Denúncias sobre doentes operados no hospital Amadora-Sintra estão a ser investigadas

13 de Janeiro 2023

Mais de 20 doentes operados no Hospital Fernando Fonseca “morreram ou ficaram mutilados”, alegadamente por má prática da equipa cirúrgica, segundo uma denúncia feita por dois cirurgiões da unidade e que está a ser investigada, noticia hoje o Expresso.

Segundo o jornal, que escreve que a denúncia foi enviada à Ordem dos Médicos (OM), os casos remontam ao ano passado e foram comunicados à direção clínica do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) no início de outubro (17 doentes) e no final de novembro (cinco situações).

A OM foi informada sobre as suspeitas por correio eletrónico e já nomeou peritos para analisarem a situação, refere o Expresso.

Na missiva enviada à Ordem, segundo o Expresso, um dos cirurgiões escreve que é seu “dever ético, profissional, pessoal, de cidadania alertar para que existem situações de prejuízo de vida e qualidade de vida graves, com mortalidade e mutilações desnecessárias, evitáveis, que resultam de uma prestação de cuidados ao doente cirúrgico que não coincide com a leges artis”.

Diz igualmente que a “denúncia não se centra num médico em particular, mas sim numa situação sistémica”.

Além das alegadas “mortalidade e morbilidade injustificadas”, os médicos referem outras situações de suposta negligência.

Numa das denúncias feitas aos responsáveis clínicos do hospital – explica o jornal – outro cirurgião diz que a estes casos se somam “muitos outros, embora de gravidade significativamente menor, com doentes ‘perdidos’ no serviço (de cirurgia geral), avaliados por jovens médicos voluntariosos, mas inexperientes, que, embora estejam a dar o seu melhor, pouco ou nada são corrigidos ou orientados”.

“A mortalidade não esperada não pode ser entendida como consequência óbvia do quadro clínico e uma fatalidade da responsabilidade do doente ou do equipamento utilizado, mas antes a consequência das opções de quem assume e define a estratégia em cada momento”, refere o clínico, sublinhando que “é essa estratégia que deve ser questionada e reformulada, não o doente.”

O Expresso, que teve acesso a um documento que descreve algumas situações, refere o caso de um doente com cerca de 60 anos operado ao baço sem ter indicação para a cirurgia programada e que morreu “exsanguinado, com perto de 15 transfusões”, logo após a intervenção, ou outro, de outro doente também com perto de 60 anos, operado ao pâncreas por suspeitas de tumor que não existia.

Outras situações apontadas incluem casos de doentes submetidos a cirurgia oncológica que acaba por revelar que não tinham cancro e de um “doente que fez radioterapia e não tinha tumor”.

Ao jornal, a administração do hospital confirma que “recebeu, a 6 de outubro de 2022, uma denúncia escrita de alegados indícios de más práticas no Serviço de Cirurgia Geral” e garante que “de imediato deliberou a abertura de um processo de inquérito para o apuramento dos factos e eventuais responsabilidades”.

Na resposta, o hospital diz ainda que solicitou ainda “ao bastonário da Ordem dos Médicos a nomeação de instrutores externos do Colégio da Especialidade de Cirurgia Geral para garantir a necessária idoneidade e imparcialidade do processo de averiguações sobre as denúncias rececionadas”.

Acrescenta ainda que a denúncia recebida “foi comunicada à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde” (IGAS), assim como todas as medidas adotadas.

Segundo o hospital, “a 26 de outubro de 2022, a Ordem dos Médicos indicou um médico perito para abertura de ‘procedimento de inquérito prévio’, que decorre” e, após o contacto do jornal, a administração “reforçou por escrito, junto da Ordem, a muita urgência inerente a este processo, submetendo um pedido para reforço da equipa para a conclusão do inquérito a tempo”, refere a noticia.

O Expresso acrescenta ainda que a IGAS confirmou a abertura de “um processo de natureza disciplinar para apurar os factos e aguarda resultados das investigações realizadas”.

LUSA/HN

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