Observatório quer saber como está a ser feita análise caso a caso da mortalidade materna

21 de Julho 2022

O Observatório de Violência Obstétrica (OVOPT) questionou esta quinta-feira a Direção-Geral da Saúde sobre como está a ser feita a análise caso a caso da mortalidade materna e porque não foram divulgados os relatórios destas análises nos anos anteriores.

“Como está a ser efetuada a análise caso a caso? E porque nos últimos anos informam sempre a idade materna e a obesidade como possíveis causas, sendo que os relatórios nunca estiveram disponíveis”, questiona o observatório, apontando declarações da diretora-geral da Saúde esta semana na comissão parlamentar da Saúde.

Quando foi ouvida no parlamento sobre a mortalidade materna em Portugal – cuja taxa subiu em 2020 aumentando para 20,1 óbitos por 110 mil nascimentos, o nível mais alto dos últimos 38 anos – Graça Freitas disse que a maioria (76,5%) das mulheres tinham comorbilidades não associadas à gravidez.

“Dos resultados que já nos vieram de 2020 – dados preliminares -, cerca de 76,5% destas mulheres tinham comorbilidade pesada”, afirmou Graça Freitas, que adiantou ainda que os dados provisórios apontam para que as mulheres que vieram a falecer “tendem a ser mais velhas”, com 52,9% das mortes a ocorrerem acima dos 35 anos.

No comunicado hoje divulgado, o OVOPT sublinha que “é de extrema importância a recolha de todos os dados relevantes para compreender o que, de facto, está a acontecer na assistência ao parto, sem dissociar da assistência à gravidez e pós-parto”.

Ao mesmo tempo, o observatório diz que subscreve a declarações do presidente da Associação Europeia de Medicina Perinatal que quando foi ouvido no parlamento na semana passada defendeu que Portugal devia fazer uma “avaliação rigorosa” da mortalidade materna, além dos números, com um grupo de pessoas que analisasse as situações caso a caso, sediado na DGS.

O observatório defende que estes grupos de trabalho/comissões devem ter sempre especialistas e ser multidisciplinares.

“Seria essencial ter presentes elementos do MS/DGS, o próprio Colégio de Especialidade, (que recorrentemente afirma que não têm dados, que desconhecem, que não foram informados), a Ordem dos Enfermeiros, que também faz parte e é interveniente no nascer, (…) um elemento dos Cuidados Primários (médico de família por exemplo) que acompanha esta díade, fisioterapeutas que assistem em traumas perineais e do pavimento pélvico, assim como membros do Observatório de Violência Obstétrica em Portugal, e outras associações que acrescentem valor”, considera.

Nas declarações na comissão parlamentar de saúde, Graça Freitas disse que as autoridades estão preocupadas e tudo farão “para perceber o que se está a passar”, salientou que é necessário fazer uma análise de séries de cinco anos, tendo em conta a reduzida dimensão dos números sobre a mortalidade materna.

De acordo com Graça Freitas, a partir de 2016, com entrada em “velocidade de cruzeiro” de um sistema informático de certificados de óbito, foi possível à DGS saber, a todo o momento, quando uma morte ocorreu.

“Até 2016, tínhamos um cálculo subnotificado certamente da mortalidade materna e, a partir de 2016, essa subnotificação ter-se-á tornado muito mais difícil, por via destes automatismos que foram criados”, assegurou a diretora-geral da Saúde.

A mortalidade materna pode ocorrer durante qualquer momento da gravidez, durante o parto ou nos 42 dias seguintes ao parto.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This