Pizarro diz que recurso a privados é “indesejável”, mas pode acontecer

30 de Novembro 2022

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, afirmou esta quarta-feira que o recurso a privados é “absolutamente indesejável”, mas admitiu que nalguns casos pode mesmo ter de acontecer para aliviar as urgências hospitalares.

“O eventual recurso a serviços privados, a aquisição de serviços privados, é neste contexto absolutamente indesejável e é por isso que se chama recurso, é mesmo uma medida de recurso, mas nalguns casos pode ter mesmo de ser”, disse Manuel Pizarro em resposta a uma questão levantada pela deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua na audição regimental na Comissão da Saúde, onde hoje está a ser ouvido o ministro.

Na sua intervenção, Joana Mortágua questionou o ministro sobre se “vai tomar finalmente a opção ideológica, que nem o PSD teve a coragem de tomar durante a ‘troika’, que é avançar para os cuidados de saúde primários privatizados”, nomeadamente com a criação da USF Modelo C.

Reiterando que se deve tentar evitar esse recurso, o ministro exemplificou que se forem precisos 80 ou 90 lugares de internamento no Hospital Garcia de Orta, em Almada, para aliviar a urgência, não vê outra alternativa.

“Se precisamos [de lugares de internamento] hoje, nesta semana, para a próxima semana, eu não vejo nenhuma alternativa que não seja encontrar parceiros que nos ajudem a resolver o assunto neste horizonte”, sublinhou.

Insistindo que “é melhor não o fazer”, o ministro avisou que “pior, pior é deixar as pessoas sem atendimento”.

“Aliás, por alguma razão, durante todo este tempo nenhum governo socialista regulamentou as USF Modelo C, porque só admitimos regulamentá-lo e só poderemos implementá-lo de forma supletiva, temporária, transitória, localmente estabelecida”, sustentou Manuel Pizarro.

Questionado pelos deputados sobre as situações de sobrelotação das urgências, o ministro afirmou que por volta das 11:00 de hoje estavam mais de 80 urgências do país a funcionar.

“Eu fico muito preocupado por haver problemas sérios em três ou quatro ou cinco urgências, mas não deixo de registar que isso significa que funcionam de forma regular 80 e tal urgências em cada momento”, afirmou, ressalvando que não está a relativizar o problema.

O ministro sublinhou que a preocupação do Ministério da Saúde é concentrar a sua ação nas urgências que estão a funcionar de “forma difícil” e perceber por que é que estão nessa situação.

“A situação em cada hospital não é exatamente igual, embora eu entenda que o plano que nós apresentámos responde às principais determinantes, que depois tem de ser localmente e em cada momento avaliado, porque a situação não é igual todos os dias”, referiu Manuel Pizarro.

Joana Mortágua indicou que hoje de manhã o tempo médio de espera para doentes com pulseira amarela (urgentes) no Hospital de Santa Maria era de nove horas e 30 minutos, o que quer dizer que “o problema não foi resolvido nos últimos dias”.

Em resposta, o ministro da Saúde reconheceu que a situação hoje de manhã estava mais difícil do que na terça-feira de manhã. “Até hoje estivemos relativamente bem”.

Observou ainda que se aproxima um fim de semana prolongado, o que “ vai exigir uma maior intervenção”, mas disse estar convencido que irão conseguir lidar com a situação.

“Eu não estou a relativizar o problema, mas acho que estamos a tomar as medidas que são possíveis para diminuir o fluxo na urgência, procurando outros pontos de contacto no sistema de saúde”, afirmou.

Aconselhou que o primeiro recurso aos serviços de saúde seja via SNS 24, seguido dos cuidados de saúde primários, e lembrou que vai haver equipas nas unidades de internamento de pessoas idosas, assim como o recurso destas equipas à telemedicina.

O ministro reconheceu que esta diminui o problema das urgências, mas não o resolve.

LUSA/HN

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