Presidente nigeriano apela ao fim dos protestos contra o elevado custo de vida

4 de Agosto 2024

O Presidente nigeriano, Bola Ahmed Tinubu, apelou hoje ao fim dos protestos contra o elevado custo de vida no país mais populoso de África e ao fim do "derramamento de sangue".

O apelo surge depois de a organização de defesa e promoção dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI) ter denunciado a morte de 13 manifestantes, abatidos pelas forças de segurança.

Milhares de pessoas manifestaram-se na quinta e sexta-feira contra a “má governação” e o aumento do custo de vida na Nigéria, que atravessa uma grave crise económica na sequência das reformas introduzidas por Tinubu, que chegou ao poder em maio de 2023. A inflação alimentar é superior a 40% e o preço da gasolina triplicou.

“Ouvi-vos claramente. Compreendo a dor e a frustração que estão a motivar estas manifestações”, afirmou o Presidente nigeriano num discurso transmitido pela televisão, na primeira aparição pública desde o início dos protestos na semana passada.

O chefe de Estado da Nigéria instou os manifestantes a “suspenderem quaisquer outros protestos e a criarem um espaço de diálogo”.

“Asseguro-vos que o nosso Governo está empenhado em ouvir e responder às preocupações dos nossos concidadãos. Mas não podemos permitir que a violência e a destruição destruam a nossa nação. Temos de pôr fim ao derramamento de sangue, à violência e à destruição”, afirmou.

Enquanto a Amnistia Internacional refere que pelo menos 13 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança, a polícia afirma que morreram sete pessoas e nega qualquer responsabilidade.

“As nossas provas, nesta fase, mostram que, nos casos em que ocorreram mortes, os membros das forças de segurança utilizaram deliberadamente táticas destinadas a matar quando confrontados com concentrações de pessoas que denunciavam a fome e a pobreza extrema”, escreveu a Amnistia num comunicado publicado na rede social X.´

Os organizadores das manifestações, uma coligação informal de grupos da sociedade civil, prometeram continuar as ações nos próximos dias, apesar dos avisos das autoridades.

“Fomos impiedosamente dispersos, mas penso que isso só reforçou a nossa determinação”, disse Damilare Adenola, 29 anos, ativista e líder do grupo de direitos humanos Take It Back.

“A fome é a principal motivação para esta manifestação, e é por isso que estamos a pedir o fim da má governação”, acrescentou.

Cerca de 700 pessoas foram detidas durante os dois primeiros dias do protesto, segundo a polícia, sob a acusação de “assalto à mão armada, fogo posto” e destruição de bens”.

No discurso, Tinubu sublinhou que “as forças da ordem devem continuar a manter a paz, a lei e a ordem no país, em conformidade com as convenções sobre direitos humanos de que a Nigéria é signatária”.

Os participantes nas manifestações, apelidadas de #EndbadGovernanceinNigeria (“Acabem com a má governação na Nigéria”), pedem ao Presidente que anule algumas reformas, como a suspensão dos subsídios aos combustíveis, e que “acabe com o sofrimento e a fome”.

No entanto, na intervenção, Tinubu defendeu a sua atuação e garantiu que as medidas beneficiariam os jovens e a economia em geral.

Antes dos protestos de quinta-feira, os funcionários do Governo tinham apelado ao público para que desse tempo às reformas, enumerando uma série de medidas propostas para aliviar as dificuldades económicas, incluindo um aumento do salário mínimo e a entrega de cereais aos vários estados do país.

O último grande movimento de protesto na Nigéria remonta a outubro de 2020 e tinha por objetivo exigir o desmantelamento de uma unidade policial acusada de abusos.

A brigada foi dissolvida, mas pelo menos 10 manifestantes foram mortos, segundo a Amnistia. O Governo e o exército negaram qualquer responsabilidade.

LUSA/HN

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