Além da aposta na prevenção, para “manter a população saudável o máximo de tempo possível da sua vida”, os peritos recomendam igualmente um investimento nos cuidados de saúde domiciliários e na saúde digital associada a esses cuidados.
“Não só para libertar recursos dos hospitais, mas também porque o tratamento e a recuperação no ‘habitat’ natural é mais benéfico para os doentes”, acrescentam, lembrando que existem soluções tecnológicas de produtos e de serviços de monitorização remota que deverão ser potencializadas e utilizadas nestes casos.
O trabalho, que será hoje apresentado no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, reúne um conjunto de 43 recomendações com níveis de concordância acima de 75%, consensualizadas por um painel de 37 peritos de várias áreas da saúde.
Os especialistas apontam ainda para a necessidade de desenvolver e fortalecer a literacia das populações, promovendo estratégias de prevenção da doença.
“É necessária uma resposta robusta e transversal, só possível através de uma gestão integrada de recursos e de uma articulação entre os diversos setores (público, privado, social e cooperativo) que trabalham na área da Saúde”, consideram.
O foco deverá ser “uma sociedade mais saudável e resiliente”, defendem os peritos, lembrando que, atualmente, menos de 1% do orçamento da saúde é investido a impedir a doença. Isto “mostra que o sistema não está apto a dar resposta às tendências epidemiológicas atuais”, insistem.
O grupo de peritos, que envolveu especialistas como o antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes, Maria do Céu Machado, que foi Alta Comissária para a Saúde e dirigiu o Infarmed entre 2017 e 2019, e o antigo diretor-geral da Saúde Constantino Sakellarides, entre outros, defende igualmente a promoção de campanhas intersetoriais – envolvendo Saúde e Educação – para promover a literacia do cidadão sobre os fatores de risco modificáveis.
“Numa perspetiva de médio e longo prazo, a literacia do cidadão sobre como promover a sua saúde e prevenir a doença, afigura-se como essencial para, não só melhorar a sua qualidade de vida, mas também para reduzir a necessidade de recurso aos serviços de saúde, libertando meios para as situações que não se conseguem evitar ou prevenir, nomeadamente as relacionadas com doenças crónicas”, escrevem.
Aprofundar a dimensão local da prestação de cuidados de saúde, através da descentralização, e concretizar o Registo de Saúde Eletrónico (RSE) em todo o sistema de saúde são outras das recomendações.
Este sistema único de recolha, armazenamento e gestão da informação de saúde dos utentes permitiria aceder, em qualquer ponto do sistema de saúde, àquela informação e em tempo útil, aumentando a eficácia dos cuidados e evitando redundâncias como, por exemplo, a duplicação de exames.
“A proliferação de diferentes sistemas de gestão de informação sobre a saúde dos utentes sem que seja assegurada a sua interoperacionalidade gera muita ineficiência, desconforto para o utente, muito desperdício, com duplicação de exames e consultas e, por vezes, desconhecimento sobre informação essencial para a melhor prestação de cuidados em situações de urgência ou emergência”, sublinham.
Os peritos sugerem ainda que se torne os Cuidados de Saúde Primários “mais resolutivos”, dando-lhes maior capacidade de resposta e diversidade de serviços.
Outra das recomendações para um sistema de saúde mais sustentável e resiliente para pela aposta na promoção de saúde, com programas de exercício físico e de alimentação saudável, por exemplo, para permitir controlar fatores de risco e retardar ou evitar o aparecimento de doenças.
No domínio da Saúde Populacional, recomendam ainda que se mapeie as causas associadas à “fraca qualidade de vida da população com mais de 65 anos”, identificando ações específicas para melhorar a qualidade de vida desta população, e que se regule atividades e práticas comerciais que afetam a saúde, como a publicidade e o fácil acesso a produtos nocivos como o tabaco ou o álcool.
Na área da sustentabilidade ambiental, os peritos recomendam uma redução da obsolescência dos equipamentos médicos hospitalares. Falam igualmente na redução de desperdício e na incorporação de mecanismos de contratualização, sejam estes incentivos ou obrigações, associados ao desempenho da sustentabilidade ambiental.
LUSA/HN
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