Rosário Trindade apela a colaboração estruturada no Health Re:Design Summit

13 de Maio 2025

Rosário Trindade, Diretora de Assuntos Corporativos e Acesso ao Mercado da AstraZeneca, defendeu hoje no Health Re:Design Summit, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, a necessidade de uma colaboração mais estruturada e responsável entre setor público e privado para garantir o acesso equitativo à saúde em Portugal.

A Reitoria da Universidade Nova de Lisboa foi palco, esta terça-feira, do Health Re:Design Summit, um dos principais fóruns nacionais de debate sobre o futuro da saúde, onde se reuniram líderes institucionais, especialistas, representantes de associações de doentes e decisores do setor público e privado. Entre os intervenientes de destaque esteve Rosário Trindade, Diretora de Assuntos Corporativos e Acesso ao Mercado da AstraZeneca, que deixou um apelo claro à necessidade de repensar a colaboração entre os diferentes atores do sistema de saúde português.

No painel dedicado às parcerias entre o setor público e privado, Rosário Trindade começou por sublinhar que o debate sobre a sustentabilidade financeira do sistema de saúde não pode ser reduzido à questão do financiamento. “Há uns dias tive uma reunião com um alto dirigente da área da saúde que dizia que o problema não era falta de dinheiro. O problema era dinheiro a mais. Portanto, como se arranjava sempre maneira de ir pagando, nem que fosse empurrando com a barriga e, portanto, no final aparecia esse cheque”, relatou, evidenciando que a gestão dos recursos exige mais do que mera disponibilidade orçamental.

Para a responsável da AstraZeneca, a questão central reside na autonomia e responsabilidade dos decisores. “Há uma série de decisões que têm a ver com autonomia e responsabilidade, ser ou não ditado para gerir e tomar decisões e depois ser responsabilizado por elas, que fazem com que não se procurem soluções ou, pelo menos, não se procurem soluções estruturais”, afirmou, apontando para a tendência de “gerir o dia-a-dia”, evitando riscos e adiando reformas essenciais, o que, segundo Trindade, pode comprometer carreiras na administração pública, mas sobretudo o futuro do sistema de saúde.

Rosário Trindade defendeu que a indústria farmacêutica pode e deve ser parceira ativa na busca de soluções, não apenas na inovação em medicamentos, mas também na partilha de boas práticas e no desenho de programas alargados de diagnóstico e intervenção. “Podemos ser parceiros naquilo que já fazemos, trabalhar em diagnósticos, em programas mais alargados, contribuir para as definições estratégicas. Acho que podemos ser parceiros e temos sido em partilhar essas boas experiências que temos conhecimento ou que desenvolvemos e que muitas vezes têm capacidade de poderem ser adotadas, não tendo cada vez que precisamos de uma solução ou que temos um problema de reinventar a roda”, explicou.

A dirigente sublinhou que, para que esta colaboração seja efetiva, é necessário um compromisso mais estruturado e menos competitivo entre os vários intervenientes do setor. “Temos que aprender também nós a trabalhar de forma mais colaborativa e de acreditarmos que cada um de nós pode, em áreas diferentes, fazer coisas complementares e contribuir para este desígnio de melhorar a saúde dos portugueses, garantindo que o acesso aos melhores cuidados é feito de forma equitativa”, frisou.

Rosário Trindade recordou ainda iniciativas passadas, como a proposta de criação de bolsas de financiamento para projetos inovadores no setor da saúde, sugerindo que a avaliação e a partilha de resultados devem ser incentivadas para evitar redundâncias e promover a adoção de soluções já testadas com sucesso noutras realidades. “Muitas vezes a indústria compete entre si na forma como trabalha com os outros intervenientes do setor da saúde. Portanto, temos que aprender também nós a trabalhar de forma mais colaborativa”, reforçou.

A representante da AstraZeneca destacou ainda a importância do diálogo permanente com entidades como o Conselho Nacional de Saúde, associações de doentes e restantes parceiros do ecossistema, sublinhando que a construção de pontes é essencial para que o sistema responda aos desafios atuais e futuros. “O diálogo tem que continuar, com o Conselho Nacional de Saúde, com as restantes intervenientes, com as associações de doentes, enfim, com todos aqueles que estiverem disponíveis. E acho que nesta sala somos todos para procurar essas pontes que podem construir esse melhor sistema de saúde”, concluiu.

O Health Re:Design Summit, organizado pela Associação de Estudantes da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, reuniu ao longo do dia especialistas de referência nacional e internacional, com o objetivo de promover o debate em torno de políticas de saúde, inovação, liderança e transformação dos sistemas de saúde, num contexto marcado pela necessidade de respostas integradas aos desafios do acesso, equidade e sustentabilidade.

O evento incluiu ainda um concurso científico para projetos inovadores nas áreas da Saúde Digital, Sustentabilidade, Políticas de Saúde, Tecnologia, Transformação dos Sistemas de Saúde e Literacia em Saúde, reforçando o compromisso da academia e dos parceiros do setor em encontrar soluções concretas para os problemas emergentes.

A intervenção de Rosário Trindade ficou marcada por uma visão pragmática e colaborativa, apelando à responsabilidade partilhada e à valorização do papel de cada agente no sistema de saúde. A sua mensagem foi recebida com reconhecimento por parte dos restantes participantes, que sublinharam a importância de manter o diálogo aberto e construtivo para garantir que Portugal possa continuar a inovar e a assegurar o acesso equitativo à saúde para todos.

MMM

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