HealthNews (HN)- O que é que traz de novo a sua candidatura para estas próximas eleições?
Miguel Leão (ML)- Foi um desafio que me foi colocado por um conjunto de colegas que entendeu que eu tinha a motivação e a capacidade para fazer coisas novas. Tenho noção de que estou a concorrer para uma posição com uma carga de trabalho, provavelmente maior do que aquela que tinha há uns anos, mas sinto que tenho a determinação necessária para que garantir melhorias.
HN- É médico desde 1984. De que forma a experiência que acumula, e as propostas da sua candidatura, vão ao encontro das necessidades da nova geração de médicos?
ML- Durante muitos anos fui assistente da Faculdade de Medicina. Sempre gostei muito de ter o contacto com os jovens médicos. Julgo que isso acabou por dar-me uma compreensão alargada relativamente aos desafios da nova geração. De facto, tenho muito orgulho em poder dizer que a nossa equipa é constituída por 300 pessoas, entre os quais mais de 20% dos membros desta candidatura são médicos internos. Portanto, incorporei esse meu gosto pela proximidade com os jovens médicos na constituição da equipa “MUDANÇA com Norte”.
HN- Acompanhou os inícios do Serviço Nacional de Saúde e assistiu às profundas mudanças do exercício da Medicina dos últimos anos. Olhando para o atual cenário, quais os aspetos que mais o preocupam e que considera merecerem uma atuação imediata?
ML- Podia ser demagógico e começar por falar na questão da remuneração. Todos sabemos que os médicos são mal pagos, mas esta questão não é da competência da Ordem dos Médicos e eu não gosto de fazer demagogia. Quem disser que a ordem vai resolver estes problemas está a mentir.
Mas respondendo a sua pergunta, eu diria que há duas questões essenciais. Uma de natureza psicológica que é a desmotivação dos profissionais e a segunda está relacionada com as condições de exercício profissional. São estas duas matérias para as quais a nossa lista poderá contribuir.
HN- O burnout dos médicos é um problema que o preocupa? Trata-se de um fenómeno que contribui para o erro médico?
ML- Sem dúvida. É algo que está contemplado no nosso programa. Defendemos a consagração da Medicina como profissão de risco. Situações de burnout, bullying ou pressão no exercício profissional têm um forte impacto no erro médico. São aspetos que repercutem na saúde dos doentes. Portanto, a Ordem dos Médicos tem que velar pela qualidade assistencial. É um assunto absolutamente essencial do nosso programa. De uma forma complementar, propomos a criação de uma linha de apoio a médicos em situação de burnout.
HN- Chegou a considerar os médicos de família como os “guardiões do sistema”. Como olha para os esforços e intenções até agora manifestados pelo Ministro da Saúde e Diretor Executivo do SNS relativamente à melhoria das condições dos médicos?
ML- Vejo com agrado, mas o importante é que se concretize. Conheço bem o doutor Fernando Araújo e tenho uma enorme consideração. Apesar de não conhecer tão bem o ministro da Saúde posso dizer que são dois médicos com conhecimento do terreno. Portanto, espero bem que tenham sucesso em nome do SNS, dos doentes e dos médicos. De facto, nós defendemos que a ordem tem que ter uma postura de colaboração reivindicativa com qualquer poder político. Achamos que devemos cultivar um espaço de diálogo com todas as instituições.
HN- A figura do novo Diretor Executivo tal como se encontra instituída legalmente tem mais ou menos poder interventivo nas reformas necessárias no SNS? Como se gere um SNS sem dinheiro e sem competências na área dos recursos humanos?
ML- Podemos discutir se o SNS está subfinanciado ou não… provavelmente sim e isso impede a retenção de profissionais. No entanto, também entendo que é necessário apostar mais na racionalização de recursos. Temos um bom exemplo, desenvolvido pelo doutor Fernando Araújo, que foi a urgência metropolitana no Porto na área da Pediatria. Foi uma excelente medida. Portanto, os problemas não se resolvem apenas com injeção de mais dinheiro no SNS, mas também com medidas de concentração de serviços.
No fundo, é preciso implementar medidas de cariz financeiro, assim como também medidas a nível da gestão de recursos.
HN- Encaminhada que está a reorganização do sistema em ULS. Que sentido fazem os ACES?
ML- Julgo que vai ser algo que também deverá ser remodelado. As Unidades Locais de Saúde visam melhorar a integração das unidades hospitalares com os centros de saúde. Portanto, será necessário reformular competências. Caberá a Fernando Araújo reorganizar a quadricula de competências do ministério da Saúde.
HN- A Ordem dos Médicos chumbou a criação da especialidade de Medicina de Urgência, apoiada por antigos e atuais diretores de serviços de urgência, mas considerada inoportuna até para a própria “MUNDANÇA com Norte”. Porquê?
ML- Somos sensíveis aos argumentos dos três maiores Colégios da Ordem dos Médicos. Falo do Colégio de Medicina Interna, do Colégio de Pediatria e do Colégio de Medicina Geral e Familiar. Julgo que nesta matéria, o problema não se resolve lançando mais médicos para o serviço de urgência. O problema está é na procura excessiva dos doentes por este serviço de urgência.
A Medicina não foi organizada para se basear exclusivamente nos serviços de urgência. Mas, admitindo a possibilidade de que esta especialidade fosse criada, importaria saber qual seria a rapidez com que a medida iria permitir resolver o problema das urgências? Seguramente teríamos de ter médicos internos, cuja formação iria demorar pelo menos cinco anos… outra pergunta é: como é que se compagina o exercício da Medicina de Urgência, que é seguramente um serviço essencial, com o direito à greve?
HN- A lista “MUDANÇA com Norte” está confiante relativamente aos resultados da eleições de dia 19 de janeiro?
ML- Os médicos podem esperar um presidente com muita experiência e uma equipa muito diversificada, quer a nível de faixas etárias, especialidades e convicções ideológicas. Somos uma lista composta por membros com posições partidárias que vão do PCP ao CDS. Portanto, podem esperar de nós uma rigorosa independência de qualquer poder político. Podem também ter a garantia de que não pretendo fazer da Ordem dos Médicos uma espécie de “rampa” de lançamento para qualquer carreira política. No fundo, os médicos do Norte podem esperar de mim experiência, motivação, determinação e transparência.
Entrevista de Vaishaly Camões
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