Estatuto pode permitir nova gestão do SNS, mas reformas não se fazem no papel

7 de Julho 2022

O bastonário da Ordem dos Médicos admitiu hoje que o novo Estatuto do Serviço Nacional de Saúde (SNS) pode permitir novas formas de gestão, mas alertou que essas reformas “não se resolvem com um papel”.

“A questão básica é que este tipo de situações não se resolve com um papel, não se resolvem com o Estatuto do SNS. Este tipo de questões resolve-se valorizando a carreira dos profissionais, para os motivar a ficar” nos serviços públicos de saúde, disse à Lusa Miguel Guimarães.

Segundo o bastonário, que ressalvou que ainda não conhece a versão do estatuto aprovada hoje em Conselho de Ministros, o SNS tem “um problema sério” que se prende com a incapacidade de reter e motivar os profissionais de saúde.

“Se 80% dos médicos de família ou dos médicos obstetras escolhessem o SNS quando acabam a especialidade e os especialistas com mais experiência não estivessem a sair do SNS, teríamos os especialistas que precisávamos” no serviço público, salientou.

Para Miguel Guimarães, a solução para esta situação “não é um papel que faz”, passando sim por negociações com as estruturas representativas dos profissionais de saúde e com a alteração da carreira médica.

“Ao atualizar a carreira médica vamos atualizar o próprio SNS, tornando-o mais competitivo”, salientou o bastonário, para quem a revisão do estatuto, depois de cerca de 30 anos do que está em vigor, “pode trazer novas recomendações e novas formas de governação do SNS, nomeadamente em termos de gestão”.

Quanto à nova direção executiva para coordenar a resposta assistencial no país, também prevista no estatuto, Miguel Guimarães disse ver com “apreensão” a criação de uma entidade “que vai ficar com funções que teoricamente são da ministra e dos secretários de Estado”.

“Ou vamos substituir as estruturas que já existem por esta nova estrutura ou vamos ter mais uma nova estrutura em cima das que já existem. Não vejo nada de muito bom nisso”, considerou.

Sobre o perfil de quem vai assumir a liderança da direção executiva, o bastonário defendeu que deve ser alguém que “que conheça as pessoas que fazem o SNS todos os dias” e que, se for um médico, “tanto melhor”.

Deve ser também uma pessoa com “uma boa formação na área da gestão”, porque vai ter de tomar decisões de forma integrada e “pensar no país como um todo”, e com a independência que permita tomar as “melhores medidas para o país e para os portugueses e não necessariamente o que faz parte dos programas dos partidos políticos”, avançou.

 O novo estatuto do Serviço Nacional de Saúde (SNS), hoje aprovado pelo Governo, prevê uma direção executiva para coordenar toda a resposta assistencial no país, anunciou a ministra da Saúde, que reconheceu um “défice de organização” no setor.

A direção executiva vai também assumir responsabilidades que atualmente são de outras entidades do SNS e que o Governo quer “ver a funcionarem melhor”, caso de algumas funções que são da Administração Central do Sistema de Saúde, avançou Marta Temido.

Além disso, a gestão da rede nacional de cuidados continuados integrados e da rede de cuidados paliativos, que é responsabilidade das administrações regionais de saúde, passará para esta nova entidade prevista no estatuto do SNS.

A direção executiva terá ainda algumas “missões novas” como designar os conselhos de administração dos hospitais e os diretores executivos dos agrupamentos de centros de saúde, explicou a governante.

“A função da direção executiva distingue-se da função do Ministério da Saúde”, uma vez que terá um papel de coordenação operacional das “escolhas políticas” do Governo, disse Marta Temido.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Chamadas para o SNS24 disparam 71% ao ano, mas taxa de atendimento cai para 75%

O serviço de atendimento telefónico SNS24 registou um crescimento anual de 71% no volume de chamadas desde 2023, ultrapassando os níveis pré-pandemia. Contudo, a capacidade de resposta não acompanhou este boom, com a taxa de chamadas atendidas a cair para 74,9%, levantando dúvidas sobre a sustentabilidade do modelo

ULSEDV Promove Primeiro Encontro Conjunto para Cuidados da Mulher e da Criança

A Unidade Local de Saúde de Entre Douro e Vouga organiza a 11 e 12 de novembro de 2025 as suas primeiras Jornadas da Saúde da Mulher e da Criança. O evento, no Europarque, em Santa Maria da Feira, visa consolidar a articulação clínica entre os hospitais e os centros de saúde da região, num esforço para uniformizar e melhorar os cuidados prestados.

Projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” foca cancro da bexiga para quebrar estigma

A Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde lançou uma nova temporada do projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” dedicada ao cancro da bexiga. Especialistas e doentes unem-se para combater o estigma em torno dos sintomas e alertar para a importância do diagnóstico atempado desta doença, que regista mais de 3.500 novos casos anuais em Portugal.

Maria Alexandra Teodósio eleita nova Reitora da Universidade do Algarve

O Conselho Geral da Universidade do Algarve elegeu Maria Alexandra Teodósio como nova reitora, com 19 votos, numa sessão plenária realizada no Campus de Gambelas. A investigadora e atual vice-reitora, a primeira mulher a liderar a academia algarvia, sucederá a Paulo Águas, devendo a tomada de posse ocorrer a 17 de dezembro, data do 46.º aniversário da instituição

Futuro da hemodiálise em Ponta Delgada por decidir

A Direção Regional da Saúde dos Açores assegura que nenhuma decisão foi tomada sobre o serviço de hemodiálise do Hospital de Ponta Delgada. O esclarecimento surge após uma proposta do BE para ouvir entidades sobre uma eventual externalização do serviço, que foi chumbada. O único objetivo, garante a tutela, será o bem-estar dos utentes.

Crómio surge como aliado no controlo metabólico e cardiovascular em diabéticos

Estudos recentes indicam que o crómio, um mineral obtido através da alimentação, pode ter um papel relevante na modulação do açúcar no sangue e na proteção cardiovascular, especialmente em indivíduos com diabetes tipo 2 ou pré-diabetes. Uma meta-análise publicada na JACC: Advances, que incluiu 64 ensaios clínicos, revela que a suplementação com este oligoelemento está associada a melhorias em parâmetros glicémicos, lipídicos e de pressão arterial, abrindo caminho a novas abordagens nutricionais no combate a estas condições

Alzheimer Portugal debate novos fármacos e caminhos clínicos em conferência anual

A Conferência Anual da Alzheimer Portugal, marcada para 18 de novembro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai centrar-se no percurso que vai “Da Ciência à Clínica”. Especialistas vão analisar os avanços no diagnóstico, novos medicamentos e a articulação entre cuidados de saúde e apoio social, num evento que pretende ser um ponto de encontro para famílias e profissionais

Bayer anuncia redução significativa de marcador renal com finerenona em doentes com diabetes tipo 1

A finerenona reduziu em 25% o marcador urinário RACU em doentes renais com diabetes tipo 1, de acordo com o estudo FINE-ONE. Este é o primeiro fármaco em mais de 30 anos a demonstrar eficácia num ensaio de Fase III para esta condição, oferecendo uma nova esperança terapêutica. A segurança do medicamento manteve o perfil esperado, com a Bayer a preparar-se para avançar com pedidos de aprovação regulatória.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights