Consultora McKinsey & Company acorda pagar 650MD em caso federal sobre trabalho com opiáceos

14 de Dezembro 2024

 A consultora norte-americana McKinsey & Company acordou pagar 650 milhões de dólares (619,6 milhões de euros) para resolver um processo federal sobre o seu trabalho para a fabricante de opiáceos Purdue Pharma, segundo documentos judiciais hoje apresentados na Virgínia.

Nos termos do acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a McKinsey evitará ser alvo de acusações criminais se pagar a quantia e cumprir determinadas condições durante cinco anos, entre as quais a cessação de qualquer trabalho relacionado com venda, publicidade ou promoção de substâncias controladas, segundo os documentos judiciais.

Um ex-sócio principal da McKinsey também acordou declarar-se culpado de obstrução à justiça por ter apagado do seu portátil documentos, depois de ter tomado conhecimento das investigações sobre a Purdue Pharma, de acordo com a documentação.

Hoje instados pela agência de notícias norte-americana, Associated Press (AP), a comentar o caso, os representantes da McKinsey não responderam até agora às mensagens telefónicas e de correio eletrónico enviadas.

O processo judicial indica que a Purdue pagou à McKinsey mais de 93 milhões de dólares (88,6 milhões de euros) durante 15 anos por aconselhamento em relação a uma série de produtos, incluindo como aumentar as vendas de OxyContin, um analgésico com um longo historial de causar toxicodependência.

Uma das tarefas da consultora, segundo os documentos, era identificar quais os prescritores que gerariam mais receitas adicionais se os delegados de propaganda médica da Purdue se concentrassem nisso.

Isso resultou em receitas que “não se destinavam a uma indicação médica aceite, não eram seguras, eram ineficazes e desnecessárias do ponto de vista médico, e que eram frequentemente desviadas para utilizações sem um objetivo médico legítimo”, refere o processo.

A McKinsey também tentou ajudar a Purdue a ter uma palavra a dizer na definição das normas federais destinadas a garantir que os benefícios de medicamentos que causam dependência superavam os riscos.

Nos novos documentos judiciais apresentados, o Governo sustentou que o resultado disso foi tornar o OxyContin de alta dosagem sujeito à mesma supervisão que os opiáceos de baixa dosagem e tornar a formação para prescritores voluntária em vez de obrigatória.

Desde 2021, a McKinsey concordou pagar a governos estaduais e locais cerca de 765 milhões de dólares (728,5 milhões de euros) em acordos pelo papel desempenhado no aconselhamento a empresas sobre como vender mais dos fortes analgésicos sujeitos a receita médica, num contexto de crise de opiáceos a nível nacional nos Estados Unidos.

A empresa de consultoria também concordou no ano passado pagar 78 milhões de dólares (74,2 milhões de euros) a fundações da área da saúde e companhias de seguros.

Há décadas que os Estados Unidos atravessam uma crise de dependência e de sobredosagem, associada a mais de 80.000 mortes nos últimos anos.

Na última década, a maioria das mortes foi atribuída ao fentanil, que é misturado em muitas drogas ilegais. No início da epidemia, os comprimidos de prescrição médica obrigatória eram a principal causa de morte.

Alguns ativistas dizem que a crise foi desencadeada quando o OxyContin da Purdue Pharma chegou ao mercado, em 1996.

Em 2007, três dirigentes da Purdue declararam-se culpados de acusações de contrafação e a empresa concordou pagar uma multa.

A empresa declarou-se culpada de acusações criminais em 2020 e chegou a acordo sobre 8,3 mil milhões de dólares (7,9 mil milhões de euros) em coimas e apreensões – da maior parte das quais será dispensada desde que cumpra um acordo, através do tribunal de falências, que ainda está em curso.

Os documentos da McKinsey tornados públicos ao longo dos anos descrevem a Purdue como utilizando a empresa de consultoria para a ajudar a “incentivar” as vendas de opiáceos em 2013, uma vez que a reação à crise dos opiáceos significava que os medicamentos da farmacêutica estavam a ser menos receitados.

LUSA/HN

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