“O papel do engenheiro biomédico em ambiente hospitalar” foi um webinar organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), em parceria com a Associação Nacional de Estudantes de Engenharia Biomédica (ANEEB) e em colaboração com a FDC Consulting, com a participação de: Júlio Pedro, administrador hospitalar e vogal da direção da APDH; Marina Caldas, da FDC Consulting (moderadora da sessão); João Durão Carvalho, presidente da Assembleia Geral da Associação dos Técnicos de Engenharia Hospitalar; Mónica Oliveira, professora no Instituto Superior Técnico-UL; e Ana Sofia Silva, Data Analyst no Outcomes Research Lab, do IPO.
Com a intervenção inicial de João Durão Carvalho e Mónica Oliveira, o primeiro com um olhar mais clínico e a segunda académico, revisitou-se a história da Engenharia Bioquímica, desde 86 – ano em que a administração do Santa Maria criou uma Divisão de Engenharia Clínica que confiou a Durão Carvalho – até às especializações dos últimos 10 anos e ao reconhecimento, “muito mais recentemente”, da Engenharia Clínica dentro do curso de Engenharia Biomédica, como recorda a professora do Instituto Superior Técnico. Segundo Mónica Oliveira, aqueles que se formaram primeiro, sendo que os primeiros cursos começaram há cerca de 25 anos, “iam muito para investigação”, e cresceu posteriormente o trabalho em hospitais e consultoras. Agora, “em algumas instituições, começam a atingir lugares de topo”, acrescentou.
“Eu tenho achado muito interessante a evolução do conhecimento daquilo que é um engenheiro biomédico na saúde”, contou Ana Sofia Silva, que se licenciou em 2017. “Quando comecei a trabalhar, não se via muitos engenheiros biomédicos na saúde, pelo menos aqui no Norte”, disse.
Esse número cresceu, mas continua a ser insuficiente. Na opinião de João Durão Carvalho, que “pode ser contestada”, ressalvou o engenheiro, “no mínimo, devia haver um engenheiro biomédico por cada 260 camas”. “No fundo, [para] as 23 mil camas no Serviço Nacional de Saúde (camas de agudos, atenção), nós tínhamos que ter, pelo menos, 90 engenheiros biomédicos.” “Estamos muito longe disso.”
“Há aqui uma questão que é importantíssima, mas que os nossos gestores, ou muitos dos nossos gestores, infelizmente, não percebem. É que os engenheiros nos hospitais (…) não são propriamente um custo, são um investimento”, continuou Durão Carvalho. A atividade do engenheiro “por vezes passa completamente despercebida”; “quando não se fala no assunto, é porque está tudo a correr bem”.
“Eu acho que nos últimos 10 anos tem havido um conjunto inequívoco de ganhos na Biomédica, porque o nome da marca começou a ser reconhecido. As primeiras iniciativas que eu conheço foram, naturalmente, no Santa Maria, em hospitais públicos, mas a dinâmica de contratação hospitalar, do que eu conheço, nos últimos anos, foi no setor privado”, disse Mónica Oliveira. E prosseguiu: “Penso que os hospitais privados (…) têm uma dinâmica maior porque têm flexibilidade na contratação. (…) A parte muito negativa, do que eu observo, é que muitos estão a ir trabalhar para o estrangeiro porque nós não somos competitivos em muitas das áreas.”
“Eu tenho uma visão de que o Serviço Nacional de Saúde necessitaria, naturalmente, de muitos mais engenheiros biomédicos”, defendeu Mónica Oliveira – e todos os oradores concordaram.
“Tal como outras profissões que existem dentro do Serviço Nacional de Saúde, temos de ter carreiras, temos de ter o enquadramento necessário para estas profissões”, que “vêm, realmente, entrar em áreas tradicionalmente asseguradas por outros profissionais, mas que no contexto atual já exigem uma maior preparação e novas competências que é preciso introduzir nas nossas instituições, e essa é também uma responsabilidade da gestão”, “integrar estes profissionais a todos os níveis”, referiu Júlio Pedro, para quem, no público, tem que se ter a exigência de garantir que certas funções são atribuídas aos engenheiros biomédicos, algo que “os privados já perceberam”.
Nos hospitais do SNS, há “falta de investimento na renovação hospitalar e no próprio equipamento”. “Nós temos défices enormes a nível de TAC, a nível de ressonâncias, a nível de aceleradores”, alertou João Durão Carvalho.
Segundo Durão Carvalho, para quem está no Governo, particularmente para o ministro das Finanças, “isto é sempre muito incómodo”. “Os engenheiros biomédicos, do meu ponto de vista, nesta área, são incómodos, infelizmente.” Contudo, ressalvou a professora do Técnico, os engenheiros biomédicos podem, com a sua atividade, não só melhorar a qualidade dos serviços como também reduzir custos.
“Acho que, neste momento, só está no Serviço Nacional de Saúde quem está por gosto e quem gosta muito daquilo que faz”, disse Ana Sofia Silva, que ficou surpreendida com a vaga que encontrou no IPO e se mostrou feliz com o trabalho que desenvolve. “Acho que esta falta de liberdade das administrações dos hospitais dificulta muito a presença destes profissionais num hospital”, observou ainda a jovem.
“Os nossos hospitais estão extremamente debilitados no que se refere à manutenção, e eu elaborei um projeto que se designa de ‘Gestão de Ativos no SNS’”, revelou João Durão Carvalho. Este projeto para três anos, que envolve “umas largas dezenas de jovens engenheiros”, “vamos ver se é possível ser financiado pelo PRR”.
Uma coisa é certa: a formação dos engenheiros biomédicos é multidisciplinar e estes conseguem adaptar-se a vários contextos nos hospitais, como explicaram Mónica Oliveira e Ana Sofia Silva. No webinar, os oradores concluíram que no SNS estes profissionais podem e devem fazer mais.
HN/RA
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