Álvaro Santos Almeida: “Desafios globais da saúde na próxima década”

21 de Março 2025

Álvaro Santos Almeida, Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde, destacou hoje, no Cascais International Health Forum 2025 os principais desafios globais da saúde para a próxima década, com ênfase no envelhecimento populacional, escassez de profissionais e a necessidade de maior eficiência no setor.

Álvaro Santos Almeida, Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS), proferiu uma comunicação no Cascais International Health Forum 2025, realizado no Estoril, onde abordou os principais desafios globais que os sistemas de saúde enfrentarão na próxima década. A sua intervenção centrou-se em questões como o envelhecimento populacional, a escassez de profissionais de saúde, a necessidade de maior eficiência e a importância de colocar o cidadão no centro das políticas de saúde.

Um dos pontos mais relevantes destacados pelo DE-SNS foi o aumento da procura por cuidados de saúde, impulsionado pelo envelhecimento da população. A maior longevidade, embora seja um sinal positivo dos avanços médicos, também traz consigo um aumento dos anos vividos com problemas de saúde, o que pressiona ainda mais os sistemas de saúde. Em Portugal e na Europa, observa-se um crescimento significativo do número de pessoas idosas que necessitam de cuidados médicos contínuos, o que exige uma resposta mais robusta e eficiente por parte dos serviços de saúde.

Outro desafio crucial é a escassez de profissionais de saúde. Álvaro Almeida referiu que, nos últimos anos, quase todos os países europeus enfrentaram dificuldades em recrutar e reter profissionais qualificados. Esta escassez é particularmente preocupante para o SNS português, que compete com outros sistemas de saúde europeus e com o setor privado para atrair talentos. A falta de profissionais limita a capacidade de resposta do sistema, especialmente num contexto em que as necessidades de saúde da população continuam a crescer.

A digitalização foi apontada como uma das áreas mais promissoras para melhorar a eficiência dos sistemas de saúde. Álvaro Almeida destacou que a pandemia acelerou a transição digital, permitindo que os serviços de saúde se tornassem mais eficientes e capazes de prestar cuidados com menos recursos. No entanto, esta transformação exige uma reforma profunda na forma como os sistemas de saúde estão organizados, bem como uma gestão da mudança que seja capaz de superar a resistência natural a alterações em estruturas complexas e burocráticas.

O financiamento dos sistemas de saúde também foi um tema central na intervenção do DE-SNS, que alertou para o aumento significativo das despesas de saúde em percentagem do PIB, tanto a nível público como privado. Este aumento, que se tornou mais evidente durante a pandemia, não desapareceu e continua a pressionar os orçamentos nacionais. Almeida sublinhou que, num contexto de restrições orçamentais, é essencial encontrar formas de controlar os custos sem comprometer a qualidade dos cuidados prestados.

Um dos aspetos mais inovadores da sua intervenção foi a ênfase na satisfação do cidadão. Álvaro Almeida criticou a tendência de os sistemas de saúde se focarem excessivamente na produção de serviços, em detrimento das necessidades e expectativas das pessoas, defendendo que o SNS deve ser visto como um serviço que serve as pessoas, e não como uma máquina de produção de tratamentos. A satisfação dos cidadãos com os sistemas de saúde tem vindo a cair em toda a Europa, e Portugal não é exceção. Almeida argumentou que é fundamental simplificar o acesso aos serviços e garantir que as necessidades dos cidadãos são atendidas de forma eficaz e humana.

Para enfrentar estes desafios, o dirigente propôs uma estratégia baseada em três pilares: foco na prevenção, maior eficiência e satisfação do cidadão, defendendo que os sistemas de saúde devem apostar mais na prevenção e na promoção da saúde, em vez de se concentrarem apenas no tratamento de doenças. Além disso, defendeu, é essencial aumentar a eficiência na gestão dos recursos, tanto humanos como financeiros, para garantir a sustentabilidade do sistema a longo prazo.

Por fim, Álvaro Almeida destacou o papel da Direção Executiva do SNS na coordenação e gestão da rede de serviços de saúde, defendendo uma abordagem que promova a autonomia das instituições, mas que também garanta a coerência e a articulação entre os diferentes níveis de cuidados. A gestão integrada dos recursos, especialmente os mais escassos, é fundamental para assegurar que o SNS possa responder de forma eficaz às necessidades da população.

Álvaro Santos Almeida deixou claro que, embora os desafios sejam significativos, é possível melhorar o SNS passo a passo. A sua visão é a de um sistema de saúde mais resiliente, eficiente e centrado no cidadão, capaz de enfrentar os desafios globais da próxima década.

HN/MMM

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