Em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial da Hipertensão, que se assinala na terça-feira, o presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN), Edgar Almeida, reconheceu o desconhecimento da população relativamente à relação entre a hipertensão e doença renal, exposto nos dados de um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública, sublinhando que estas duas doenças “são irmãs siamesas”.
“Mais de 60 a 70% das pessoas com doença renal são hipertensas e uma parte significativa das pessoas com hipertensão não controlada podem vir a ter lesão renal”, disse o especialista, acrescentando: “essa ligação de enorme proximidade faz com que gostaríamos que as pessoas estivessem alertas para essa relação”.
Segundo dados preliminares do estudo da Escola Nacional de Saúde Pública, mais de metade (54,2%) dos inquiridos dizem não saber ou não identificam que a medição da pressão arterial é uma forma de avaliar a saúde renal e 38,9% desconhece ou não identifica a pressão arterial alta como um fator de risco que pode levar à doença renal crónica. Este trabalho envolveu mais de 1.600 respostas obtidas por questionário online e entrevistas telefónicas.
Questionado pela Lusa, o presidente da SPN explicou que a hipertensão tem duas fases, uma no jovem/jovem adulto e outra nas pessoas a partir dos 50/60 anos.
“Nas pessoas a partir dos 50/60 anos [a hipertensão] é mais da natureza do envelhecimento das artérias, é próprio da idade. Não envelhecem apenas as artérias do cérebro e do coração. Também envelhecem as do rim”, sustentou.
Nesse segmento de pessoas, acrescentou, a hipertensão e a doença renal estão muito associadas pelo que lhes é comum, que é a doença vascular.
Mas é na fase em que a hipertensão aparece nas pessoas mais jovens que Edgar Almeida sublinhou a importância de identificar precocemente qualquer relação, ver como funciona o rim se o doente apresenta pressão arterial elevada passar a acompanhar sempre a evolução da doença.
“Neste segmento da população é mesmo muito importante que se procure doença renal, pois é a principal causa de hipertensão nesta faixa etária”, afirmou o especialista, insistindo: “é preciso olhar [nas análises] para marcadores de lesão renal que indiciem os primeiros sinais de envolvimento renal”.
Aproveitando a efeméride, a SPN, em conjunto com a APIR – Associação Portuguesa de Insuficientes Renais e a AstraZeneca, lançam a campanha #SemFiltros, que pretende alertar os portugueses para a necessidade de se atuar precocemente.
“Pretendemos sobretudo apertar a população, e os profissionais de saúde, para a necessidade de identificar precocemente e iniciar precocemente medidas que são simples, mas difíceis de implementar, porque implicam a mudança de comportamentos das pessoas”, afirmou Edgar Almeida, referindo-se à adoção de um estilo de vida saudável.
O médico nefrologista insistiu ainda na necessidade de, nas idades mais novas, se for encontrado algum sinal de envolvimento renal em pessoas com hipertensão, “não deixar de seguir o doente”.
“Nessa idade, se há algum sinal envolvimento renal, a pessoa precisa continuar a ser vigiada, não pode ser largada, como por vezes acontece. Fazem-se exames, mas depois nunca mais há uma proximidade entre o profissional de saúde e aquele doente”, apontou o especialista, alertando: “Quando isso acontece, a doença progride silenciosamente sem que se consiga evitar a sua evolução para uma fase mais avançada”.
LUSA/HN
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