Jornal brasileiro revela uso de vacina anti-poliomielite em testes na Guiné-Bissau

16 de Junho 2020

Um jornal brasileiro apontou a Guiné-Bissau como sendo palco de um estudo sobre o uso da vacina anti-poliomielite para o tratamento da Covid-19, uma situação que está a merecer críticas dos guineenses.

Miguel de Barros, ativista ambiental e social, foi quem denunciou o caso, através de uma série de publicações na sua página da rede social Twitter, em que questiona as autoridades sobre o estudo e os procedimentos observados.

“Que lástima: Numa altura em que a Guiné-Bissau é dos Estados da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) mais afetados pela pandemia da Covid-19, sem informações das autoridades nacionais, a imprensa internacional anuncia a projeção de testes (sem evidências) com 3.400 adultos no país através de entidades externas”, escreveu Miguel de Barros.

O jornal brasileiro Folha de São Paulo noticiou que o estudo, a ser orientado por uma equipa de pesquisadores americanos e dinamarqueses, vai começar brevemente e vai decorrer durante seis meses.

A meta é testar o uso da vacina oral anti-poliomielite num grupo de 3.400 guineenses acima dos 50 anos, pessoas consideradas vulneráveis à infeção por Covid-19, mas que ainda não tenham tido contacto com o vírus.

“O grupo vai receber a VOP (designação em sigla inglesa da vacina) ou placebo e será acompanhado durante seis meses, considerando tanto a transmissão e os sintomas da covid-19 quanto os efeitos de outras doenças infecciosas”, escreve ainda o jornal brasileiro.

O ativista Miguel de Barros refere que o estudo estaria a ser desenvolvido pelo projeto de Saúde de Bandim, um centro de pesquisas criado por cientistas dinamarqueses, em 1978, e que trabalha com crianças e mulheres de alguns bairros de Bissau.

“Sabe-se que as autoridades guineenses autorizaram uma entidade privada a fazer testes na população sem comunicação pública. Aceitação e participação das pessoas deve ser algo livre e consciente, o contrário é crime! Confundir negócio na saúde com saúde pública é mera ilusão”, defende ainda Miguel de Barros.

Magda Robalo, ex-ministra da Saúde Pública e atual alta-comissária contra a Covid-19, escreveu na sua rede social Facebook que os guineenses têm razão para se preocuparem, mas pede calma.

“Em relação à notícia em circulação sobre a pesquisa programada para a Guiné-Bissau, no quadro da procura de uma vacina contra o coronavírus, venho informar que, ao que parece, o processo de autorização do estudo terá seguido os trâmites legais”, afirmou Robalo.

A ex-ministra adiantou que as entidades envolvidas vão prestar esclarecimentos sobre o estudo “o mais rapidamente que lhes seja possível”, mas exortou os guineenses a não se deixarem levar “pela teoria de conspiração”.

“Considero salutar o espírito de cidadania que motiva os questionamentos trazidos a público, mas aconselho calma e serenidade”, frisou Magda Robalo.

Miguel de Barros responde ao apelo da Magda Robalo para sublinhar que era fundamental respeitar pressupostos prévios do direito e ética, prestando informações públicas, fator que disse estar além da legalidade de autorização para pesquisas em humanos.

“Desafio as autoridades a publicarem a lista de entidades interessadas e da comissão que validou os testes”, instou Miguel de Barros.

A Lusa tentou obter uma reação junto do Ministério da Saúde Pública guineense, mas ainda não obteve resposta.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Cleptomania

Alberto Lopes – neuropsicólogo/hipnoterapeuta

“Se tocam numa mulher, respondemos todas”

Contra a misoginia organizada ‘online’, o neomachismo e toda a violência sobre as mulheres, elas recusam o silêncio, usam as redes sociais para expor agressores e formaram um exército de resistência feminina: “Se tocam numa, respondemos todas”.

Pipeta Revolucionária Ativa Neurónios Individuais com Precisão Iónica

Investigadores da Universidade de Linköping desenvolveram uma pipeta inovadora que ativa neurónios individuais através da libertação precisa de iões, sem perturbar o ambiente extracelular. A técnica revelou dinâmicas complexas entre neurónios e astrócitos, abrindo portas a tratamentos de precisão para doenças como a epilepsia.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights