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As possibilidades da análise genómica
Permite conhecer as sensibilidades e a resistência das células tumorais e mutações acionáveis que nos orientam para um tratamento com critérios mais adequados à realidade daquele doente específico, beneficiando de ensaios clínicos. Também abre o leque de possibilidades terapêuticas para medicamentos não autorizados para esse diagnóstico, mas que podemos solicitar por meio de uso compassivo. Por outras palavras, oferece aos nossos doentes novas possibilidades de tratamento que são praticamente inacessíveis aos protocolos tradicionais.
E dou o exemplo real de um de nossos doentes, com cancro nos ductos biliares (colangiocarcinoma intra-hepático inoperável). Apesar de o seu tratamento padrão estar a dar resposta, sabia que a qualquer momento iria parar e procurou outras opções com a nossa equipa. Em colaboração com seu oncologista, recomendamos a realização do teste OncoDEEP, um perfil molecular específico da empresa OncoDNA, com o qual trabalhamos há muito tempo devido ao seu bom serviço e grau de sucesso
A realização deste estudo genómico deu-nos informações muito detalhadas, adaptadas à linguagem do clínico, sobre as alterações genéticas do tumor e sobre as terapias existentes mais eficazes para o caso daquele doente. Mas, acima de tudo, ao progredir do tratamento padrão, serviu como porta de entrada para um ensaio clínico com imunoterapia que está a ser realizado no Hospital Vall d’Hebron, em Barcelona. Por outras palavras, ajudou-nos a personalizar ao máximo o seu tratamento para lhe proporcionar melhores perspetivas sobre a sua doença. Nunca teríamos pensado em imunoterapia num doente com colangiocarcinoma
Casos como este mostram-nos que perfis como o da OncoDNA não estão onde deveriam estar e que deveriam ser usados de maneira diferente. Atualmente, esse tipo de análise genómica é usada como último recurso, quando o doente apresenta cancro avançado e as linhas de tratamento permitidas estão esgotadas. No entanto, acho que seria muito mais eficaz usá-los em fases anteriores, antes que a resistência se desenvolva nas linhas de medicamentos que estamos a usar para matar o tumor.
Deveríamos ser capazes de usá-los como um começo nos casos com maior probabilidade de recaída ou metástase, ou em cancros especialmente agressivos, a fim de obter mais informações sobre a genética do tumor e antecipar a sua evolução mais do que possível. Inicialmente, seguiríamos o tratamento padrão, mas em caso de recidiva ou ausência de resposta, já teríamos, sem demora, uma alternativa com alta probabilidade de eficácia. Nesse sentido, o acompanhamento do doente seria muito mais completo e poderíamos prosseguir solicitando uma linha de tratamento mais eficaz a ser preparada antes da recidiva.
Hoje, estamos a caminhar em direção a outro paradigma quando se trata de propor terapias para os nossos doentes, o da oncologia de precisão. Esta tenta, por todos os meios, adaptar-se à realidade de cada tumor com base na sua genética, já que atualmente temos um bom número de medicamentos capazes de cancelar os genes mutantes que causam patologia.
Esse novo paradigma leva-nos a romper com os protocolos atuais, o que significaria um custo inicial mais alto por doente (o que, com toda a probabilidade, está a retardar o seu desenvolvimento). No entanto, o benefício a longo prazo seria muito maior, uma vez que o facto de implementar um tratamento eficaz desde o início evitaria recaídas em muitos casos, melhorando as perspetivas e a qualidade de vida do doente e reduzindo o tempo nos centros hospitalares, assim como a severidade de sua doença.
A biópsia líquida é outro avanço para entender a realidade da fase metastática da doença e nos casos em que o tratamento adjuvante não está a ser eficaz. Esta informa-nos sobre que tipo de célula está a circular com a possibilidade de dar ninhos metastáticos nos diferentes órgãos e tecidos. Nem sempre expressam as características das células do tumor primário e, em inúmeras ocasiões, expressam imunofenótipo e novas mutações que requerem tratamentos além daqueles guiados pela anatomia patológica inicial. Estes alertam-nos sobre a ineficácia dos tratamentos adjuvantes após a cirurgia e vários meses antes de uma possível recaída e, acima de tudo, como tratá-la efetivamente. No futuro, serão muito mais valorizados do que os melhores testes de imagem, TAC, RNM, PET-TAC, que, embora ainda sejam essenciais, alertam para a presença de metástases quando elas já tiverem pelo menos vários milímetros. A antecipação consciente das alterações celulares produzidas melhora a eficácia dos nossos tratamentos.
Em suma, as análises genómicas do tumor primitivo ou das metástases e da biópsia líquida abrem uma infinidade de possibilidades para um melhor desenvolvimento de nosso trabalho em oncologia e melhor atendimento de nossos doentes. As informações que eles oferecem ajudar-nos-ão a planear um tratamento-alvo mais eficaz e menos tóxico em cada caso, e será um ponto vital de apoio ao seu acompanhamento. Portanto, a análise genómica e a biópsia líquida, no âmbito da medicina de precisão, devem acompanhar-nos progressivamente em todos os momentos e serem os nossos grandes aliados.
NR/HN/João Daniel Ruas Marques
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