“A espécie foi encontrada em Portugal em 2017, pela primeira vez. No Algarve [em Loulé] e em Penafiel serão introduções diferentes, não sabemos se aconteceram muito coincidentes ou não no tempo, mas não deve haver muita diferença, porque ainda eram, na altura, focos muito localizados”, conta à Lusa José Manuel Grosso-Silva, curador de Entomologia do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto.
Como chegou ao Algarve ainda não se sabe, mas a introdução em Penafiel, no distrito do Porto, parece ter ocorrido através de um negócio de recauchutagem, que importou pneus com ovos deste mosquito depositados na água que fica parada dentro dos pneus, “um dos modos de transporte desta espécie por excelência”.
“Os mosquitos têm ovos aquáticos, as fêmeas fazem as posturas na água, e os ovos desenvolvem-se dentro de água. Os pneus, armazenados em pilhas, acumulam água no interior e dão sítio que, por um lado, tem água e bactérias e, portanto, alimento para as larvas de mosquitos, e depois não têm predadores”, explica o especialista.
O entomologista, doutorado pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, adianta que ainda não há “informação de grande disseminação da espécie a partir daquele ponto” onde foi identificado em Penafiel, esclarecendo que isso “não é bom nem mau sinal”, acontece apenas porque “não se passou assim tanto tempo ainda”.
Ainda assim, assevera que “o mais provável é que a espécie se vá espalhando, como aconteceu em Espanha”, até porque, “quer no tipo de sítio em que foi encontrada no Algarve, quer nos pneus em Penafiel, não têm predadores, não há peixes nem anfíbios”.
Por isso, “vão-se espalhando, multiplicando e expandido”, na região Norte “muito mais facilmente, por maior disponibilidade de água, e até por questões climatéricas”.
Quanto ao impacto que a introdução deste mosquito tem nos ecossistemas, Grosso-Silva diz que ainda “não se consegue dar uma resposta definitiva”, mas “o mais certo é que cause incómodo e algum tipo de perturbação à fauna, porque não se alimentam só de sangue humano, as fêmeas picam diferentes vertebrados de sangue quente, portanto é bem provável que também se alimentem de várias espécies”.
O mosquito-tigre-asiático chegou à Europa pela Albânia, em 1979, e desde então foi já detetado em vários países, como Itália, França ou Espanha.
É capaz de transmitir doenças como dengue, zika e chikungunya, bem como parasitas filárias, mas “a questão sanitária, propriamente dita, não é um problema, a não ser que se conjuguem várias condições”, ressalva o biólogo.
“Eles estão cá, mas não estão cá as doenças que eles transmitem. Era preciso que encontrassem uma pessoa infetada na época certa para picarem e ficarem eles próprios portadores. Tem de haver, dentro do corpo dos mosquitos, a evolução do parasita, e ele picar a pessoa seguinte em condições de transmitir. Não é assim uma coisa garantida que um mosquito que pique uma pessoa infetada a seguir transmita”, detalha.
Para que seja “inevitável a transmissão da doença” é preciso que haja “muitos mosquitos e muitas pessoas”.
LUSA/HN
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