De acordo com o relatório, produzido por membros da Alliance2015, “Índice Global da Fome 2024: Como a justiça de género pode fazer avançar a resiliência climática e a Fome Zero”, que este ano avaliou 136 países, a Guiné-Bissau é o país lusófono pior posicionado, em 114.º lugar, mesmo assim registando uma melhoria em relação a 2023, quando ocupava a 118.ª posição.
Timor-Leste foi o país lusófono que mais lugares saltou no IGF este ano comparativamente a 2023, ao passar da 112.ª posição para a 104.ª, tendo Moçambique subido da 113.ª para a 107.ª, com Angola, ao contrário, a registar um agravamento, ao passar do 99.º lugar em 2023 para o 103.º em 2024.
Ao Brasil, país lusófono com melhor pontuação (33.º lugar), segue-se Cabo Verde, em 48.º lugar.
Na atual edição do Índice Global da Fome (IGF), publicada quinta-feira, “Moçambique é um exemplo de progresso e esperança pois registou melhorias na sua pontuação, mas isso não quer dizer que a fome não continue demasiado elevada, causada, sobretudo, pela continuidade de conflitos armados no país”, disse hoje à Lusa o diretor nacional da Ajuda em Ação, Mário Baudouin, a organização responsável pela tradução da sinopse do estudo para português.
“A não-repetição de fenómenos climáticos extremos, como o caso dos ciclones Kenneth e Idai, neste país, onde estamos presentes e ajudamos com atuação humanitária a nível internacional, ajuda a explicar a ligeira melhoria”, contextualizou Baudouin.
Relativamente ao Brasil, “como parte do seu esforço para alcançar a Fome Zero, o país criou o maior programa de transferência condicional de dinheiro do mundo, o ‘Bolsa Família’ [criado em 2004], destinado às mulheres pobres”, que, por exemplo, foi adaptado na Amazónia através da “Bolsa Verde”, que “fornece assistência social às famílias para conservarem o ambiente natural”, explicou o IGF, no seu relatório.
O IGF – que acompanha a situação da fome a nível mundial – deste ano avalia 136 países e mostra que a pontuação para o mundo é de 18,3, considerada moderada.
A situação mais grave é na região africana a sul do Saara e no sul da Ásia, onde a fome continua a ser extrema, de acordo com o IGF.
“A elevada pontuação do IGF nesta região africana é impulsionada, de longe, pelas taxas de subnutrição e de mortalidade infantil mais elevadas de todas as regiões”, advertiu.
Por isso, “alcançar a Fome Zero até à data prevista de 2030 parece inalcançável. Em todo o mundo, 733 milhões de pessoas – significativamente mais do que há uma década – não têm acesso a calorias suficientes e 2,8 mil milhões não têm meios para ter uma dieta saudável”, alertou.
Assim, o mundo não atingirá sequer um nível baixo de fome até 2160, salientou.
A fome é alarmante ou grave em 42 países, indicou
“Dezenas de países continuam a registar um nível de fome demasiado elevado. O IGF de 2024 mostra que a fome é considerada alarmante em seis países – Burundi, Chade, Madagáscar, Somália, Sudão do Sul e Iémen” – e grave em 36.
A insegurança alimentar aguda e o risco de fome estão a aumentar, e a fome está a proliferar como arma de guerra, lê-se no relatório.
“Subjacente a estas estatísticas alarmantes está um estado de crises resultante de conflitos generalizados, dos impactos crescentes das alterações climáticas, dos desafios económicos, das crises da dívida e da desigualdade”, referiu.
No entanto, alguns países mostraram que é possível fazer progressos, como são os casos de Moçambique, da Somália, do Togo, do Bangladesh e do Nepal, indicou.
A desigualdade com base no género é uma das ameaças mais generalizadas ao desenvolvimento sustentável e ao direito à alimentação, disse.
“A discriminação de género impede o acesso equitativo, a utilização e o controlo dos recursos, como a terra e o crédito, e prejudica a capacidade de resposta aos choques e aos fatores de stress climáticos”, refletiu.
A fundação Ajuda em Ação, membro da Alliance2015 auxilia, em Portugal, mulheres africanas na zona de Camarate e Loures e fornece-lhes “ferramentas para combaterem uma situação informal e conseguirem viver dos seus rendimentos para fazer face a uma situação de fome e pobreza”, disse Baudouin à Lusa.
NR/HN/Lusa
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