“Os dados em Portugal são muito precoces e estamos nestes dias a fazer precisamente simulações para fazer uma projeção sobre o cenário que é expectável que aconteça nos próximos dias e semanas. Espero dentro de dois ou três dias poder dizer exatamente aquilo que esperamos ter, não só nos próximos dias, como nas próximas semanas, em termos da prevalência real da (variante)Ómicron no nosso país”, disse à agência Lusa o investigador do INSA João Paulo Gomes.
O investigador avançou que a variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2 está a circular na comunidade.
João Paulo Gomes explicou que os 69 casos confirmados da variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2 registados até à data em Portugal são aqueles que foram confirmados no âmbito de suspeitas indicadas pelas autoridades de saúde e normalmente estão associados a historial de viagens ou contactos com pessoas já diagnosticadas.
O investigador revelou que, paralelamente, o INSA está a fazer uma monitorização a nível nacional e que “nada tem a ver com a pesquisa de casos suspeitos”.
“Essa monitorização está a mostrar um cenário completamente diferente. Já não estamos a falar nas dezenas de casos, podemos falar sim em termos da prevalência da Ómicron em Portugal que suspeitamos que nos últimos dias tenha atingido já 9% a 10%”, precisou o coordenador do estudo da diversidade genética do SARS-CoV-2.
Segundo o investigador, o INSA está a fazer dois tipos de monitorização baseada nas amostras dos laboratórios, permitindo uma dessas metodologias monitorizar em tempo real a nova variante e verificar o crescimento proporcional no país.
“Há uma semana atrás não tínhamos este cenário. Desde quinta-feira passada verificamos um aumento da prevalência desta variante. Os números continuaram a crescer, no fim de semana e até ao dia de ontem [segunda-feira] ela já representará 9 a 10% dos casos de covid-19 em Portugal”, frisou.
Segundo o investigador, a variante Ómicron demorou algum tempo a instalar-se em Portugal, ao contrário de outras variantes, como a Alfa, que entrou no Natal do ano passado no país através de voos do Reino Unido e de emigrantes portugueses.
“Com a Ómicron isso não aconteceu. A importação foi essencialmente devido a voos da África Austral, onde atualmente não temos o histórico que temos com o Reino Unido, portanto houve um reduzido número de introduções, e isso foi um elemento retardador quando comparamos com outras variantes. No entanto, dada a sua maior transmissibilidade, isso fez que se estabelecessem algumas cadeias de transmissão e é isso que estamos a ver com o sistema de monitorização a tempo real”, referiu.
João Paulo Gomes disse também que, caso se passe em Portugal aquilo que se espera que aconteça no Reino Unido e Dinamarca, a Ómicron “em poucas semanas vai sobrepor-se à Delta e vai passar a ser variante dominante”.
Questionado sobre a taxa de crescimento desta variante, o investigador afirmou que o INSA está agora a fazer essas estimativas, mas os dados que surgem de países com prevalências superiores, como Reino Unido e Dinamarca, indicam que existe uma taxa de duplicação de casos Ómicron, ou seja, a cada dois dias a prevalência pode duplicar.
O mesmo responsável sublinhou também que os dados sobre a eficácia das vacinas “são muito precoces”, existindo poucos estudos, que ainda não foram validados cientificamente.
Esses estudos indicam que esta variante torna “um pouco menos eficazes as vacinas”, mas nas pessoas com a terceira dose ou com vacinação completa e infeção prévia de Covid-19 “a taxa de eficácia vacinal manter-se-á bastante boa”.
Esta nova variante, classificada como “preocupante” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, em 24 de novembro, foram notificadas infeções em mais de 60 países de todos os continentes.
LUSA/HN
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