Healthnews (HN) – Considerando que a Semana Europeia da Vacinação 2025 destaca a necessidade de uma cobertura vacinal equitativa, quais são os principais obstáculos que impedem o acesso igualitário às vacinas em diferentes regiões europeias e como podem ser ultrapassados?
Rodrigo Costa (RC) – A região europeia é altamente diversificada, sendo que vários fatores contribuem para esta problemática. Em primeiro lugar, há diferenças estruturais nos sistemas de saúde, que têm implicações diretas na acessibilidade aos cuidados. Em segundo lugar, trata-se de uma área geográfica ampla e diversificada, com zonais rurais ou com menos recursos, mais suscetíveis a barreiras logísticas. A população é, igualmente, heterogénea, marcada por desigualdades socioeconómicas e pela presença de múltiplas comunidades migrantes. Outro ponto fundamental é a desinformação e hesitação vacinal, alimentadas por fontes menos credíveis ou por experiências negativas prévias com o sistema de saúde. Ultrapassar estes desafios exige uma abordagem integrada e multidisciplinar, incluindo campanhas de sensibilização dirigidas, investimento nos serviços de saúde de proximidade e promoção de políticas de vacinação equitativas.
HN – Estudos recentes demonstraram que as vacinas contra a COVID-19 salvaram mais de 1,6 milhões de vidas na região europeia. Como podemos utilizar esta experiência para fortalecer os programas de vacinação contra outras doenças preveníveis?
RC – A redução da mortalidade associada à vacinação contra a COVID-19 é mais uma prova da importância e impacto desta estratégia de prevenção. Demonstrou que a mobilização de recursos e profissionais, assim como campanhas de informação eficazes, podem ter um impacto significativo na saúde das populações. Destacou, ainda, a necessidade de promover redes de colaboração entre organizações. Fundamentalmente, mostrou-nos que, combinando medidas políticas com o envolvimento dos sistemas de saúde da população, é possível atingir resultados extraordinários em pouco tempo.
HN – Nos últimos anos, tem-se observado um declínio na confiança do público relativamente à vacinação. Quais as estratégias que considera mais eficazes para combater a desinformação e recuperar a confiança nas vacinas?
RC – A desinformação é, provavelmente, o principal fator que tem contribuído para o declínio da confiança nas vacinas – elemento tão essencial para garantir adesão aos programas de vacinação. Apostar em comunicação clara, com mensagens curtas e baseadas na evidência é fundamental para contrariar este fenómeno. A utilização de canais diversificados, incluindo as redes sociais, poderá ser uma estratégia eficaz, além de envolver profissionais de saúde e figuras públicas para a transmissão de mensagens adaptadas à comunidade.
HN – A OMS identificou desafios específicos em zonas rurais remotas, áreas urbanas em rápida expansão e regiões afetadas por conflitos. Como podem os programas de vacinação ser adaptados para alcançar estas populações vulneráveis?
RC – Nestes contextos particulares, a estratégia poderá passar por levar a vacinação às pessoas. Em zonas rurais remotas ou regiões afetadas por conflitos, a solução envolve equipas de proximidade e flexíveis, associado a redes de transporte adequadas. Em áreas urbanas em rápida expansão, onde existe elevada pressão sobre os serviços, é essencial investir nos centros de saúde, de forma a aumentar a capacidade de resposta dos existentes e, quando necessário, criar novos.
HN – Existem evidências de que fatores socioeconómicos e educacionais influenciam significativamente o acesso à vacinação. Que medidas concretas podem ser implementadas para reduzir estas desigualdades no contexto europeu atual?
RC – Está bem estabelecido que determinantes socioeconómicos e educacionais têm um impacto significativo na saúde das populações. Em linha com o que foi dito anteriormente, investir na literacia em saúde, cuidados de proximidade e envolver estruturas da comunidade, como as escolas, são estratégias que podem reduzir desigualdades no acesso à vacinação.
HN – Com o recente aumento de casos de COVID-19 e o potencial surgimento de outras doenças infeciosas, que lições aprendemos sobre a importância de manter os calendários vacinais atualizados e que papel podem desempenhar as campanhas de reforço?
RC – A vacinação é uma das intervenções com maior impacto na saúde da população mundial, particularmente em grupos vulneráveis e de risco acrescido. Manter a vacinação atualizada é fundamental e as campanhas de reforço são determinantes, não só para reduzir o impacto das doenças preveníveis, mas também como oportunidade para fomentar o contacto com sistema de saúde, permitindo prestar cuidados de forma oportunista e integrada.
Entrevista MMM
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