Hospital da Feira aponta grávidas estrangeiras como mais sujeitas a ansiedade

8 de Fevereiro 2025

As coordenadoras dos novos gabinetes de terapia multissensorial do Hospital São Sebastião defenderam hoje que as grávidas e parturientes de nacionalidade estrangeira se revelam mais sujeitas a ansiedade e depressão do que as congéneres portuguesas.

O tema foi abordado com a Lusa no contexto das condições emocionais e de saúde mental que justificam que as utentes dos serviços de obstetrícia e neonatologia dessa unidade do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto tenham agora acesso a terapêuticas Snoezelen, que, mediante recursos como música, efeitos de luz e ótica, massagem e manipulação de objetos, visam diminuir os seus níveis de ansiedade, stress, nervosismo e depressão, entre outros fatores de risco.

“A gravidez e os primeiros tempos de vida do bebé constituem um período crítico e vulnerável para a saúde mental da mãe e da criança”, começa por explicar a médica Denise Souza, da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do referido hospital da Unidade Local de Saúde do Entre Douro e Vouga.

Em 2024, registaram-se nesse hospital 1.356 nascimentos, sendo que, desses, 187 foram de bebés cujas mães não eram portuguesas.

“Em condições normais, estar à espera de bebé ou começar a criá-lo já é problemático por si só, mas, para uma mulher estrangeira a viver em Portugal e dependente de burocracias para ter a sua vida regularizada, a situação é ainda mais complicada e causa muita ansiedade”, complementa a neonatologista.

Catarina Aguiar Branco, médica do serviço de Medicina Física e Reabilitação que também integra a equipa especializada na terapia ‘Snoezelen’, dá exemplos de utentes de nacionalidade estrangeira que entram no hospital “muito mais agitadas do que as portuguesas” porque, embora vivendo e dando à luz em Santa Maria da Feira, precisam de tratar dos respetivos processos de legalização em concelhos como Marco de Canavezes, que, a cerca de 80 quilómetro de distância, “são mais céleres a emitir os vistos de residência”.

Especialista em saúde materna e obstétrica, a enfermeira Ana Patrícia Oliveira realça que a angústia também afeta os companheiros das grávidas e recém-mães, o que cria no ambiente familiar “uma tensão que não é benéfica para ninguém, muito menos para o bebé”. É por isso que a prescrição de uma sessão ‘Snoezelen’ também pode ser alargada ao pai, à segunda mãe ou a outro familiar responsável pela criança – no que os homens, de início, são os que mais se revelam “de pé atrás, para depois, afinal, serem os primeiros a querer repetir”.

Já quando mãe e bebé têm alta, evitar uma recaída passa por ensinar os beneficiários da terapêutica senso-relax “a replicarem em casa o que aprenderam no hospital”, o que a enfermeira especialista Dulce Brito diz que é possível, não tanto com a afetação de um quarto inteiro a esse tipo de terapia, mas com “a adaptação de pequenos aspetos do dia-a-dia a novos hábitos de calma e relaxamento, como definir uma hora certa para ouvir música ou fazer exercícios de respiração a média luz”.

Além de grávidas e parturientes, as novas salas terapêuticas também se destinam a utentes do serviço de Medicina Física e Reabilitação – o que abrange, por exemplo, vítimas de acidente vascular cerebral, doentes pulmonares crónicos, adultos com demência e crianças com autismo ou dificuldades psicomotoras – e estará ainda disponível para os funcionários que trabalham nos respetivos serviços.

No máximo da sua capacidade, as terapias senso-relax do Hospital da Feira podem assim chegar a cerca de 1.500 grávidas e parturientes, igual número de acompanhantes, 125 funcionários do serviço de Ginecologia e Obstetrícia, e 145 do de Pediatria e Neonatologia, ao que acrescem 800 utentes das várias áreas de especialização de Medicina Física e Reabilitação, e 94 profissionais dessa área – num universo global superior, portanto, a 2.800 pessoas.

LUSA/HN

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