Com o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos a cumprir-se este sábado, Rui Sousa Silva apresentou em entrevista à Lusa as principais linhas da nova estratégia da comissão, que visa aumentar a capacidade de resposta face às necessidades na população e aliviar a sobrecarga das equipas que estão no terreno, assegurando ter “todo o apoio” do Ministério da Saúde.
“Os cuidados centrados na pessoa, basicamente, é o nosso foco sobre a questão da acessibilidade e da sensibilização para a referenciação precoce deste tipo de doentes”, explicou, sublinhando: “A nossa visão é da constituição daquilo que chamámos de plano individual de cuidados paliativos e que se coaduna perfeitamente com o conceito mais geral, que é o plano individual de cuidados no Serviço Nacional de Saúde [SNS]”.
Segundo Rui Sousa Silva, a “prevenção do risco psicossocial” é também uma preocupação da CNCP, no sentido em que “o suporte psicossocial feito pelas equipas interdisciplinares” é uma “particularidade muito característica dos cuidados paliativos”. No entanto, deixou o alerta de que “as soluções não passam só pelas equipas” que prestam apoio aos doentes, manifestando o desejo de contar com o envolvimento da sociedade civil.
“Queremos trabalhar estes contextos e tem de haver o envolvimento da sociedade civil, desde o núcleo familiar, até ao regional e nacional. Todos somos poucos. Cada vez mais os cuidados paliativos não acompanham só pessoas em fase terminal; há doentes que são acompanhados durante anos, sabemos que têm prognóstico de vida limitado, mas têm de ter qualidade de vida no tempo que tenham e é esse o nosso trabalho”, vincou.
Sobre o segundo “eixo prioritário – a formação -, o líder da CNCP referiu que a entidade identificou já necessidades formativas ao nível dos cuidados formais e informais e salientou ser igualmente necessária a integração das equipas de cuidados paliativos no SNS, em busca de um reforço da multidisciplinaridade de ação junto dos doentes.
“A formação profissional é uma das coisas em que temos de investir mais e que é uma formação contínua. Começando nos cuidadores e de quem está junto dos doentes no domicílio, passando depois por todos os profissionais do SNS e com especial enfoque em formação avançada para os elementos que vão constituir novas equipas de cuidados paliativos”, observou.
Em relação à qualidade, Rui Sousa Silva notou que a evolução deste parâmetro irá passar por “processos de melhoria contínua”, e ao nível da organização – o derradeiro pilar do plano – destacou as necessidades no âmbito dos recursos humanos, que elencou como uma “prioridade dentro de todas as prioridades” depois de catalogar como “estrutural” o problema.
“O ideal seria estas equipas estarem disponíveis 24 horas por dia na totalidade do ano. É uma coisa que não temos, mas é um objetivo e uma questão que tem de estar sempre presente e onde queremos chegar. Isso implica recursos humanos com formação adequada e de várias profissões. Temos de estar atentos e estamos a fazer um esforço grande”, resumiu.
Rui Sousa Silva, que tem ainda no currículo o cargo de diretor do serviço de medicina interna e cuidados paliativos do Instituto Português de Oncologia de Coimbra, admitiu que os cuidados paliativos “também sofreram” com a pandemia de Covid-19, mas realçou a “fase de recuperação” que já foi iniciada. Em paralelo, reconheceu as críticas feitas à CNCP pelo vazio que se registou nos primeiros meses de 2021, nos quais houve um vazio diretivo.
“Sabemos que houve críticas por não ter havido plano até maio e depois por termos demorado até agora para avançarmos, mas este tempo não foi tempo perdido. O tempo de construção do plano também é um tempo de criar as condições para a perspetiva de que seja um plano executável”, frisou, sem deixar de sublinhar que “o plano tem metas temporais para cumprir, é ambicioso e será avaliado no final”.
LUSA/HN
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