Pandemia pode empurrar 20 milhões para a escravatura moderna

12 de Junho 2022

A pandemia de Covid-19 poderá fazer com que mais 20 milhões de pessoas se tornem vítimas de escravatura moderna em todo o mundo, disse o líder de uma organização não-governamental (ONG).

Em abril de 2020, ainda no início da pandemia, o Banco Mundial previu que a Covid-19 poderia empurrar entre 40 e 60 milhões de pessoas para a pobreza extrema.

São estas pessoas que estão “vulneráveis” a fenómenos como o trabalho forçado, o tráfico humano e a servidão por dívidas, situações de escravatura moderna, disse à Lusa Matt Friedman.

O diretor-executivo do Mekong Club, uma ONG com sede de Hong Kong, disse temer que as vítimas de escravatura moderna “possam ir de uma estimativa atual de 40 milhões para cerca de 60 milhões”.

O antigo coordenador da resposta a pandemias para a Ásia da Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos da América admitiu que, “por um período do tempo”, no início da pandemia, as restrições fronteiriças colocaram dificuldades ao tráfico humano.

No entanto, como já se viu “vezes sem conta, quando os governos encerram vias legais de migração, isto cria oportunidades para traficantes de pessoas”, disse à Lusa a ONG Anti-Slavery International (Anti-Escravatura Internacional).

Além disso, sublinhou Matt Friedman, depois das implicações para a saúde pública, seguem-se “as ondas de choque que terão um impacto nas economias”, incluindo as interrupções já sentidas nas cadeias industriais.

“A pandemia foi um fenómeno que concentrou tanto a atenção durante tanto tempo que os governos nem tiveram tempo para identificar o que mais estava a acontecer”, lamentou o norte-americano.

“Ao desemprego em massa segue-se um elevado risco de dívidas e, com pouco apoio do governo, isso torna as pessoas ainda mais vulneráveis à exploração”, alertou a Anti-Slavery International.

A organização disse que mesmo para quem já era vítima de escravatura moderna, a pandemia veio agravar a situação.

“Famílias ricas da Mauritânia começaram a despedir os trabalhadores domésticos ‘haratine’, muitos dos quais nascerem já com estatuto de escravos”, disse a ONG.

“Ao longo da pandemia, vimos inúmeros casos de trabalho forçado nas cadeias industriais de materiais essenciais, incluindo equipamento de proteção individual”, acrescentou.

A organização deu como exemplo o Bangladesh, onde a indústria têxtil despediu ou colocou em ‘lay-off’ mais de um milhão de trabalhadores, só até ao final de março de 2020.

E a situação pode não melhorar com o final da pandemia. “Falei com proprietários de fábricas que basicamente disseram: ‘sim, vou explorar estas pessoas e obrigá-las a fazer trabalho extraordinário sem lhes pagar por isso’. E eles dizem que ou fazem isso ou a companhia terá de fechar portas”, salientou Matt Friedman.

A crescente responsabilização dos grandes grupos ocidentais pela violação de direitos humanos na sua cadeia de produção tinha sido uma força de mudança, mas que foi também afetada pela pandemia, disse o diretor-executivo do Mekong Club.

“As empresas privadas não podem neste momento ir fazer inspeções a muitos destes países. Por exemplo, é impossível entrar e sair da China e mesmo para quem está na China, há restrições ao movimento”, lamentou o ativista.

LUSA/HN

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