviours’, Green e os seus colegas da Alemanha e do Reino Unido focam-se no consumo de álcool por menores. O objetivo foi investigar como a beleza pode levar a comportamentos de risco.

Os investigadores analisaram seis tipos de comportamentos de risco: consumo de álcool, binge drinking, tabagismo, uso de substâncias psicotrópicas, sexo desprotegido e gravidez indesejada. Grande parte destes comportamentos são suficientemente arriscados por si só, mas podem também causar problemas mais tarde na vida. Por exemplo, a gravidez na adolescência pode afetar negativamente tanto a educação como os rendimentos, e o consumo de álcool em idade precoce pode levar ao alcoolismo.

Bonitos – e a beber mais

Os investigadores identificaram uma correlação direta entre a aparência e os comportamentos que os adolescentes escolhem adotar. Isto aplica-se a ambos os sexos, mas especialmente às raparigas mais atraentes, que têm maior probabilidade de beber, e beber mais, do que as suas amigas menos convencionalmente atraentes.

“A nossa principal descoberta é a de que os jovens que são considerados mais agradáveis na aparência geralmente bebem mais e envolvem-se mais frequentemente em binge drinking, que envolve vários dias consecutivos de consumo de álcool. A investigação mostra que os riscos que correm e como se saem mais tarde na vida estão ligados à sua confiança interna e autorrespeito”, diz Green.

A afetar as escolhas de vida

Muitos estudos confirmam que ter uma boa aparência é uma vantagem. As pessoas mais atraentes entre nós têm mais sucesso no mercado de trabalho e recebem salários mais altos. Na academia, investigadores fisicamente atraentes são citados mais frequentemente. Professoras bonitas recebem melhores avaliações, e políticos atraentes têm melhores resultados nas eleições.

Green e os seus colegas escolheram uma abordagem ligeiramente diferente: “queríamos observar como a beleza afeta as importantes escolhas de vida que os jovens fazem antes de se tornarem adultos. Assumimos que a aparência poderia afetar comportamentos de risco que têm consequências mais tarde na vida”, explica o professor da NTNU.

30.000 jovens

Este é o primeiro estudo a investigar a correlação entre aparência e comportamentos de risco. Os dados são retirados do estudo Add Health (Adolescent to Adult Health) dos Estados Unidos, o estudo longitudinal mais abrangente sobre jovens que existe.

A amostra consiste em mais de 30.000 jovens, que passaram por quatro rondas de entrevistas desde a adolescência até se tornarem jovens adultos. Foram questionados sobre a frequência e a quantidade de álcool que beberam no mês anterior, se se envolveram em binge drinking, fumaram tabaco ou usaram drogas. Também responderam a perguntas sobre sexo desprotegido e gravidez. As respostas que deram ao Add Health, quando tinham entre 24 e 32 anos, revelam-se, por exemplo, no facto de que desenvolveram problemas com álcool.

Bonitos e inteligentes

Os mecanismos por trás das escolhas dos jovens são complexos. Os jovens mais atraentes são muitas vezes populares e tendem a ir mais a festas e locais com acesso a álcool. Ao mesmo tempo, geralmente, têm mais autoestima do que os seus pares considerados menos atraentes. Isto pode protegê-los de beberem demasiado e fazerem coisas ainda mais insensatas.

Também se verifica que os jovens mais atraentes escolhem comportamentos de risco que são percebidos como ‘fixes’, mas evitam tipos de comportamentos considerados ‘desagradáveis’. Beber é fixe. Abuso de drogas e gravidez na adolescência não são fixes.

No olho de quem vê

Os entrevistadores classificaram a aparência dos integrantes da amostra numa escala de 1 ‘muito pouco atraente’ a 5 ‘muito atraente’, e a maioria dos entrevistadores eram mulheres. O que é considerado bonito é determinado pelo olho de quem vê, mas os investigadores explicam detalhadamente a validade científica desta abordagem. Explicam também como medem a popularidade, autoestima/autorrespeito e traços de personalidade, e como esses fatores afetam as ações dos jovens.

Construindo autorrespeito

Green enfatiza que é geralmente importante entender o que governa as escolhas dos jovens. “Um jovem pode parecer bonito e bem-sucedido, mas também pode estar a carregar bagagem emocional que pode minar a sua autoconfiança, como uma vida familiar instável e problemas de saúde mental. Isto pode ser uma combinação perigosa”, diz o investigador da NTNU.

Entre outras coisas, o estudo conclui que construir confiança, autoestima e autorrespeito desde a infância é importante para promover a saúde dos jovens e prevenir trajetórias de vida infelizes.

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