Trata-se de um trabalho realizado pelo Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da Universidade de Coimbra, em 64 municípios aderentes da Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis, com o objetivo de proporcionar um quadro de referência da avaliação da saúde de forma integrada, para a definição das estratégias de promoção da saúde e da equidade em saúde.
Na plataforma do Atlas dos Municípios Saudáveis, com base no trabalho do GEGOT, em que foram realizados 11.474 inquéritos, há sinais que constituem um alerta e que exigem uma intervenção multissetorial.
De acordo com os dados recolhidos com base em 94 indicadores previamente definidos, foram avaliadas as características socioeconómicas, estado de saúde, estilos de vida e comportamentos, participação social, condições da habitação, qualidade do meio envolvente, acesso a transportes, serviços, equipamentos e perceção de insegurança por parte dos inquiridos.
Segundo os dados recolhidos e agora disponíveis no Atlas dos municípios Saudáveis, 73% das pessoas inquiridas não praticam exercício físico regularmente, 54% tem excesso de peso ou obesidade, 21% consome diariamente alimentos processados e 15,6% são fumadores.
O documento revela também que 47,1% das pessoas inquiridas admitiram ter dificuldades no pagamento das despesas mensais, situação que também não contribui para a sua saúde e bem-estar.
Na apresentação pública do Atlas, a coordenadora científica do projeto, Paula Santana, referiu também “o exemplo da diabetes, que está a aumentar e é uma das dez principais causas de morte no mundo”.
“Em Portugal, a diabetes já ultrapassou os 14% na população entre os 20 e os 79 anos. E é fundamentalmente visível nas áreas urbanas. Nós podemos dizer que é um problema dos cuidados de saúde, mas não. Cerca de 50% do aumento da diabetes pode ser, de facto, justificada por não ter havido um acesso tempestivo e adequado aos cuidados de saúde, mas há outros 50% que nós temos que justificar com a falta de prevenção e de promoção de uma mudança de comportamentos”, defendeu Paula Santana.
De acordo com a coordenadora científica do projeto, todos estes fatores de risco para a saúde podem ser minimizados através de um conjunto de ações constantes dos municípios para colocarem a saúde no centro das tomadas de decisões políticas, com investimento contínuo na melhoria das condições de vida, e equidade no acesso, dos seus munícipes.
O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, que também marcou presença na apresentação pública do Atlas dos Municípios Saudáveis, reconheceu que há um enorme desafio para consolidar os ganhos em saúde que Portugal registou nas últimas décadas.
“É especialmente verdade que, em alguns países e em Portugal, as condições sociais e económicas continuam a ser um dos determinantes em saúde com maior impacto na vida das pessoas, o que significa que isso interpela os dirigentes e a ação política, para intensificar a correção desses determinantes económicos, que fazem com que as pessoas tenham piores resultados em saúde, em função do local onde vivem ou da sua condição”, disse.
“Precisamos dramaticamente das comunidades para este combate pela saúde dos portugueses, que vai ser ganho pela ação conjunta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e do poder local democrático. Ou não vai ser ganho, porque nós não podemos viver a fazer este trabalho de costas voltadas uns para os outros”, acrescentou Manuel Pizarro.
LUSA/HN
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