Partos induzidos ou cesarianas sem indicação clínica não são recomendação da DGS

24 de Abril 2020

Redação, 24 abr 2020 (Lusa) – A diretora-geral da Saúde recusou hoje que exista qualquer recomendação para a indução de parto ou cesariana sem indicação clínica durante a pandemia de covid-19, notando que a decisão deve ser articulada entre os clínicos e as mães.

Redação, 24 abr 2020 (Lusa) – A diretora-geral da Saúde recusou hoje que exista qualquer recomendação para a indução de parto ou cesariana sem indicação clínica durante a pandemia de covid-19, notando que a decisão deve ser articulada entre os clínicos e as mães.

Na conferência de imprensa diária sobre a pandemia de covid-19 no país, Graça Freitas assegurou não existir, até ao momento, prova de risco de transmissão do novo coronavírus através do leite materno de mães infetadas, pelo que os seus benefícios recomendam continuar a administrá-lo, mesmo que prescindindo da amamentação ou usando máscara durante a mesma.

A diretora-geral da Saúde notou que esta decisão deve, também, ser articulada entre a mãe e o clínico assistente.

A Associação pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto alertou na quinta-feira a DGS de que há grávidas a ser sujeitas a indução do trabalho de parto e a cesarianas sem indicação clínica devido à pandemia de covid-19.

Graça Freitas recusou estar em causa qualquer recomendação da DGS para maior segurança dos partos em período de pandemia provocada pelo novo coronavírus.

“As circunstâncias em que isto [o tipo de parto a realizar] é decidido passam-se no foro do atendimento clínico”, disse.

“Não há normativos neste sentido. É decisão clínica”, frisou.

Quanto ao leite materno, Graça Freitas disse que, “até à data, tudo indica que poderá ser utilizado, e que os seus benefícios serão superiores aos riscos eventuais de transmissão da infeção, que não está comprovada”.

“O que não quer dizer que não sejam tomadas algumas medidas, como ser retirado o leite e não dar através da mama ou, se a mãe o der, usar meios de proteção”, descreveu.

A responsável da DGS notou tratar-se de uma questão que “tem estado a ser estudada em todo o mundo”, por muitos especialistas e que “até à data não foi comprovada a transmissão”.

“Também aqui, os médicos assistentes destas mães terão uma palavra importante no aconselhamento”, indicou.

Numa carta enviada à DGS, a que a agência Lusa teve acesso, a Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (APDMGP) refere que tem recebido relatos cada vez mais frequentes destas situações e pede que a DGS tome uma posição sobre este assunto.

“Sabemos, concretamente, que há inúmeras instituições de saúde em que está a ser imposto às grávidas a realização do teste do novo coronavírus às 39 semanas de gestação e, caso seja positivo, estas são encaminhadas para outro hospital”, refere a associação.

No caso de o teste ser negativo, “é proposta a indução do parto para o dia seguinte, mesmo sem outras razões médicas que justifiquem a antecipação do parto”.

“Esta prática não é recomendada pela Organização Mundial de Saúde e não está isenta de riscos para a mãe e para o bebé, não se compreendendo, por isso, que esteja a ser aplicada de forma indiscriminada em tantas instituições de saúde”, adianta a APDMGP.

Para a associação, existem “claros indícios” de que a cultura de agendamento de partos, que já se verificava em muitos contextos, se agravou agora, o mesmo se passando com as cesarianas, que “estão a ser agendadas de forma rotineira para as grávidas que testam positivo, nomeadamente nos hospitais da Guarda, de Vila Franca de Xira e de Évora”.

Sandra Oliveira, autora do livro Nascer Saudável, também alertou para o facto de haver hospitais a dizerem às grávidas que têm de fazer indução após o resultado do teste para garantir a não contaminação.

“Uma indução no momento errado pode levar dias e o mais provável é que termine em cesariana”, disse à Lusa Sandra Oliveira, defendendo que “se os profissionais de saúde estão protegidos com equipamentos de proteção individual e as grávidas nem têm uma incidência maior de infeção que a restante população, é um atentado à saúde das mulheres e bebés”.

Contactado pela Lusa, o secretário-geral da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia, Diogo Ayres de Campos, afirmou que, “do ponto de vista científico não há justificação nenhuma para se estar a provocar o parto mais cedo por causa da infeção” pelo novo coronavírus, que provoca a doença covid-19.

Ao induzir o parto mesmo às 39 semanas corre-se “algum risco adicional”, disse o obstetra, explicando que “são partos mais prolongados, mais dolorosos e têm um risco acrescido em relação ao bebé”, nomeadamente baixa oxigenação.

“Nós tentamos sempre evitar induzir o trabalho de parto se não houver um motivo e aqui claramente não é um motivo que o justifique”, disse.

Portugal contabiliza 854 mortos associados à covid-19 em 22.797 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.

Relativamente ao dia anterior, há mais 34 mortos (+4,1%) e mais 444 casos de infeção (+2%).

Das pessoas infetadas, 1.068 estão hospitalizadas, das quais 188 em unidades de cuidados intensivos, e o número de casos recuperados passou de 1.201 para 1.228.

Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o Governo anunciou hoje a proibição de deslocações entre concelhos no fim de semana prolongado de 01 a 03 de maio.

Lusa/HN

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