Bolieiro rejeita “precipitações” para nomear administração do hospital de Ponta Delgada

3 de Dezembro 2022

O presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, rejeitou “precipitações” na nomeação da nova administração do hospital de Ponta Delgada, admitindo que não ficou surpreendido com o pedido de demissão da presidente da unidade.

“Não sou uma pessoa de precipitações. Prefiro fazer no melhor tempo e bem, do que me precipitar e fazer mal. Portanto, será o tempo que for necessário e adequado para melhor servir os interesses do Hospital Divino Espírito Santo”, afirmou, quando questionado sobre o prazo para a escolha da nova administração da unidade.

O líder do Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM), José Manuel Bolieiro, falava esta sexta-feira aos jornalistas na sede da Presidência em Ponta Delgada, após um encontro com os diretores de serviço do Hospital do Divino Espírito Santo.

A reunião surgiu depois de 21 dos 25 diretores dos serviços do hospital de Ponta Delgada se terem demitido.

Na sequência dessa decisão, a presidente da administração do Hospital do Divino Espírito Santo, Cristina Fraga, apresentou o pedido de demissão, que foi aceite pelo Governo dos Açores.

O líder do executivo dos Açores lembrou que o tempo de gestão permitido legalmente são dois meses e detalhou que Cristina Fraga vai continuar como presidente demissionária, gerindo a “parte financeira”, mas sem se envolver na gestão clínica.

“Haverá aqui um período de gestão onde [a presidente demissionária] continuará a fazer o seu trabalho. […] Independentemente da questão clínica que ela não se envolverá, mas sim a gestão dos negócios”, salientou.

José Manuel Bolieiro revelou não ter ficado surpreendido pelo pedido de demissão, considerando que foi o “espírito de missão” de Cristina Fraga que a permitiu “resistir” aos conflitos internos no maior hospital dos Açores.

“Naturalmente, tenho estado a falar com a doutora Cristina Fraga relativamente à situação para sermos úteis à solução de um problema. Temos de reconhecer que tudo isto também é desgastante para a pessoa. E é uma pessoa. Uma humana. O desgaste era constante”, acrescentou.

Com o pedido de demissão, Cristina Fraga “colocou-se do lado da solução”, defendeu o presidente do Governo Regional.

“Era preciso olhar para as pessoas e instituições como parte da solução para resolver um problema real. Não se tratou de um problema ficcional, nem criado pela comunicação social. Quero admitir isto como pessoa que olha a vida com sentido pragmático”, assinalou.

Na quarta-feira, José Manuel Bolieiro tinha confirmado a demissão dos 10 chefes do serviço de urgência da unidade, mas garantiu que “as escalas de urgências dos três hospitais” estavam asseguradas na próxima semana.

Por seu turno, a responsável nos Açores pelo Sindicato dos Médicos do Sul reconheceu ontem que foi induzida em erro numa reunião com o presidente do Governo Regional e acabou por “mentir” quando disse que as escalas do Hospital do Divino Espírito Santo estavam preenchidas

Na quarta-feira, Anabela Lopes disse que as urgências hospitalares nos Açores, que estavam na iminência de não terem escalas completas, por indisponibilidade dos médicos, estavam asseguradas.

Já na quinta-feira, a responsável nos Açores da Ordem dos Médicos, Margarida Moura, denunciou a falta de condições de assistência aos doentes no hospital de Ponta Delgada, nomeadamente na cirurgia geral, cuja diretora de serviço apresentou a demissão.

Na sexta-feira, direção clínica e a administração afirmaram que “a segurança dos doentes está garantida” e que as escalas de urgência “estão asseguradas até 07 de dezembro”.

Em novembro, cerca de 400 médicos (191 do Hospital do Divino Espírito Santo) manifestaram indisponibilidade para fazer mais do que as 150 horas de trabalho extraordinário obrigatórias por lei, reclamando um pedido de desculpas do vice-presidente do executivo de coligação PSD/CDS-PP/PPM, Artur Lima.

Artur Lima (CDS-PP) tinha afirmado, em 11 de novembro, que os médicos “não podem usar o dinheiro como moeda de troca para dispensar” a prestação de cuidados.

Depois, o governante disse que não teve “intenção de ofender os médicos” nas declarações feitas sobre o trabalho extraordinário, após ter sido criticado por PAN, BE e PS no parlamento regional.

LUSA/HN

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