Doentes esquizofrénicos tomam decisões menos arriscadas e toleram menos as injustiças económicas

24 de Junho 2020

Os resultados, do estudo revelam que as pessoas com esquizofrenia tomam decisões menos arriscadas e toleram menos injustiças na esfera económica, quando comparadas com o grupo de pessoas saudáveis

Investigadores da Universidade Jaume I (UJI), da Universidade CEU Cardenal Herrera (CEU UCH), em Castellón (Espanha), e da Universidade francesa Bourgogne Franche-Comté (UBFC), em Dijon, acabam de publicar um estudo que avalia as decisões de risco e a perceção da injustiça, na esfera económica, em pessoas que consomem cocaína e têm patologias mentais associadas: esquizofrenia ou transtorno de personalidade antissocial.

Os resultados, publicados na revista “Scientific Reports”, do grupo editorial “Nature”, revelam que as pessoas com esquizofrenia tomam decisões menos arriscadas e toleram menos injustiças na esfera económica, quando comparadas com o grupo de pessoas saudáveis. O estudo foi financiado pelo Ministério da Ciência, Inovação e Universidades, e pela Fundação do Hospital Provincial de Castellón.

Neste estudo, os participantes fizeram parte de uma experiência que implicava dois tipos de decisões. Em primeiro lugar, tiveram de escolher entre diferentes apostas da lotaria, numa tarefa destinada a avaliar o seu grau de aversão ao risco económico. Em segundo lugar, participaram numa versão modificada do “jogo do ditador”, que permite suscitar atitudes altruístas ou não, em situações de injustiça económica quer vantajosas, quer desvantajosas. As pessoas com doenças mentais enfrentam este tipo de processo de decisão influenciadas por experiências passadas, relacionadas com o risco, com a comparação e com a diferença relativamente a outras pessoas. É por isso que ambos os cenários foram concebidos com o objetivo de observar o seu processo de decisão nestas duas circunstâncias.

Os resultados do estudo da UJI, da CEU UCH e da UBFC mostram que os participantes com transtorno de personalidade antissocial associado ao uso de cocaína, não apresentaram diferenças significativas em relação ao grupo de controlo, composto por estudantes de diferentes graus universitários da UJI, que participaram voluntariamente na experiência. Contudo, nos utilizadores de cocaína com esquizofrenia, foram observadas diferenças estatisticamente significativas: por um lado, as suas decisões económicas foram menos arriscadas na escolha entre as apostas da lotaria e, por outro lado, toleraram menos a injustiça económica na versão modificada do “jogo do ditador”.

Tendo em conta estes resultados, e dada a falta de padrões claros em estudos anteriores, os autores da investigação destacam o interesse em estudar o processo de decisão económica para a conceção de tratamentos psicossociológicos em patologia dual: perturbações mentais associadas ao consumo de drogas.

Gonzalo Haro, professor de Medicina da CEU UCH, salienta que este tipo de estudos económicos experimentais, “pode contribuir para uma avaliação adequada dos pacientes pelos psiquiatras em relação a uma possível incapacidade legal para utilizar o seu dinheiro e bens, especialmente no caso de pessoas dependentes de cocaína que apresentem esquizofrenia”.

Como salienta Abel Baquero, também professor da CEU UCH, “os resultados da investigação são mais uma prova da importância dos estudos sobre o comportamento económico, tanto na saúde mental como nas dependências, uma vez que fornecem informação adicional valiosa no tratamento da patologia dual”.

A esquizofrenia e a perturbação da personalidade antissocial são as duas patologias mentais mais associadas ao uso da cocaína, a substância ilegal mais utilizada na Europa. Estima-se que seja consumida por 2,3 milhões de jovens europeus, com idades compreendidas entre os 15 e os 34 anos. Em Espanha, é a causa de 36,5% dos casos que requerem tratamento por consumo de drogas e metade dos cuidados de urgência nesse âmbito.

A equipa de investigadores comportamentais da UJI, coordenada pela Prof.ª Aurora García Gallego, tem uma vasta experiência na aplicação da metodologia experimental em amostras populacionais muito diversas, embora esta tenha sido a sua primeira experiência no terreno. “O tipo de resultados obtidos, e a validação externa da comunidade científica, deixam-nos uma porta aberta para o desenvolvimento de futuros estudos”.

Informação bibliográfica:

“Risk-taking and fairness among cocaine-dependent patients in dual diagnoses: Schizophrenia and Anti-Social Personality Disorder”, en Scientific Reports. DOI: 10.1038/s41598-020-66954-2
www.nature.com/articles/s41598-020-66954-2

NR/HN/Adelaide Oliveira

 

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