Rui Gomes
Especialista de Sistemas de Informação
Mestre em Informática Médica
Diretor do Serviço de Tecnologias e Sistemas de Informação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE (CHUC)

Eficiências Que Sonhamos: Na Era das Mentes Artificiais

01/11/2025

BB, Six Sigma Manufacturing Industry

 

Prontos para abraçar a transformação e liderar na excelência digital?

Introdução

Neste início de 2025, as empresas portuguesas enfrentam um momento decisivo. A revolução digital já não é uma promessa distante – é uma realidade que transforma diariamente a forma como trabalhamos e inovamos. Portugal tem provado que a dimensão do país não limita a sua capacidade de inovação: as nossas startups conquistam mercados internacionais, os nossos talentos destacam-se em tecnologias emergentes, e várias empresas portuguesas já atingiram o estatuto de unicórnio. A nossa posição geográfica estratégica, o talento técnico de excelência e uma cultura de inovação pragmática têm atraído investimento internacional e criado um ecossistema tecnológico vibrante. De Lisboa ao Porto, de Braga a Coimbra, surgem polos de inovação que combinam conhecimento tradicional com tecnologias de ponta. O desafio agora não é apenas acompanhar a evolução tecnológica, mas liderá-la em nichos estratégicos onde Portugal já demonstra vantagens competitivas. Das tecnologias verdes à inteligência artificial, da biotecnologia ao desenvolvimento de software, estamos a construir um futuro onde a inovação portuguesa tem uma voz cada vez mais forte no palco global.

No entanto, como nos alerta o adágio moderno, “Colocar IA num processo mau só nos leva mais depressa ao lugar errado.” Integrar tecnologia não é uma questão de automatizar tudo. É uma oportunidade para desconstruir o que está mal, repensar sistemas e, acima de tudo, recentrar o foco no cliente. O futuro sustentável das organizações será erguido sobre fundações eficientes e flexíveis, e não sobre os alicerces frágeis de processos obsoletos.

Nesta busca pela excelência, o Lean Six Sigma emerge como o herói discreto. Ao otimizar práticas e potenciar o valor das inovações, oferece um caminho claro para as empresas enfrentarem a disrupção tecnológica de forma estruturada e eficaz.

O Ano da Inovação Acelerada

O último ano trouxe-nos uma maratona de avanços. Alguns exemplos de modelos de IA como o o3 da Open AI, Gemini 2.0 Flash e NotebookLM da google elevaram as expectativas globais. O AlphaFold 3 por exemplo até já transforma a biotecnologia, auxiliando cientistas a desvendar estruturas proteicas e a acelerar descobertas médicas para doenças raras. É o futuro a acontecer, moldado pelo princípio Lean de eliminar desperdícios e maximizar eficiência. A IA está forte em qualquer indústria. Nos setores da saúde afirma-se já como um catalisador poderoso de inovações com impacto direto e transformador. Permite diagnósticos mais rápidos e precisos ao integrar dados de genómica, histórico clínico e imagens médicas, promovendo uma análise abrangente e assertiva. Este avanço não só eleva a qualidade dos cuidados prestados, mas também fortalece a capacidade de tomar decisões clínicas mais informadas e personalizadas. Já na educação, a IA brilha em iniciativas como os currículos interativos promovidos pela UNESCO, que utilizam ferramentas inteligentes para personalizar conteúdos, adaptar metodologias às necessidades individuais de cada estudante e democratizar o acesso ao conhecimento. Estas inovações vão além da tecnologia: são soluções práticas que impactam vidas, reduzem desigualdades e alicerçam um futuro mais justo, inclusivo e sustentável

Viés Algorítmico

A inteligência artificial é a ferramenta poderosa para transformar dados em decisões, mas enfrenta desafios significativos, como o viés algorítmico. Os algoritmos refletem os padrões e preconceitos dos dados com que são treinados, o que pode amplificar desigualdades existentes e comprometer tanto a eficácia como a equidade das soluções. Este problema sublinha a necessidade de um planeamento rigoroso na recolha, preparação e análise dos dados. Bons planos de recolha de dados e capacidade de analise gráfica são fundamentais. Contudo, outras metodologias estruturadas, como por exemplo o Design of Experiments (DOE), desempenham um papel crucial ao identificar variáveis críticas, reduzir o ruído nos dados e garantir que estes sejam representativos e livres de desvios sistemáticos. Complementando o DOE, ferramentas como histogramas e gráficos de Pareto ajudam a verificar a qualidade dos dados, isolando potenciais fontes de viés. Esta combinação de métodos reforça a robustez dos modelos e permite desenvolver soluções de IA mais eficazes e justas. Nas indústrias, os Agentes Multimodais de IA começam a redefinir a eficiência, ao integrar dados de sensores, relatórios e análises em tempo real. Estas tecnologias não apenas previnem falhas e otimizam processos complexos, mas também representam avanços concretos na excelência operacional. Mais do que ferramentas, são catalisadores de uma nova era de gestão inteligente, na qual a capacidade de adaptação e o controlo rigoroso se tornam indispensáveis para um futuro que já não imaginamos sem estas inovações.

Tecnologia é Meio, Não Fim

Apesar de todo o entusiasmo, é importante lembrar que a tecnologia, por si só, não resolve problemas estruturais nos processos. Como ilustra o provérbio contemporâneo: “Automatizar com a IA um processo ineficiente apenas o acelera para o caos” Antes de introduzir tecnologia, é essencial análise rigorosa para identificar causas raiz da variação e ineficiência. A verdadeira melhoria exige implementar soluções eficazes que otimizem os processos – e só então, quando os fundamentos estão sólidos, integrar a tecnologia como um potenciador. Caso contrário, corre-se o risco de perpetuar ou até amplificar a ineficiência existente.

O Lean Six Sigma continua a ser uma bússola indispensável para as organizações que aspiram a prosperar num mundo em rápida transformação. Mais do que eliminar desperdícios, esta abordagem estrutura processos, identifica riscos e maximiza o potencial das pessoas e das tecnologias emergentes. Ao criar esta base de eficiência e clareza, torna-se possível integrar ferramentas avançadas, como agentes de IA multimodais, que monitorizam e ajustam operações em tempo real. Assim, as organizações podem construir ecossistemas resilientes, eficientes e capazes de responder rapidamente às mudanças.

Contudo, a implementação eficaz não se limita à tecnologia; exige formação contínua – não apenas em competências técnicas, mas também no desenvolvimento de soft skills, como pensamento crítico e adaptabilidade. Estas capacidades funcionam como X’s vitais para desbloquear o verdadeiro potencial dos algoritmos avançados, que já não seguem padrões determinísticos, mas que ainda assim podem ser testados até à exaustão. Este processo de validação rigorosa permite que os humanos, mesmo sem compreenderem plenamente o funcionamento interno destes sistemas, desenvolvam confiança neles. É nesta interação entre teste, aceitação e liderança informada que as máquinas se tornam aliadas, enquanto os humanos continuam a liderar com visão, adaptando-se a um mundo onde a tecnologia não substitui, mas complementa, a intuição e a responsabilidade

Conclusão

Entramos numa Era de Excelência Digital, onde tecnologia, sustentabilidade e competências práticas definem o sucesso empresarial. Portugal, com o seu ecossistema inovador, encontra-se numa posição única para liderar esta transformação. Integrar IA e Lean Six Sigma nos processos organizacionais não é apenas uma vantagem competitiva – é uma necessidade para aqueles que aspiram a criar valor duradouro. No entanto, é fundamental lembrar que a verdadeira inteligência não reside apenas na tecnologia, mas na forma como ela é aplicada. Como se afirma, “inteligência é saber o que fazer quando não se sabe o que fazer.” É neste equilíbrio que encontramos a verdadeira inovação. Além disso, “a verdadeira inteligência artificial é saber quando não usar inteligência artificial.” Esta reflexão destaca a importância de reconhecer os limites da tecnologia e a necessidade de manter a interação humana em contextos que exigem criatividade, empatia e decisões complexas.

Por fim, a ilusão da automação total permanece como uma armadilha frequente. Muitas empresas acreditam que a IA resolverá todos os seus problemas, mas ignoram que a tecnologia é, acima de tudo, uma ferramenta. Sem processos eficientes e uma integração estratégica, o potencial de transformação fica comprometido.

O desafio está lançado, em 2025 não será apenas a capacidade de acompanhar a velocidade da inovação, mas garantir que cada passo tecnológico reflete práticas otimizadas e centradas no Cliente. Porque o futuro pertence àqueles que equilibram tecnologia, propósito e humanidade, transformando cada inovação em valor real.

 

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