Este ano, quarenta e oito por cento dos portugueses disseram que não tinham aderido a nenhum dos rastreios preventivos disponíveis, superando a média global de 42%. O Stada Health Report envolveu 16 países, entre os quais Portugal, e um total de 32 mil participantes. Em Portugal, 38% não sabe quais os rastreios que deverá/poderá fazer, 29% não tem capacidade financeira para suportar os rastreios, 18% acredita que não tem necessidade de os fazer e 11% afirma não ter tempo.
O cancro é a principal preocupação dos portugueses (45%). Entre os rastreios, os oncológicos lideram – foram os mais cumpridos e Portugal ultrapassa, na maioria, a média global. Já as análises clínicas e os rastreios dentários destacam-se pela negativa.
O estudo informa ainda que 94% fariam um teste genético para avaliar os possíveis riscos à sua saúde vs 81% nos restantes países da Europa, e que os portugueses afirmam ser menos dependentes de medicamentos analgésicos (consumo inferior à média dos restantes países da Europa), compram menos online e mais nas farmácias e estão entre os mais conservadores no consumo de vitaminas.
Esta terça-feira, no debate “Saúde geral e preventiva – descentralizar e envolver o cidadão”, integrado na conferência de apresentação dos resultados do relatório, Rosário Zincke dos Reis, Presidente da Plataforma Saúde em Diálogo, pediu que cuidados de saúde primários, hospitais e municípios “encaminhem as pessoas para as associações [de doentes]”. “Porque nós prestamos um serviço complementar, muitas vezes não só a nível da literacia mas até serviços específicos (…), nomeadamente o apoio psicológico, os grupos de suporte… uma série de respostas que nós, associações, temos, e há muitas pessoas que podem não aceder também por falta de conhecimento”, explicou Rosário Zincke dos Reis.
Na mesma mesa, André Biscaia afirmou que “o SNS tem uma série de instrumentos que são muito pouco utilizados” e que “Portugal tem e sempre teve uma cultura de cuidados de saúde primários”.
Para o médico de família e presidente da direção da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, “o Governo está a mostrar agora vontade de mudar com esta grande reforma, que não inclui só as ULS, as Unidades Locais de Saúde”. “É conhecida a nossa posição também em relação às Unidades Locais de Saúde. Havia alternativas melhores”, continuou.
Além dos cuidados de saúde primários, Biscaia realçou também a importância de outros parceiros na comunidade e de uma “visão no global”.
“A parte de atribuir uma equipa de saúde familiar, eventualmente, é daquelas soluções que resolve mais problemas” – “não resolve todos, mas resolve mais problemas”. Portanto, essa deve ser a primeira aposta, segundo o especialista.
No debate, o presidente da Câmara Municipal de Cascais referiu que “é absolutamente fundamental em Portugal juntar aquilo que nós em Cascais chamamos a academia do saber com a academia do fazer”.
“O sistema está feito para ser ineficiente”, “o investimento que se faz só propicia má prestação de serviços”, criticou Carlos Carreiras.
“Nós [em Cascais] temos seguido uma estratégia em variadíssimas áreas que tem a ver com aquilo que nós chamamos a democracia participativa e a democracia colaborativa, portanto, é chamar as pessoas a intervir, chamar as várias entidades a intervirem, ouvi-las, perceber quais são as suas experiências, quais são as suas necessidades”, contou. E prosseguiu: “O que se tem que gerar são movimentos de confiança, acreditando eu que gera-se melhor na proximidade.”
Em Cascais, foi criado um Serviço Local de Saúde e de Solidariedade Social, “que o que fez foi criar pontes de encontro de vários organismos”. Criaram também os cuidados pré-primários, “aproveitando a tecnologia que se vai desenvolvendo”, que dá ao cidadão a segurança de ter um contacto para esclarecer dúvidas em todos os momentos.
Simultaneamente, em Cascais “toda a gente tem direito a medicina familiar”, também devido ao projeto Bata Branca. “Nós, autarquia, passámos a suportar mais de 50% do custo de funcionamento” do Bata Branca, acrescentou o presidente.
HN/RA
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