O Brexit teve consequências profundas e mensuráveis no sistema de saúde britânico, de acordo com um novo estudo da Universidade de Surrey. Nos três anos seguintes ao referendo de 2016, a saída de enfermeiros provenientes da União Europeia (UE) do Serviço Nacional de Saúde (NHS) resultou em 1.485 mortes adicionais por ano no Reino Unido, evidenciando o impacto direto da decisão política na vida dos pacientes.
A investigação, publicada como Discussion Paper pelo Instituto de Economia do Trabalho (IZA), analisou dados administrativos de pacientes em 131 hospitais ingleses. Os investigadores avaliaram o peso dos enfermeiros da UE no quadro de pessoal antes do referendo, que variava entre 0,5% e 22%, com uma média de 5,84%. Hospitais com maior proporção de enfermeiros europeus foram os mais afetados pelo choque negativo na oferta de mão-de-obra após o voto para sair da UE.
O estudo estima que, em média, cada hospital com exposição média ao impacto do Brexit registou 34 mortes adicionais por ano. A saída de enfermeiros da UE levou a uma queda abrupta na entrada destes profissionais, acompanhada de um aumento na contratação de enfermeiros oriundos de fora da UE, frequentemente com menos experiência e remunerações mais baixas. Esta alteração na composição da força de trabalho foi identificada como o principal mecanismo para o aumento das taxas de mortalidade hospitalar e de readmissões de emergência, descartando outras explicações como mudanças demográficas dos pacientes ou alterações na produtividade hospitalar.
O impacto financeiro também foi significativo: a redução de enfermeiros da UE custou ao NHS cerca de 61,9 milhões de libras por ano devido ao aumento das readmissões não planeadas, valor que poderia ter financiado milhares de novos profissionais de enfermagem4. O estudo sublinha ainda que a dependência do NHS de enfermeiros estrangeiros se manteve elevada após o Brexit, mas com uma mudança do recrutamento europeu para países terceiros, muitos deles com escassez de profissionais de saúde.
Os autores do estudo defendem que estas conclusões devem servir de alerta para a necessidade de políticas que promovam a formação e retenção de profissionais de saúde no Reino Unido, reduzindo a vulnerabilidade do sistema a choques externos e garantindo a qualidade dos cuidados prestados à população.
NR/HN/Alphagalileo
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