Introdução
O Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), enquanto aliança que congrega 74 das principais organizações de saúde em Portugal, assume a responsabilidade e a autoridade de propor uma agenda ambiciosa e transformadora para as Eleições Legislativas de maio de 2025. Inspirados pelo reconhecimento internacional do direito a um ambiente limpo, saudável e sustentável, e conscientes da urgência das crises climática e ambiental, apresentamos este Manifesto como contributo essencial para a construção de políticas públicas que coloquem a saúde e o ambiente no centro da governação nacional.
Princípios Orientadores
- Ambiente em Todas as Políticas: Todas as decisões políticas, em qualquer setor, devem incorporar critérios ambientais, reconhecendo que a saúde e a sustentabilidade são indissociáveis. O ambiente deve ser critério obrigatório em todas as decisões, a todos os níveis de governação.
- One Health: Defender a abordagem integrada da saúde humana, animal e ambiental, promovendo a interdependência entre estes domínios2.
- Base Científica: Todas as políticas públicas devem ser sustentadas pelo melhor conhecimento científico disponível.
- Justiça Intergeracional: Assegurar que as decisões de hoje não comprometam o bem-estar e os direitos das gerações futuras.
Eixos de Intervenção e Propostas
- Reduzir o Impacto das Alterações Climáticas e da Degradação Ambiental na Saúde
- Implementação de uma estratégia nacional e de estratégias setoriais para mitigação e adaptação aos impactos das alterações climáticas na saúde, com metas claras e mensuráveis.
- Criação de uma Base de Dados de Indicadores Ambientais e de Saúde, de cobertura nacional e acesso aberto, para monitorização e avaliação contínua das políticas.
- Inclusão obrigatória de critérios de emissões líquidas nulas de Gases com Efeito de Estufa (GEE) em todas as contratações e adjudicações públicas, alinhadas com o roteiro português para a neutralidade climática.
- Revisão urgente de leis obsoletas, como a lei dos resíduos e a proibição de reutilização de dispositivos médicos, que impedem a implementação de práticas sustentáveis.
- Reduzir a Pegada Ecológica do Setor da Saúde
- Criação de Serviços de Sustentabilidade Ambiental em todas as instituições de saúde, com autonomia e recursos para implementar e monitorizar boas práticas ambientais.
- Publicação anual da pegada carbónica de todas as organizações do sistema de saúde, acompanhada dos resultados das estratégias de redução implementadas.
- Promoção da certificação “Hospitais Verdes” e adoção de critérios ambientais na escolha de medicamentos, vacinas e nos processos de fabrico, acondicionamento e embalagem de produtos de saúde.
- Implementação de medidas transversais: redução do uso de papel, promoção de reuniões virtuais, digitalização dos pontos de contacto com utentes e incentivo a estilos de vida saudáveis e à medicina de proximidade.
- Capacitar o Sistema de Saúde para Responder à Crise Climática
- Formação contínua de profissionais de saúde em sustentabilidade, alterações climáticas e saúde ambiental.
- Integração da literacia ambiental e climática nos curricula dos cursos de saúde e promoção de campanhas públicas de sensibilização para os impactos das alterações climáticas na saúde2.
- Incentivo à investigação e inovação em saúde ambiental, incluindo financiamento específico para projetos de mitigação e adaptação.
- Aumentar a Consciencialização Pública e Profissional
- Desenvolvimento de campanhas nacionais para informar sobre a relação entre ambiente e saúde, promovendo comportamentos individuais e coletivos sustentáveis.
- Participação ativa das comunidades na definição e acompanhamento das políticas de saúde ambiental, assegurando transparência e inclusão.
- Promover a Economia Circular e Combater o Desperdício
- Introdução da lógica da Economia Circular em todos os setores relevantes, incluindo a saúde, com enfoque na reutilização, reciclagem e redução do desperdício.
- Incentivos à prevenção, reutilização e reparação de dispositivos médicos e outros equipamentos, combatendo a cultura do descartável.
- Revisão das taxas de gestão de resíduos e responsabilização dos produtores, promovendo sistemas de compostagem descentralizada e soluções inovadoras para a gestão de resíduos5.
- Liderança Nacional e Internacional
- Portugal deve assumir uma posição de liderança na defesa da sustentabilidade, apoiando a implementação do Pacto Ecológico Europeu e exigindo metas ambiciosas nos fóruns internacionais
- Inclusão de cláusulas obrigatórias de sustentabilidade em todos os acordos comerciais internacionais e revisão dos regulamentos europeus para proteger a saúde e o ambiente5.
Apelo Final
O CPSA desafia todos os partidos políticos e candidatos às Eleições Legislativas de maio de 2025 a assumirem um compromisso inequívoco com a saúde e o ambiente, integrando estas propostas nos seus programas e ações governativas. Não há prosperidade sem natureza, nem saúde sem sustentabilidade. O futuro de Portugal depende da coragem, visão e responsabilidade das suas lideranças políticas para colocar a saúde e o ambiente no centro das decisões.
Por um Portugal saudável, sustentável e justo, o CPSA apresenta este Manifesto como roteiro para a próxima legislatura e para um futuro digno para todas as gerações.
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