Movimento em defesa do SNS quer “a polis” na rua a discutir soluções

4 de Junho 2023

Em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) “a polis” saiu à rua, dando corpo a um movimento cívico que está a começar, mas que quer crescer, nem que seja “por teimosia” e sem ficar à espera dos políticos.

“Nós hoje deixamos em casa as pequenas guerrilhas político-partidárias que enchem a bolha mediática e política e descemos à rua, descemos à realidade, descemos à cidade, com um objetivo muito claro: chamar a atenção para a necessidade de assegurar que todos os nossos concidadãos têm acesso a cuidados de saúde de qualidade. É um objetivo fundamental, quase civilizacional, é um direito básico (…)”, disse à Lusa Constantino Sakellarides.

O professor catedrático jubilado e especialista em saúde pública é um dos primeiros subscritores do manifesto que junta representantes de vários setores da sociedade em torno do Movimento +SNS, que no sábado se manifestou em Lisboa com o objetivo de chamar os portugueses para a luta em defesa do SNS, consciente de que esse é um caminho que leva tempo.

“Os movimentos começam e crescem, e crescem também por teimosia, crescem por perseverança, crescem pela necessidade de acreditar que aquilo que defendemos é uma coisa fundamental, é uma coisa absolutamente necessária. Este movimento teve uma pequena manifestação comemorando o 25 de Abril, esta é a segunda, não será ainda aquela manifestação que gostaríamos de ter mas vamos continuar. Estou confiante que vamos conseguir mobilizar uma parte importante da sociedade portuguesa”, disse.

Para Sakellarides esta é uma “questão da polis, não só da política”, defendendo que todos têm a “obrigação de ajudar” a encontrar soluções para os problemas.

“Não podemos descansar na cadeira, acusar os políticos e ficar à espera que as coisas aconteçam. Temos que fazer a nossa parte”, disse.

Helena Ribeiro, utente do SNS e membro da Liga dos Amigos da Unidade de Saúde Serpa Pinto, concorda.

“Acho que hoje principalmente deviam estar aqui muito mais portugueses, aqueles que precisam do SNS, porque quem é do privado e quem tem os seguros, que são as pessoas com condições financeiras, esses não estão aqui. Nós viemos do Porto e mais vezes viremos se for preciso”, disse à Lusa, acusando ainda os “grandes lobbies” de quererem “destruir o SNS”.

Mário Januário, dirigente da associação Ur’Gente, de utentes do SNS do concelho de Porto de Mós, que nunca foi de “andar em manifestações”, viu-se ‘forçado’ a vir a Lisboa para alertar que no seu concelho mais de metade das pessoas não tem médico de família e que há idosos “a fazer madrugadas” para conseguir consulta no centro de saúde.

“Da maneira como está isto é uma indignação. Faz-me lembrar o brasileiro Tiririca: ‘Pior do que está não fica’. E nós temos esperança que alguma coisa melhore (…) Falta de médicos de família, de profissionais de saúde, falta de tudo. É confrangedor o que se está a passar no concelho de Porto de Mós”, descreveu.

Apesar do caráter cívico e apartidário, a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e o ex-deputado e ex-autarca do PCP, Bernardino Soares, marcaram presença na concentração no Largo Camões, para alertar para o desinvestimento e para a necessidade de criar condições que fixem médicos e profissionais de saúde no SNS.

Mariana Mortágua criticou o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, por ter considerado o último concurso para médicos de família “um sucesso” quando 70% das vagas ficaram por preencher, considerando fundamental ter profissionais bem pagos no SNS e criticando a contratualização de serviços ao privado a preços superiores ao custo no serviço público.

Também Bernardino Soares criticou os contratos com os privados e sublinhou a necessidade de mais financiamento e de valorização das carreiras no setor, acusando o Governo de andar “a entreter os sindicatos em negociações que depois não concretiza em propostas” em benefício do setor privado.

Bruno Maia, que foi candidato a bastonário da Ordem dos Médicos e é um dos principais dinamizadores do Movimento +SNS, defendeu a necessidade de apostar nos recursos humanos e de um plano a longo prazo que garanta sustentabilidade.

Sobre a manifestação considerou-a “um primeiro sinal” para “demonstrar que a debilidade, a fraqueza do SNS diz-nos respeito a todos” e que a mobilização popular é necessária para influenciar políticas públicas, sublinhando que em tempo de maioria absoluta o “instrumento para lutar contra as políticas que degradam o SNS é o povo na rua”.

LUSA/HN

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