Doentes com diabetes têm 4 vezes maior risco de morrer pela Covid-19

30 de Junho 2020

A Covid-19 pôs em causa o acesso aos cuidados de saúde, a continuação do seu tratamento e os níveis de stresse e depressão aumentaram.

Numa sessão online organizada pela Sanofi foi revelado que a Covid-19 pode “potencializar consequências dramáticas” em diabéticos. No evento, que decorreu no dia 12 de junho, foi apresentado um estudo da Carenity que revela que os doentes sentiram a falta de informação sobre os riscos associados à doença, elevando os níveis de stresse e preocupação.
O webinar teve como objetivo promover o debate entre profissionais de saúde sobre o impacto que o novo coronavírus tem em pacientes com doenças crónicas. Focados na diabetes, a sessão contou com a participação de vários especialistas da área da saúde, dos quais dirigentes da farmacêutica Sanofi e da Carenity.

O início da sessão foi marcado por uma análise feita a mais de mil diabéticos do tipo 1 e 2 de diferentes países do mundo, onde é revelado que a pandemia da Covid-19 impediu muitos doentes de dar continuidade aos seus tratamentos, colocando-os numa situação de maior vulnerabilidade. De acordo com um batómetro realizado pela Carenity, uma comunidade vitual destinada a mais de 400 mil pessoas com doenças crónicas, quase metade dos diabéticos tiveram problemas em aceder aos cuidados médicos.

O barómetro, que contou com mais de 1.600 respostas, foi realizado entre 19 de março e 4 de maio na plataforma, sendo dirigido aos membros da comunidade diagnosticados com diabetes tipo 1 e 2. No inquérito foram abrangidos adultos residentes em alguns dos países mais atingidos pela Covid-19, como os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Espanha e França.

A pandemia da Covid-19 pode ser fatal em diabéticos
A plataforma criou um inquérito com o objetivo de medir, em tempo real, o impacto da Covid-19 no acesso dos doentes aos cuidados e saúde. Esta assegura que as pessoas com doenças crónicas são “uma população particularmente vulnerável no contexto pandémico e de confinamento”. É neste sentido, que a Carenity alerta para a necessidade de garantir o tratamento dos doentes, já que a falta de acompanhamento médico pode impulsionar graves consequências. “Enquanto a atenção está focada naqueles que são atingidos pela Covid-19, existe um risco real da falta de acesso de cuidados médicos para doentes crónicos que pode potencializar consequências dramáticas”.

Relativamente ao impacto das consultas médicas, a iniciativa permitiu verificar que desde o início do surto, 47% dos pacientes com diabetes dizem que sua frequência de consultas médicas foi afetada. As consultas ou cirurgias médicas foram, também, fortemente atingidas, sendo que 45% dos entrevistados revelaram que foram canceladas ou adiadas. Os doentes, cerca de 21%, afirmaram que tiveram muita dificuldade em arranjar um médico disponível, sendo que apenas 5% tive acesso ao teste de Covid-19.

No barómetro foi revelado que 1 em cada 10 diabéticos tiveram dificuldade em encontrar o tratamento nas farmácias. Aproximadamente 42% assumiram sentir-se bastante preocupados com os riscos associados à sua condição sanitária e 29% relativamente com os dos seus familiares.

Os níveis de stress aumentaram durante o confinamento. Numa escala de 0 a 10, os doentes classificaram o seu nível de stresse numa média de 6.1. Um dado interessante foi desvendado pela Carenity que, através do barómetro, verificou que “existe um enorme gap (lacuna em português) entre a forma como os pacientes confiam na informação transmitida nos meios de comunicação e a forma como estes a utilizam”. Os resultados mostram que a televisão é utilizada por 66% dos diabéticos, mas apenas 24% confia na informação que é fornecida por este meio. Apenas metade dos pacientes sentiram-se “satisfeitos” com a informação que receberam relativamente à sua condição médica, sendo que 32% afirmou não ter tido acesso a este tipo de informações.

“A missão da Carenity é mais do que apoiar a comunidade, permite ajudar profissionais de saúde a ter acesso aos melhores dados e informações sobre o tratamento dos pacientes”.
Questionados sobre “Que informações adicionais específicas sobre a sua doença crónica gostaria de ter?”, os inquiridos demonstraram estar bastante preocupados sobre os riscos existentes relativamente à diabetes e o seu tratamento. Homens e mulheres diabéticos explicaram que gostariam de ter, contudo, informação mais personalizada sobre o impacto da Covid-19 e os “passos” que devem seguir.

A Carenity levanta a pergunta: Os doentes crónicos podem ser as vítimas colaterais da pandemia?
Na mesma linha de pensamento, o especialista Pratik Choudhary da King’s Collage London, do Reino Unido, afirmou que a pandemia do novo coronavírus teve um profundo impacto nos doentes com diabetes. Este garante que a Covid-19 pôs em causa o acesso aos cuidados de saúde, a continuação do seu tratamento e os níveis de stresse e depressão aumentaram. “As pessoas com diabetes podem estar sujeitos a um maior risco de complicações graves provocadas pela Covid-19”, garante.

Pratik Choudhary refere que um estudo, revisto por pares, demonstra que “pessoas que vivem com diabetes ou com glicemia descontrolada e que são hospitalizadas por causa da Covid-19 têm 4 vezes maior probabilidade de morrer do que um paciente com os níveis de açúcar controlados”.

Personalização dos cuidados médicos “é vital”
No final da intervenção, o especialista defende que a Covid-19 veio acelerar a forma como as tecnologias podem ser adaptadas para o tratamento de pessoas com diabetes. Pratik Choudhary afirma que no que toca aos pacientes, os meios digitais podem contribuir para uma intervenção médica mais personalizada, permitem reduzir a carga cognitiva e promovem comportamentos mais saudáveis. Os contributos para os profissionais de saúde passam por aumentar a eficácia do atendimento, melhorando assim a as suas decisões.

A necessidade de personalizar os cuidados médicos de um doente diabético foi um dos assuntos mais abordados pelos especialistas. De acordo com o responsável global da área da diabetes dos cuidados médicos da Sanofi, Alan Divanovic MD, a individualização dos cuidados da diabetes é “vital”. Este defende que os objetivos dos cuidados de saúde devem optimizar a qualidade de vida dos doentes. Para tal deve ser criado um quadro que garanta, entre alguns aspetos, a avaliação das principais características do paciente, dos fatores específicos que fundamentem a escolha do tratamento e a monotorização continua.

Alan Divanovic MD garante que a Sanofi está comprometida com a promoção da melhoria dos cuidados médicos em pessoas com diabetes, alertando, por isso, para a necessidade de realizar uma “avaliação adicional aos doentes com função de rim reduzida de alto risco”, já que que entre 20% a 40% com diabetes tipo 2 estima-se que tenham Doença Renal Crónica (DRC), uma doença que pode aumentar o risco de doença cardiovascular. “É importante gerar evidências sobre a eficácia das insulinas em pessoas com diabetes e DRC, uma vez que a função renal reduzida aumenta a dose de insulina”.
O webinar que decorreu durante uma hora quis alertar para a fragilidade das pessoas com diabetes no caso de contraírem o vírus da Covid-19. A doença pode provocar a morte.

HN/ Vaishaly Camões

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