No âmbito do Cascais International Health Forum 2025, que decorre no Estorial, Giovanni Viganó, consultor sénior e perito em políticas públicas no Programma Mattone Internazionale Salute (ProMIS), abordou um dos temas mais prementes da atualidade: o envelhecimento da população e a gestão de doenças crónicas. A sua intervenção centrou-se nos desafios que países como Itália e Portugal enfrentam, destacando a necessidade de adaptação dos sistemas de saúde para responder a uma população cada vez mais envelhecida e com necessidades complexas de cuidados de saúde.
Viganó começou por sublinhar que a Itália é um dos países mais envelhecidos da Europa, com uma esperança média de vida de 83,5 anos em 2023 e uma taxa de natalidade das mais baixas do continente. Estima-se que, até 2050, 35% da população italiana terá mais de 65 anos, o que coloca uma pressão significativa sobre o sistema de saúde, especialmente no que diz respeito ao aumento da procura de serviços geriátricos e de gestão de doenças crónicas. Esta realidade não é exclusiva da Itália, sendo partilhada por outros países mediterrânicos, como Portugal, que enfrentam desafios demográficos semelhantes.
Um dos pontos centrais da apresentação de Viganó foi o impacto das doenças crónicas nos sistemas de saúde. Na Itália, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, representando cerca de 35% da mortalidade total. Além disso, doenças como a diabetes e as patologias neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, são também preocupações maiores. A gestão destas doenças crónicas consome 75% do orçamento de saúde italiano, o que evidencia a necessidade de políticas eficazes e sustentáveis para lidar com este cenário.
Para enfrentar estes desafios, a Itália tem implementado uma série de reformas nos últimos anos, muitas delas enquadradas no Plano de Recuperação e Resiliência da União Europeia. Entre as principais medidas está o Decreto Ministerial 77, que visa reorganizar o sistema de saúde com ênfase na assistência territorial. Esta reforma procura garantir que os idosos recebam cuidados integrados e contínuos nas suas comunidades, reduzindo a dependência de cuidados institucionais.
Outra reforma importante é a Lei 33, que promove o envelhecimento ativo e a redução do isolamento social. Esta lei inclui medidas como um subsídio universal para pessoas com mais de 80 anos e iniciativas comunitárias que promovem a intergeracionalidade, como habitações para idosos e uma melhor coordenação entre os serviços de saúde e sociais.
Viganó destacou ainda o papel crucial dos cuidadores informais, que atualmente asseguram 70% dos cuidados prestados aos idosos em Itália. Para apoiar estes cuidadores, o país está a trabalhar na criação de um quadro legal mais abrangente, que inclui incentivos financeiros, como o “bónus do cuidador”, e medidas de apoio psicológico e serviços de descanso.
A inovação tecnológica também foi abordada como uma solução promissora para os desafios do envelhecimento populacional. A telemedicina e os dispositivos digitais foram apontados como ferramentas essenciais para melhorar a gestão de doenças crónicas e apoiar os cuidadores.
No contexto europeu, Viganó mencionou a iniciativa Jakarti, um projeto financiado pela União Europeia que visa reduzir o impacto das doenças cardiovasculares e da diabetes em vários países, incluindo Itália e Portugal. Esta iniciativa promove a partilha de boas práticas e a cooperação entre os sistemas de saúde europeus.
A fechar a sua intervenção, Giovanni Viganó sublinhou que a Itália serve como um caso de estudo importante para outros países europeus que enfrentam desafios semelhantes relacionados com o envelhecimento da população. Apesar das dificuldades, afirma, há oportunidades para inovar e implementar reformas que possam servir de modelo para outras nações. A experiência italiana demonstra que, com políticas adequadas e investimento em inovação, é possível garantir a sustentabilidade dos sistemas de saúde num contexto de envelhecimento populacional.
HN/MM
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