Para a maioria da população, 2020 tornou-se num ano complicado e ainda nem vai a meio. Situações como a pandemia, diversas catástrofes naturais, o decréscimo da economia e, para muitos, o desemprego, foram eventos que levaram ao declínio da saúde mental.
“O stresse é particularmente mau quando vivenciamos uma situação que foge ao nosso controlo”, diz o Dr. Kerry Ressler, professor de psiquiatria na Escola Médica de Harvard. “As pessoas podem-se sentir presas, encalhadas na vida e sem forma de sair”; Depois de um período traumático, e mesmo quando as coisas acalmam, pode ser difícil seguir com a vida e reavivar o sentimento de normalidade.
Então, como se pode reduzir o stresse e levantar depois de uma altura conturbada, seja ela resultado de uma emergência nacional ou apenas uma questão pessoal de má sorte?
Dê um passo atrás. Quando ocorre um evento traumático, seja um desastre natural, uma pandemia ou um tiroteio há que ficar a par das notícias, mas ao mesmo tempo evitar alimentar o trauma pela exposição em demasia à cobertura mediática, explica o Dr. Ressler. Há que limitar o tempo passado em frente ao ecrã ou a ler sobre os eventos do dia. O objetivo é estar informado sem aumentar os níveis de ansiedade. Há que desligar as notificações no telemóvel e ter noção do tempo que se passa nas redes sociais.
“As pessoas têm tendência a amplificar o pânico dos outros”, diz o Dr. Ressler. “Em vez disso, limitem a vossa exposição às notícias a um par de vezes por dia, depois desliguem. Ouçam um podcast que não esteja ligado ou façam uma corrida”;
Tome ação. “O que sabemos através de investigações é que uma das principais consequências da ansiedade é um sentimento de vulnerabilidade quando tudo parece fora de controlo”, refere o Dr. Ressler. Para reganhar esse controlo há que participar em atividades que possam ajudar outros a lidar com situações semelhantes. Faça-se voluntariado ou ajude-se nas cozinhas sociais. Até mesmo ajudar um amigo ou um vizinho pode mudar a perceção em relação ao seu papel como mais ativo. Abraçar um hobby ou um projeto de melhoria pessoal pode também ser um passo em frente.
Para quem ficou sem emprego, o tempo extra agora disponível pode ser utilizado para assistir a aulas ou aprender uma nova ferramenta. Por exemplo, existem várias aplicações que podem ser utilizadas para aprender uma nova língua.
Aproxime-se de alguém. Ligações sociais são cruciais em situações difíceis. Se não for possívelestar cara a cara com alguém, então há que recorrer à tecnologia com conferências de vídeo ou uma simples chamada telefónica.
Utilize óculos com lentes cor-de-rosa. Embora os conselhos para olhar para o lado positivo das coisas durante tempos difíceis possa parecer inútil, as provas indicam que o pensamento positivo pode levar alguém a ver as coisas de um prisma diferente, numa forma positiva que possa ajudar alguém a tornar-se mais resiliente face aos problemas, como explica o Dr. Ressler. Há que procurar o melhor de todas as situações. O desemprego, por exemplo, pode dar aso a novas oportunidades.
Seja paciente. Seguir em frente depois de um evento traumático demora tempo. Permita-se fazer luto. Segundo o Dr. Ressler, o luto não ocorre só perante a morte. Em vez disso, as pessoas experienciam-no em várias situações como a perda de uma oportunidade, ou algo pelo qual ansiavam. É preciso que a pessoa se deixe fazer luto para eventualmente estar disposta a ultrapassar a situação.
“É possível que a pessoa entre numa espiral de luto sem fim”, avisa o Dr. Kessler – por isso, há que manter pequenos objetivos. É possível recorrer a recompensas pelo comportamento e estratégias como respirar fundo, aromoterapia, consciencialização e atividade física para reduzir a ansiedade e começar a tentar seguir em frente.
Procure ajuda. Há que ter a certeza de que o stresse e a tristeza não se cruzam e conduzem à depressão. “Os sintomas da depressão sobrepõem-se com os sintomas normais de stress e luto”. Mas quando se notam alterações no apetite, energia ou motivação, ou se fica triste e existe vontade de chorar sem razão – ao longo de uma ou duas semanas – estes podem ser sintomas de depressão e recomenda-se ajuda médica, de acordo com o Dr. Kessler.
“Se passam por um período de tristeza de mais de um par de semanas e isso interfere com o trabalho, a vida em casa ou em levar a vida para a frente, pode ser sensato procurar ajuda”, diz o Dr. Ressler.
NR/HN/João Daniel Ruas Marques
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