27/05/2023
“Vamos estabelecer um acordo entre um governo chinês e o governo do México, em particular a Procuradoria-Geral da República, para evitar a entrada do fentanil da China no México”, disse o presidente Andres Manuel Lopez Obrador, a propósito deste assunto que é um ponto de discórdia com os EUA.
“Vamos fazer o mesmo com a Coreia do Sul”, disse ainda, durante a sua conferência de imprensa diária.
“Localizámos um carregamento de fentanil proveniente da China no porto de Lazaro Cardenas”, no noroeste do país, avançou sem mencionar a data. “Também apreendemos fentanil da Coreia, que tinha passado pelo porto de Valência, em Espanha”, acrescentou.
O presidente da esquerda nacionalista mexicana preveniu algumas personalidades nos EUA para que “não utilizem este problema lamentável e grave” do fentanil “para culpabilizar o México com fins politiqueiros como o fazem alguns”.
Lopez Obrador aludiu de forma aberta, sem o nomear, ao candidato declarado à investidura do Partido Republicano para as eleições presidenciais, Ron DeSantis, o governador da Florida.
Outro republicano, o senador Lindsey Graham, acusou os carteis mexicanos de inundarem os EUA com fentanil, 50 vezes mais potente do que a heroína.
O Departamento de Justiça dos EUA acusou em abril 28 pessoas, entre as quais quatro filhos do traficante mexicano Joaquin ‘El Chapo’ Guzman, que está a cumprir uma pena de prisão perpétua em um estabelecimento prisional no Estado do Colorado.
18/05/2023
“Esta opção, na nossa perspetiva, é penalizadora de muita gente. Há muitas pequenas empresas que tem parte do seu negócio alicerçado no funcionamento das máquinas de venda e há muitos empregos associados a este processo de comercialização”, afirmou Mário Fortuna à agência Lusa.
Segundo uma proposta de lei do Governo da República, a venda de tabaco em máquinas automáticas vai ser proibida em 2025 e ainda este ano será interdito fumar nos espaços ao ar livre junto de edifícios públicos como escolas, faculdades ou hospitais.
Caso a proposta seja aprovada pela Assembleia da República, deixa de ser possível a venda de tabaco direta ou através de máquinas de venda automática em locais como restaurantes, bares, salas e recintos de espetáculo, casinos, bingos, salas de jogos, feiras, exposições.
O também professor de Economia da Universidade dos Açores alertou que a proposta é “anacrónica”, uma vez que vai “muito mais além” da diretiva europeia que está a ser transposta para os países da União Europeia.
“Esta medida é um pouco anacrónica relativamente àquilo que está a acontecer na Europa”, assinalou.
O presidente do conselho de administração da FTM, tabaqueira que emprega cerca de 100 trabalhadores distribuídos pelos Açores e Madeira, prevê um “impacto bastante grande” caso a iniciativa entre em vigor, lembrando que o diploma atual “nem autoriza as bombas de gasolina a vender tabaco”.
“Naturalmente que, desaparecendo as 50 mil máquinas de venda a nível nacional, tem uma implicação bastante grande para quem investiu e trabalha nessas áreas. Vão desaparecer muitos postos de trabalho que hoje estão ocupados na distribuição e vão reduzir-se substancialmente e drasticamente os pontos de venda”, afirmou.
Mário Fortuna, que também preside à Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, detalhou que o setor representa uma receita fiscal de 1400 milhões de euros a nível nacional.
Nos Açores, a receita proveniente do tabaco situa-se em “mais de 50 milhões de euros” e na região devem existir cerca de três a quatro mil máquinas de venda automática, disse.
“A proposta na generalidade, com aquilo que tem vindo a público, é um pouco estranha na medida em que não se prossegue o objetivo específico de informar as pessoas relativamente às implicações do tabaco, mas limita-se, de uma forma que não prevíamos, a comercialização”, assinala.
O líder da FTM, fundada em 1866, realça que “uma coisa é a informação” acerca de um produto e “outra coisa é condicionar a chegada ao mercado”.
“Estamos habituados a uma economia de mercado onde os comerciantes e a economia resolvem a comercialização. O que o governo está a fazer é a regulamentar de forma peculiar a venda de tabaco”, afirmou.
Mário Fortuna ressalvou, contudo, que a proposta “é uma incógnita” porque ainda “não se conhece o detalhe”: “No pormenor é que vão estar os aspetos importantes”, concluiu.
A 11 de maio, o Conselho de Ministros aprovou diversas alterações à lei do tabaco, equiparando cigarros eletrónicos ao tabaco normal e criando restrições à venda e consumo, com o ministro da Saúde a sublinhar que é preciso “ir mais longe”.
LUSA/HN
16/05/2023
Um estudo feito pelo LABPATS, que hoje apresenta as suas recomendações ao nível das políticas, organizações, lideranças e profissionais, indica que quase 80% dos trabalhadores apresentam pelo menos um sintoma de ‘burnout’ e que os trabalhadores da saúde, educação e administração pública são os de maior risco.
Neste grupo de maior índice de risco estão igualmente os trabalhadores dos setores dos transportes, área social e comércio e retalho.
“O facto de cerca de 80% dizer que tem pelo menos um dos destes sintomas – tristeza, irritabilidade, exaustão e cansaço extremo – é algo que nos preocupa”, disse à Lusa a psicóloga Tânia Gaspar.
A coordenadora do LABPATS lembra que “há vários fatores de risco para o ‘burnout’”: “Por exemplo, pode haver exigência extrema a nível do esforço físico e psicológico, emocional ou até cognitivo, mas também [contribuem] as tensões e relações tóxicas com as lideranças e com os próprios colegas de trabalho”.
Refere igualmente que, para a situação de ‘burnout’ também pode contribuir o facto de a pessoa sentir que seu trabalho não é reconhecido ou que as suas competências estão mal aproveitadas.
“A pessoa acaba por ter um desempenho mais debilitado, (…) tende a trabalhar menos e a fazer mais erros, a ter mais ‘stress’, a criar mais relações menos positivas também no contexto laboral, afetando o trabalho de equipa”, disse a responsável, insistindo: “Ter uma pessoa nesta situação também não é positivo para a própria organização e há aqui um trabalho de prevenção a fazer”.
Os investigadores apontam igualmente a necessidade de as empresas desenvolverem estratégias de gestão de conflitos e chamarem a atenção para a importância de trabalhar a questão das lideranças.
Para Tânia Gaspar, as chefias intermédias são nas empresas um grupo em grande risco de ‘stress’ e devem ter uma intervenção específica, como o ‘coaching de liderança’, para garantir um ambiente de trabalho saudável.
A psicóloga clínica lembrou que as lideranças estão como que “numa posição de sanduíche”: “Estão em grande pressão pois acabam por estar pressionadas pela administração para cumprir os objetivos (…) e pelas próprias características dos profissionais que são difíceis de gerir”.
“Se eu tivesse de definir um ponto para intervir [nas empresas] era nas lideranças. Porque além de serem profissionais que também têm que ter bem-estar [no trabalho] eles têm uma grande influência no bem-estar dos outros”, considerou.
Para os especialistas, a aplicação da semana de quatro dias, sem perda de remuneração, ajudaria a conciliar a vida profissional e familiar e a reter as novas gerações, para quem “o trabalho não é tudo na vida”.
Tânia Gaspar considera que as empresas têm de mudar o seu paradigma “se querem reter os profissionais”, explicando que “as novas gerações têm outra atitude face ao trabalho e valorizam realmente muito o seu bem-estar”: “O trabalho é uma área da sua vida, mas não é a área da sua vida”.
Quanto à semana de quatro dias, a investigadora sublinha que só funciona com algumas condições: “Que não haja decréscimo salarial, ou seja, que a pessoa não fique a receber menos, e que a pessoa não tenha que fazer o trabalho de todos os dias naqueles quatro dias, senão acaba por ficar completamente sobrecarregada”.
Nas recomendações do LABPATS são igualmente sugeridas mudanças na legislação sobre saúde ocupacional, integrando nas equipas um psicólogo do trabalho/sociólogo do trabalho, para fortalecer a relevância da saúde mental e psicossocial, uma das dimensões que apresenta maior risco.
LUSA/HN
15/05/2023
“Esta semana de quatro dias só funciona com algumas condições: que não haja decréscimo salarial, ou seja, que a pessoa não fique a receber menos, e que a pessoa não tenha que fazer o trabalho de todos os dias naqueles quatro dias, senão acaba por ficar completamente sobrecarregado”, explicou Tânia Gaspar, coordenadora do trabalho desenvolvido pelo LABPATS.
Reconhecendo que há atividades profissionais em que a semana de quatro dias é mais fácil de aplicar do que noutras, a psicóloga acrescenta: “se a pessoa tiver de fazer o mesmo número de horas [da semana] numa fábrica, por exemplo, em quatro dias, vai haver quatro dias muito pesados e isso pode levar à exaustão”.
Tânia Gaspar considera que as empresas têm de mudar o seu paradigma “se querem reter os profissionais”, explicando que “as novas gerações têm outra atitude face ao trabalho e valorizam realmente muito o seu bem-estar”.
“O trabalho é uma área da sua vida, mas não é a área da sua vida”.
No conjunto de recomendações a que a Lusa teve acesso e que serão apresentadas na terça-feira, em Lisboa, os especialistas aconselham mudanças na legislação sobre saúde ocupacional, integrando nas equipas um psicólogo do trabalho/sociólogo do trabalho, para fortalecer a relevância da saúde mental e psicossocial, uma das dimensões que apresenta maior risco no estudo feito pelos investigadores.
Para chegar às recomendações, os especialistas do laboratório avaliaram 2.000 profissionais de áreas tão diversas como a saúde, a administração pública, educação, indústria e restauração, identificando vários níveis de risco em termos de ambiente de trabalho saudável. O mais elevado prende-se com a saúde mental e o ‘burnout’.
Para incentivar as organizações a promoverem ambientes de trabalho saudáveis, recomendam a criação de incentivos e/ou benefícios fiscais.
Defendem também que a saúde e bem-estar devem ser prioridades na definição de políticas e programas nos diferentes ministérios e que se deve valorizar e promover a confiança e celeridade do Sistema de Mediação Laboral e Sistema Judicial, atribuindo mais recursos. Tudo com auditorias regulares para monitorizar o cumprimento da lei.
“Esta questão da saúde e do bem-estar tem de ser uma prioridade (…) transversal aos vários programas dos vários ministérios. Nós não podemos achar que isto porque tem lá nome saúde é do Ministério da Saúde ou, porque tem o nome trabalho, é do Ministério do Trabalho”, afirmou a especialista.
Ao nível das organizações, recomendam que as empresas tenham programas de prevenção dos riscos psicossociais e de promoção do bem-estar psicológico, participação e desempenho dos profissionais, “principalmente ao nível do stress, ‘burnout’, assédio e na conciliação entre o tempo de trabalho e o tempo de lazer”.
Devem igualmente promover a participação dos profissionais na definição das políticas empresariais e na participação em atos de gestão das organizações, assim como permitir o teletrabalho ou trabalho híbrido, sempre que possível.
Ao nível das lideranças, aconselham a que se coloque o bem-estar dos profissionais como uma prioridade das práticas de gestão de recursos humanos que se incentive a formação continua de conhecimentos e competências de liderança.
Para um ambiente de trabalho saudável, recomendam a promoção da liderança baseada na empatia e a promoção de recompensas aos profissionais pelo seu mérito, sejam elas financeiras ou não financeiras, como por exemplo a atribuição de dias de folga/férias extra.
Aconselham ainda que seja promovida maior assertividade junto da administração/direção para a “gestão conjunta de objetivos e gestão de desempenho da própria liderança e dos profissionais, justa e realista”.
“Dar voz” aos profissionais, promovendo momentos de partilha, escuta ativa com segurança psicológica é outras das recomendações na área das lideranças.
Ao nível dos profissionais, aconselham a que desenvolvam competências de autocuidado, autorregulação e autoconhecimento (para evitar situações extremas como o ‘burnout’) e defendem que devem apoiar e envolver-se na elaboração das estratégias de melhoria das condições de trabalho.
LUSA/HN
15/05/2023
Neste grupo de maior índice de risco estão igualmente os trabalhadores dos setores dos transportes, área social e comércio e retalho.
O estudo aponta também para a necessidade de as empresas desenvolveram estratégias de gestão de conflitos e chama a atenção para as empresas trabalharem a questão da liderança.
O trabalho, a que a Lusa teve acesso e que analisou cerca de 2.000 trabalhadores de setores de atividade como a saúde, administração pública, transportes, alojamento e restauração, educação e industria, entre outras, identificando níveis de risco elevado em termos da saúde mental, com quase 80% dos trabalhadores a apresentarem pelo menos um sintoma de ‘burnout’.
“Normalmente, a avaliação do ambiente das empresas é feita de forma segmentada. (…) Este instrumento de avaliação que usamos [EATS – Ecossistemas de Ambientes de Trabalho Saudável] permite fazer uma avaliação integral, no mesmo momento, de todas as áreas e relacioná-las, porque elas influenciam-se mutuamente e estão relacionadas”, explicou à Lusa a coordenadora deste trabalho, Tânia Gaspar.
Os investigadores avaliaram várias organizações a nível nacional e, depois, fizeram estudos específicos por setores de atividade, uma vez que o comportamento de alguns setores de atividade “envolve mais risco do que outros”.
O estudo envolveu cerca de 2.000 participantes, a maioria trabalha numa grande empresa/organização (250 ou mais pessoas).
Segundo os dados a que a Lusa teve acesso, são três as dimensões que apresentam maior risco: saúde mental e ‘burnout’, as lideranças e os recursos, ou, neste caso, a falta deles.
“Muitas vezes quando se fala de ‘burnout’ parece que é excesso de trabalho, mas, às vezes, não é só o excesso de trabalho. Há vários fatores de risco para o ‘burnout’. Por exemplo, pode haver exigência extrema a nível do esforço físico e psicológico, emocional ou até cognitivo, mas também [contribuem] as tensões e relações tóxicas com as lideranças e com os próprios colegas de trabalho”, explicou.
A psicóloga refere igualmente que para a situação de ‘burnout’, que se vai instalando com o tempo, também pode contribuir o facto de a pessoa sentir que seu trabalho não é reconhecido ou que as suas competências estão mal aproveitadas.
Tania Gaspar disse que, muitas vezes, estas pessoas chegam ao consultório e as queixas são relativas a problemas de sono: “Nós efetivamente conseguimos compreender [em consultório] que a pessoa não está a conseguir dormir porque ou alterou o seu padrão de relações interpessoais, está mais hostil, mais intolerante para os outros”.
“O facto de cerca de 80% dizer que tem pelo menos um dos destes sintomas – tristeza, irritabilidade, exaustão e cansaço extremo é algo que nos preocupa”, sublinhou a especialista, frisando que 63% das pessoas apresentam os três sintomas”.
Esta situação afeta o profissional em diversas áreas da sua vida, incluindo a saúde física, social e a saúde laboral. “Logo, a própria empresa acaba por ficar afetada”, observou.
“A pessoa acaba por ter um desempenho mais debilitado, (…) tende a trabalhar menos e a fazer mais erros, a ter mais stress, a criar mais relações menos positivas também no contexto laboral, afetando o trabalho de equipa”, disse a responsável, insistindo: “ter uma pessoa nesta situação também não é positivo para a própria organização e há aqui um trabalho de prevenção a fazer”.
Neste estudo, os trabalhadores disseram igualmente que se sentem pouco valorizados, que sentem que não são envolvidos na tomada de decisões, que a liderança está focada na obtenção de resultados e não o suficiente no bem-estar dos profissionais e consideram que, muitas vezes, não têm um sentimento de pertença à entidade empregadora.
“Isto é algo em que a organização também tem que refletir e pensar que, se calhar, ou não está a fazer algo bem ou não está a comunicar bem aquilo que está a fazer”, alertou.
LUSA/HN