Ministro acusa farmacêuticos de adiarem tratamentos oncológicos, sindicato rejeita críticas

26 de Outubro 2022

O ministro da Saúde acusou hoje os farmacêuticos de, com a greve, terem provocado o adiamento do arranque de tratamentos oncológicos, uma situação que estes profissionais rejeitam, garantindo que todos os pedidos nas farmácias hospitalares foram respondidos.

Em declarações à Lusa, Manuel Pizarro apelou ao “compromisso ético dos farmacêuticos” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), considerando que “os doentes oncológicos não podem ser usados num processo de luta laboral, seja qual for esse processo e a sua legitimidade”.

Contactado pela Lusa, Henrique Reguengo, presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos, que convocou uma greve dos farmacêuticos do SNS em curso, disse estar a recolher informação sobre eventuais adiamentos de início de tratamentos, garantindo que todos os pedidos recebidos pelas farmácias hospitalares tiveram resposta.

Acrescentou ainda que, a ter acontecido, o adiamento foi uma decisão dos médicos ou da direção clínica dos hospitais.

O responsável disse ainda não ver problema nos adiamentos, se tiverem acontecido em situações em que o tratamento poderia arrancar dois ou três dias depois sem consequências para a saúde do doente.

Em declarações à Lusa, Manuel Pizarro pediu desculpas aos doentes que terão visto o início do tratamento adiado, considerando que estão “já fragilizadas pela doença”.

“Naturalmente, lamento profundamente que alguns doentes oncológicos tenham visto adiado o início do seu tratamento em função da greve dos farmacêuticos. E, enquanto ministro da Saúde, eu peço desculpa a essas pessoas, que, já fragilizadas pela doença, acabam por se sentir inevitavelmente mais inseguras nestas circunstâncias. Essas pessoas têm a minha total solidariedade”, afirmou.

Manuel Pizarro sublinhou que “não está em causa o direito que os farmacêuticos têm de defender aquilo que são os seus direitos laborais e, em última instância, de fazer greve”, mas defendeu que “esse direito não se pode sobrepor ao dever ético de tratar pessoas com uma doença grave que estão numa situação muito vulnerável”.

Os farmacêuticos do SNS cumprem hoje o segundo dia de greve, uma paralisação que se repetirá nos dias 15 e 16 de novembro, pela revisão e atualização das grelhas salariais e contagem integral do tempo de serviço no SNS para a progressão na carreira.

Além da valorização profissional e da contagem integral do tempo de serviço no SNS para efeitos de promoção e progressão na careira, o sindicato exige também a vinculação efetiva dos farmacêuticos a exercer no Serviço Nacional de Saúde (SNS) com contratos precários e a adequação do número de profissionais às reais necessidades e complexidade das atividades desenvolvidas.

Questionado pela Lusa sobre se a equipa ministerial estaria disponível para responder a algumas destas reivindicações, Manuel Pizarro respondeu: “Em relação aos farmacêuticos e em relação a todos os profissionais, nós estamos absolutamente disponíveis para negociar, o que não me parece razoável, como princípio de negociação, é a realização de uma greve, quando é sabido por todos, e também seguramente pelos farmacêuticos, que esta equipa ministerial tomou posse a escassas há escassas semanas”, afirmou.

O governante sublinhou que “não está em causa a utilização do direito à greve”, mas insistiu: “acho que é difícil encontrar razoabilidade numa forma de luta que põe em causa os doentes mais vulneráveis, que são os grandes oncológicos”.

“Repito, insisto no meu apelo ao compromisso ético dos farmacêuticos do SNS”, acrescentou.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights