João de Melo optou por ficar nas Velas “com um saco pronto para sair em dois minutos”

27 de Março 2022

João de Melo passou pelo forte sismo de 1980 na ilha Terceira e agora está a viver nova crise sísmica na ilha de São Jorge, mas mantém-se na Vila das Velas "com um saco pronto para sair em dois minutos”.

“Tenho ali um saquinho com umas coisas e em menos de dois minutos estou a modos de seguir”, disse à Lusa o ex-bancário, 60 anos, sentado no jardim em frente à Câmara Municipal das Velas, numa pacata manhã de domingo com pouco movimento nas ruas da vila e em que as missas foram canceladas.

João de Melo faz parte dos cerca de 50% dos habitantes do concelho das Velas que, oito dias após o início da crise sísmica que está a atingir a ilha de São Jorge, permanece nesse concelho, uma vez que cerca de 2.500 já se deslocaram, por precaução, para o concelho vizinho da Calheta, considerado mais seguro, e mesmo para outras ilhas dos Açores, a maioria para o Faial e Pico.

Apesar de se manter na sua casa, mesmo no centro da vila das Velas, João de Melo garante que não hesitará em deslocara-se para a Calheta, onde “mais do que um amigo” já lhe ofereceu casa para ficar durante o tempo necessário.

“Se isso começar a dar sismos de intensidade maior eu tenho sítio onde ficar na Calheta”, adiantou o ex-bancário, que já sentiu “perto de uns 20 sismos” desde que começou a atual crise, em 19 de março.

Sentado num banco vermelho do jardim no Jardim da República, relata que, em 1980, durante o sismo que destruiu a cidade de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, “estava em frente à Igreja da Sé”.

“A gente olhava para o céu e não via nada. Era só terra. Foi uma coisa muito grande”, recorda, considerando que os sismos que agora está a sentir em São Jorge são diferentes, como uma “espécie de pancada”.

“Quando se passa por estas coisas também ficamos mais preparados. Já se sabe com o que se conta e quero estar num sítio que seja seguro”, adianta à Lusa.

Numa manhã de domingo sem chuva, ao contrário do que tem sido recorrente nos últimos dias, a vila das Velas acordou tranquila, com pouco movimento de pessoas e com apenas alguns cafés abertos ao público.

Nem o tradicional movimento à hora da missa se verificou. As missas na Igreja Matriz de Velas foram canceladas neste domingo, conforme confirmou à Lusa o padre António Azevedo.

“Foram desaconselhados ajuntamentos de pessoas” por precaução, explicou o pároco, ao avançar que, também por prevenção, as imagens das igrejas foram removidas dos seus locais habituais.

A procissão que deveria realizar-se na tarde de hoje na freguesia da Urzelina foi também cancelada.

“As pessoas estão um bocado apreensivas, mas já mais tranquilas. Mais dia menos dia as pessoas regressam à suas casas” se a situação se mantiver, disse o padre António Azevedo, dando voz a alguma expectativa sobre os próximos dias que está bem espelhada num aviso na porta de uma loja do centro das Velas: “esperamos reabrir na próxima segunda-feira”.

LUSA/HN

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