Carlos Cortes: Prioridades da Ordem dos Médicos para o XXV Governo

04/27/2025
Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, defende que o próximo Governo deve apostar na valorização dos recursos humanos, na reforma da gestão do SNS e na centralidade da pessoa nos cuidados de saúde. Propõe políticas de retenção de médicos, autonomia de gestão e humanização transversal do sistema.

  1. Saúde: uma prioridade estrutural e éticaAs eleições legislativas representam uma oportunidade para recentrar a saúde como prioridade nacional. Na verdade, o tema nunca saiu do discurso público e político. O Serviço Nacional de Saúde não pode continuar a ser gerido por ciclos curtos, medidas avulsas e respostas tardias. A sua reconstrução exige visão, coragem e responsabilidade. Há três eixos centrais, entre vários outros, que devem merecer atenção imediata.
    Recursos humanos em rotura.
    Sem médicos, não há cuidados de saúde. A falta de profissionais, a desvalorização da carreira médica, a ausência de condições dignas de trabalho e a estagnação nas progressões têm provocado um preocupante abandono do SNS. A emigração e o afastamento para o setor privado são sinais de alerta. Valorizar quem cuida é garantir acesso, continuidade e qualidade no sistema público. Isso exige políticas claras de retenção, dignificação da carreira médica, respeito pela autonomia profissional e pelo ato médico.
  2. Reorganização do SNS e da sua gestão.
    O modelo atual está esgotado. A reforma da governação do SNS é inadiável: deve ser técnica, transparente e centrada em resultados. A autonomia de gestão, a responsabilização, a liderança clínica e a desburocratização são essenciais. É tempo de um sistema que respeite o conhecimento, valorize o mérito e promova uma verdadeira cultura de serviço público, com estabilidade e visão de longo prazo.
  3. A centralidade da pessoa.
    A humanização é um fator essencial de desenvolvimento de qualquer sistema de saúde. A saúde não pode ser apenas um processo administrativo. Exige ética, atenção, respeito, literacia e acesso digno. A independência técnica dos médicos e o seu próprio bem-estar são pilares essenciais para um cuidado responsável e não podem ser comprometidos por lógicas políticas ou economicistas. A humanização dos cuidados tem de ser mais do que um princípio, tem de ser uma prática transversal a todo o sistema.
    A tutela tem a obrigação de garantir os meios e o ambiente certos para cuidar com qualidade, ciência e humanidade. É tempo de um novo compromisso com a saúde: estrutural, ético e duradouro.

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LEGISLATIVAS 2024

AD/Ana Paula Martins: “Recursos humanos na saúde é a principal preocupação da AD”

Com as Eleições Legislativas 2024 à porta, as promessas nos partidos florescem. Mas o que é que a Aliança Democrática (AD) propõe de diferente para o setor da Saúde? Foi esta e mais perguntas que o nosso jornal quis ver respondidas em entrevista à candidata número três por Lisboa. Em Exclusivo, Ana Paula Martins afirmou que a coligação PSD/CDS-PP e PPM quer resolver de vez o problema de recursos humanos na saúde, garantindo: “Não vamos reter ninguém. Somos completamente contra pactos de permanência”. Entre as diversas propostas da AD destaca-se a implementação de um Plano de Emergência SNS 2024-2025, um Plano de Motivação dos Profissionais de Saúde, a digitalização e reorganização de algumas áreas do sistema.

CHEGA/Pedro Frazão: “Queremos acabar com a Direção Executiva”

Conhecidos pela sua forte oposição às políticas de Saúde da esquerda, o CHEGA promete um novo paradigma na Saúde. No especial Legislativas 2024, o partido garantiu ao HealthNews que “o acesso à saúde será uma promessa cumprida” caso resultem vencedores nas próximas eleições. Pedro Frazão, o médico veterinário que volta a liderar a lista por Santarém, afirma que o CHEGA quer reverter algumas das reformas mais importantes do Serviço Nacional de Saúde. “Queremos alterar o Estatuto do SNS e revogar a previsão do diretor executivo”, sublinhou. 

IL/Joana Cordeiro: “A solução para a falta de médicos de família passa pela contratualização e criação de USF modelo C”

O acesso universal aos cuidados de saúde primários só pode ser conseguido com a contratualização com o setor privado e social, de acordo um dos partidos candidatos às Eleições Legislativas de 2024. Em entrevista ao HealthNews, Joana Cordeiro, cabeça de lista da Iniciativa Liberal (IL) pelo Distrito de Setúbal, destacou algumas das propostas do partido no âmbito da Saúde. A IL, que recusa ter como objetivo a privatização do Serviço Nacional de Saúde, diz que a solução para a falta de médicos de família passa pela criação de USF modelo C. 

CDU/Jorge Pires: “Não podemos ter ao mais alto nível de direção pessoas escolhidas pelo cartão partidário”

O Partido Comunista Português acredita que “existe força suficiente para defender o SNS”, “apesar da ofensiva a que tem sido sujeito”. “A direita, em muitas situações com o apoio do PS, tem um projeto político que passa pela criação de um sistema de saúde a duas velocidades: um serviço público desvalorizado a funcionar em mínimos para os mais pobres e outro recorrendo a privados e aos seguros de saúde”, disse ao HealthNews Jorge Pires, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP. Sistemas Locais de Saúde, gestão democrática das unidades públicas de saúde, contratação de mais profissionais e libertação das imposições da União Europeia são algumas das lutas aprofundadas nesta entrevista.

BE/Bruno Maia: “Não há milagres. Só contratando mais profissionais de saúde”

Para o Bloco de Esquerda, “fazer o que nunca foi feito”, lema da sua campanha, aplica-se “perfeitamente” à saúde. Pela voz do neurologista e intensivista Bruno Maia, cabeça de lista por Braga, o partido apresenta ao HealthNews as suas medidas para robustecer o Estado Social, nomeadamente o Serviço Nacional de Saúde, e propõe a criação de um Serviço Nacional de Cuidados para atuar na infância, na velhice, na dependência e na doença crónica.

PAN/Rafael Pinto: “O sistema atual não serve”

Numa corrida contra o tempo, todos os partidos candidatos às Legislativas 2024 tentam convencer o eleitorado do “porquê” devem ser eleitos para Governar. Na Saúde, o PAN promete tomar as rédeas com uma visão diferenciadora – One Health. Em entrevista ao HealthNews, Rafael Pinto insiste na necessidade de executar todas as verbas que são orçamentadas nesta área. Apesar de defender um maior financiamento público na Saúde, o cabeça de lista do partido por Braga afirma que o PAN tem “uma postura moderada no que toca a Parcerias Público-Privadas”. 

LIVRE/Raquel Pichel: “Queremos implementar o estatuto do clínico-investigador”

Que “Contrato com o Futuro” propõe o LIVRE para o país? Na saúde, são cinco os eixos prioritários: reforçar e reorganizar o Serviço Nacional de Saúde; valorizar as carreiras profissionais no SNS; promover a saúde e prevenir a doença; humanizar os cuidados de saúde e investir na saúde mental. O HealthNews questionou uma médica candidata pelo círculo eleitoral do Porto sobre todos eles. “Na área da saúde, acreditamos que é preciso continuar a reforma do SNS, e vamos, claro, observar atentamente o alargamento do modelo de ULS”, frisou Raquel Pichel.

ÚLTIMAS

Prioridades para a Saúde nas Legislativas 2025: Propostas de Pedro Pita Barros

Pedro Pita Barros, especialista em economia da saúde e professor da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), propõe para as legislativas de 18 de maio um reforço do SNS, valorização dos profissionais, aposta nos cuidados primários e continuados, redução dos pagamentos diretos das famílias, estabilidade na gestão das ULS e consensos na saúde oral e mental, destacando a necessidade de medidas concretas e transversais

Prioridades para a Saúde: Propostas de Fernando Leal da Costa para o XXV Governo Constitucional

Fernando Leal da Costa, Professor Universitário e ex-ministro da Saúde, defende como prioridades para o próximo Governo: revisão da Lei de Bases da Saúde e do Estatuto do SNS, reforma administrativa, reforço da gestão local, digitalização dos processos clínicos, controlo estatal da ADSE, redefinição dos recursos humanos, avaliação da eficiência, renovação hospitalar e aposta na prevenção.

Legislativas / Propostas dos partidos para a Saúde

Com a saúde como tema prioritário nos programas eleitorais, os partidos com assento parlamentar focam-se no aumento da remuneração dos profissionais, com a esquerda a ir mais longe para fixar médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Os programas eleitorais divergem sobretudo em matéria de parcerias público-privadas (PPP’s) em que os partidos mais à esquerda querem o fim destes contratos com privados enquanto a direita defende a sua eficácia.

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