Em entrevista à agência Lusa, Carla Paiva indicou que se encontram na Ucrânia as delegações de Espanha e da Alemanha da rede internacional Médicos do Mundo, estando as congéneres dos restantes países a prestar apoio logístico e suporte material, com a recolha e envio de bens.
Portugal prepara o envio de 30 europaletes com material médico, medicamentos e produtos de higiene pessoal. “É uma quantidade considerável de bens que vão ser enviados. Estão a aguardar que seja possível fazer este transporte e que a recolha também seja possível, porque a parte logística é uma componente bastante frágil no território”, afirmou.
A organização não-governamental (ONG) desenvolve atividades na Ucrânia com as delegações espanhola e alemã desde 2015, na sequência da anexação da Crimeia pela Rússia e reforçou a intervenção com o desenrolar da guerra nos últimos meses.
Os Médicos do Mundo integram outros profissionais de saúde, atuam em unidades móveis que percorrem o território e estão neste momento a reforçar a resposta ao nível de cuidados básicos de saúde, de acordo com a diretora da organização humanitária em Portugal.
Os bens angariados em Portugal que não foi possível fazer chegar à Ucrânia em tempo útil foram direcionados para entidades nacionais que já estavam a trabalhar no apoio a refugiados e migrantes, por forma a não desperdiçar “a ajuda da sociedade civil”, contou, acrescentando: “Todos os outros vão ser enviados para as equipas à medida que a capacidade logística permita”.
A organização apoiou mais de 20 estruturas de saúde na Ucrânia, às quais continua a fornecer material.
“Estivemos sempre na região de Donbass e neste momento reforçamos, novamente, todas as intervenções. O foco é a prestação de cuidados básicos, voltámos a dar consultas de apoio psicológico presencial. Estávamos com consultas ‘online’ e neste momento retomámos as consultas por via presencial”, referiu, quando questionada sobre as prioridades três meses depois do início da guerra, declarada pela Rússia como uma “operação militar especial”, a 24 de fevereiro.
Os Médicos do Mundo mantêm-se presentes em Bucha, cidade na região de Kiev, Chernivtsi (sudoeste) e Kharkiv, a segunda maior cidade (leste).
“As equipas que estão a prestar estes cuidados são enfermeiros de equipas móveis. Em Chernivtsi, por exemplo, a equipa médica é composta por um médico, uma parteira, um psicólogo e um farmacêutico. Desde meio de abril até à data, deram mais de 600 consultas a pessoas deslocadas e estamos a fazer o reforço”, acrescentou.
Em Kharkiv, avançou, será iniciado brevemente um projeto-piloto para dar apoio a todas as pessoas que se encontram no metro da cidade, para “prestação de cuidados de saúde e apoio ao nível de medicação direta”.
Em Bucha, o apoio psicológico voltou a ser feito diretamente e em Dnipro, a quarta maior cidade da Ucrânia, será também reforçada a atividade. “Estamos a retomar e a reforçar praticamente todos os locais onde já vínhamos trabalhando”, assegurou Carla Paiva.
A medicação é um dos bens em “maior escassez”, segundo a diretora executiva. “O acesso aos medicamentos neste momento é uma preocupação e procuramos dar este apoio, quer à consulta direta, quer ao medicamento. Neste momento é uma preocupação, estamos a doar medicamentos essenciais, os ‘kits’ de maternidade, ‘kits’ de emergência médica, que estão a ser direcionados para as instalações de saúde em toda a Ucrânia”, frisou.
De acordo com a responsável pela organização humanitária, a doação de medicamentos essenciais deve ser uma prioridade.
Os Médicos do Mundo atuam igualmente em Portugal no apoio a população em situação vulnerável, através de unidades móveis que circulam em Lisboa e no Porto.
Também aqueles que se refugiaram em Portugal têm procurado este apoio.
“Começamos a sentir agora um aumento de pedidos de apoio nas nossas unidades móveis e de facto as pessoas vêm em situação mais frágil, quer física, quer mentalmente. Vêm em situações de maior fragilidade do que aquelas que chegaram a Portugal há dois meses”, admitiu.
Em território ucraniano, os profissionais deparam-se com “muitos relatos de abuso sexual com base no género”. A questão do tráfico de seres humanos junto às fronteiras é também uma das preocupações para as quais a organização alerta. De acordo com Carla Paiva, há “um elevado risco de tráfico de seres humanos” e um problema de assédio sexual no meio de um conflito que já levou à fuga de milhões de pessoas, originando a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial.
LUSA/HN
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