Em declarações à agência Lusa, o médico do IPO do Porto responsável pelo projeto, Lúcio Lara Santos, esclareceu hoje que os doentes oncológicos que são submetidos a cirurgia “não conseguem recuperar a sua performance” e podem, muitas vezes, desenvolver complicações que atrasam a recuperação.
“As variáveis que, ao longo dos anos, se têm manifestado como importantes no pós-operatório são os aspetos nutricionais, os aspetos relacionados com a capacidade física e o apoio ao doente do ponto de vista psicológico”, referiu o oncologista, que é diretor do Grupo de Patologia e Terapêutica Experimental do Centro de Investigação do IPO do Porto.
Segundo Lúcio Lara Santos, o estudo desenvolvido em colaboração com a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FDUP) visa “avaliar o impacto do exercício físico na diminuição de complicações em doentes de cancro gástrico, com maior risco cirúrgico”.
“Celebrámos um protocolo com a faculdade e convidámos os doentes que sabemos que vão ter de fazer ciclos de quimioterapia e cirurgia a participarem”, esclareceu, acrescentando que o programa, que arrancou em 2020 e termina no início de 2024, contou já com 80 doentes.
Também em declarações à Lusa, o professor da FDUP Daniel Gonçalves esclareceu que o estudo analisou dois tratamentos ao nível do exercício físico: o tratamento não estruturado (tendo por base as orientações da Organização Mundial de Saúde) e o tratamento estruturado (no qual foram dadas indicações específicas pelos orientadores).
Os 80 doentes, que antes da cirurgia realizaram quatro ciclos de quimioterapia, foram divididos de forma homogénea pelos dois tratamentos.
Segundo o docente, foram realizados três momentos de avaliação: uma antes de se realizarem os tratamentos, outra quando terminaram os ciclos de quimioterapia e a terceira após a cirurgia.
“Para já, conseguimos perceber que ambas as intervenções parecem ser capazes de manter a robustez física dos doentes ao longo do tratamento”, referiu Daniel Gonçalves, notando que estes são “resultados provisórios”.
O professor destacou ainda que, com o programa, os doentes passaram a “tolerar melhor” a cirurgia, reduzindo de 40 para 20% as complicações 30 dias após a intervenção, quando comparados com os dados de controlo histórico do IPO.
O estudo mostrou ainda que foi possível reduzir a mortalidade pós-operatória, que historicamente rondava os 2 e 3%.
“Até à data, conseguimos 0% de mortalidade 30 dias após a cirurgia”, referiu o professor.
Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), o estudo envolve uma equipa multidisciplinar de profissionais, tais como médicos, fisioterapeutas, biólogos, cardiologistas, psiquiatras e nutricionistas.
As duas instituições vão dar continuidade ao projeto desenvolvido e preparam-se para lançar um curso sobre pré habilitação, a ser lecionado na FDUP no próximo ano letivo.
“Achamos importante formar pessoas, independentemente do seu ‘background’ de base. O que nos importa é que haja uma comunidade com capacidade para trabalhar com estes doentes”, acrescentou Daniel Gonçalves.
O curso, acreditado pela Universidade do Porto, pretende “apetrechar a comunidade de competências e conhecimentos” na preparação do doente oncológico para a cirurgia.
LUSA/HN
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